Marina Silva se reuniu com um grupo de artistas e formadores de opinião na noite desta terça-feira para discutir o atual momento político do país. O encontro aconteceu no Teatro Leblon, no Rio, de forma discreta e sem a presença de jornalistas.
O debate foi organizado pelo ator Marcos Palmeira, um dos criadores do grupo das 10 Medidas contra a corrupção. “Estamos vivendo um momento bastante complexo de que ou você é a favor ou contra. Mas o positivo é que todo mundo está agora falando sobre política. A política entrou na vida das pessoas como futebol”, disse no palco, ao lado de Marina, e preenchendo o lugar de Cristovam Buarque (PPS-DF), que acabou não conseguindo chegar ao evento como era programado.
Palmeira defendeu ainda que a intenção do ato não era oferecer apoio a Marina: “Esse é um ato político, mas não é partidário. Ninguém veio aqui para apoiar a Marina ou a Rede”.
Marina começou seu discurso criticando a polarização que está dividindo a sociedade. “Estamos vivendo um momento muito delicado, não tem como a gente estabelecer verdades. A verdade não está em nenhum de nós. Ela está entre nós”, disse.
A ex-senadora – e um dos nomes cotados para concorrer à Presidência em 2018 – disse ainda que a oposição só vê os erros, enquanto a situação só consegue enxergar os acertos. “Tirar 40 milhões da miséria é um acerto. Mas também existem aqueles que só veem virtudes, mesmo quando os defeitos são evidentes, como o que vinha acontecendo na Petrobras”.
Muito crítica ao governo, Marina defendeu que a crise que estamos enfrentando não é “fruto de um maremoto ou de um terremoto, mas fruto de decisões erradas, dos pontos de vista político e econômico”. Segundo ela, ainda não estamos acostumados a fazer críticas à esquerda.
Declaradamente a favor do impeachment de Dilma, Marina acredita, no entanto, que ele não basta. Ela voltou a pregar que o caminho seja a cassação da chapa e convocação de novas eleições. Nesse caso, o TSE teria que concordar que fundos foram desviados da Petrobras pelo PT para abastecer a campanha de 2014.
“O impeachment é legal, não é golpe, mas não alcança finalidade. A finalidade é que queremos que a Lava Jato continue e que o Brasil seja passado a limpo. (…) E se essa é a nossa finalidade, essa pessoa não é o vice-presidente”. Segundo ela, Dilma e Temer são “face da mesma moeda e irmãos siameses da crise”. “Não consigo entender como um receberá a punição pela cassação e outro receberá a unção e será o bastião da recuperação do Brasil. (…) Por isso tenho advogado a ideia de uma nova eleição com apoio amplo da sociedade”.
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Apesar do evento não ser declaradamente partidário, o ator Marcelo Serrado pediu moderação para a plateia quando perguntas mais ácidas surgiam: “Esse aqui é um debate. Temos que saber a maneira de falar e tomar cuidado para não se inflamar. Ela [Marina] veio de Brasília com toda a gentileza e carinho”, pediu.
Marina Silva falou por quase duas horas e meia, citando Shakespeare, Lacan, Edgar Morin, Freud e Duchamp. Anotava as perguntas dos convidados em um papel, e depois respondia calmamente, uma a uma.
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Thiago Lacerda, Vanessa Lóes, Marco Nanini, Eriberto Leão, Lucinha Lins, Raul Gazolla, Leo Jaime, Alexia Dechamps, Marcelo Serrado, Leandra Leal, Alê Yossef, Nelson Freitas, além de Heloísa Helena e Alessandro Molon, ambos da Rede, estavam entre os presentes.
Ao Glamurama, Marco Nanini disse ser a favor do impeachment. “Sou a favor. Mas gostei muito da explicação da Marina. Acho que temos que mudar a forma de pensar. Estamos muito viciados em uma política antiga. É preciso ter uma renovação”.
Já Thiago Lacerda não quis comentar seu posicionamento: “Não é hora de falar disso. Viemos para ouvir a Marina, ninguém aqui quer fazer política. Vim para ouvir o que ela tem a dizer. Acredito que a Marina representa uma nova maneira de se pensar a política no país”.
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Ao final do debate, Marina conversou com o Glamurama.
Glamurama – A senhora tem grandes chances de se eleger em 2018, de acordo com as últimas pesquisas. A que se deve esse resultado?
Marina Silva – Sempre digo que as pesquisas são o registro de um momento. Tanto é que você nunca vai ver nas minhas redes sociais eu postando pesquisas. Não é o momento de ficar pensando nas próximas eleições, mas sim de pensar em uma saída que de fato possa dar um caminho para a nação, que está indo cada vez mais para esse poço sem fundo. Eu defendo a ideia de novas eleições. Defendo por entender que é o melhor para o Brasil e não é em função de uma agenda eleitoral. É porque tem que ter uma repactuação. A Dilma e o Temer praticaram juntos as ações que nos levaram a essa crise. O impeachment não é golpe, mas não alcança a finalidade de ajudar a tirar o país da crise.
Glamurama – E caso não haja novas eleições e tenhamos mais dois anos e meio de governo Temer, ainda assim a senhora acha preferível o impeachment de Dilma?
Marina Silva – A minha posição pelo impeachment foi pela admissibilidade e é pela admissibilidade, porque tem base legal. É crime de responsabilidade. Mas pelas mesmas razões o Temer deve ser impichado também.
Glamurama – A sua decepção é com o PT ou com a esquerda em geral?
Marina SIlva – Não acho que se deva em dizer que foi com a esquerda em geral. Não foi a esquerda em geral que cometeu esses erros, nem foi o PT em geral. Foram pessoas importantes e estratégicas que cometeram erros e há uma crise da política, dessa estagnação política que está colocada aí, que tem a ver com essa lógica em que os partidos não discutem projetos de país, discutem projetos de poder. Acho que essa crise deve ensinar para todos nós. Não é projeto de eleição, é projeto de nação. Não é projeto de poder, é projeto de país.
(Por Denise Meira do Amaral)