Mariana Ximenes na revista J.P: de Piaf a Dietrich para arrasar na TV

por Paulo Sampaio para a revista Joyce Pascowitch

Ute Lemper é uma estrela alemã über refinada, que mora em Nova York, gosta de cantar músicas francesas do tipo chanson, dança, recita, grita e tem um repertório cheio de remissões a divas como Marlene Dietrich e Edith Piaf, além de Pablo Neruda e Kurt Weill. Mariana Ximenes adora Ute. Foi no climão de cabaré reeditado pela alemã em alguns dos seus espetáculos mais bombados que a nossa deusa (agora) loura buscou referências para compor Aurora, a dançarina que interpreta na novela de época “Joia Rara”. “Queria cantar como ela”, diz Mariana, com os olhinhos azuis brilhando de admiração.

Na véspera da sessão de fotos, foi ao ar uma cena muito anunciada da novela, na qual Aurora surge em um palco pouco iluminado, descendo de um balanço, coberta por uma saia e um top preto muito burlesco, cheio de brilhos, cantando “Fever”. Um show. “Essa é a proposta da Amora, fazer cena como se fosse teatro mesmo. Tivemos uma reunião com todo mundo da produção, iluminador, figurinista, chefe de caracterização, coreógrafo, diretora de arte e de efeitos especiais para discutir como seria.” Amora, não Aurora, é a diretora da novela. Amora Mautner. “Mariana é uma atriz aplicada e dedicada. Sua Aurora era nossa aposta e ela está correspondendo muito bem”, afirma ela. A figurinista Marie Salles diz que é um prazer trabalhar com Mariana. “Criar o guarda-roupa de Aurora é um divertimento para nós duas. Ela tem um corpo em que tudo fica bom, isso ajuda a compor uma personagem.” O número da cena tem influência ainda de Pina Bausch, Gwen Verdon, Madonna e Beyoncé.

Nutricionismo
Mariana Ximenes é uma moça cultivada. Quando você, espectador, a assiste no teatro, TV ou cinema pode estar certo que o personagem foi amparado por muita pesquisa. Entenda-se por pesquisa não só a busca de documentação, o estudo do personagem e o laboratório no ambiente real que o inspirou. “Tudo te nutre. Uma viagem bacana, uma exposição interessante, uma poesia”, acredita ela. Quando não é suficiente, Mariana frequenta como ouvinte cursos como o de filosofia e o de geologia da USP. “Ando sempre com três livros por terminar. Adoro os contos do Murakami (Haruki Murakami é um escritor japonês conhecido pelas abordagens surrealista e mágico realista).” Imagine agora esse ser muito estudado, chegando no estúdio em um trench coat laranja Burberry, calça de alfaiataria slim escura, camisa de seda com um nó na cintura e sapato Chanel de saltinho. Show de novo. “Tudo bem?”, diz, com uma suavidade que só faz agregar star quality ao ser pensante.

E como é que uma mulher assim, linda, bem vestida, culturalmente lapidada e admirada faz para não virar hashtag do mal nas redes sociais? “Tive problema com pessoas que se passaram por mim, criando perfis falsos, e postavam coisas obscenas [ela não diz o quê, evitando que a conversa vá para esse lado]. Já até tive página nas mídias sociais, mas não arranjava tempo para abastecer. Agora, estou reativando meus perfis. Vou entrar em todas as redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter). Senti necessidade de retomar, me comunicar com as pessoas.”

Glória e Tarcísio
Ela afirma que a linha que divide o público e o privado na vida de quem se expõe muito é tênue. “Você precisa de bom senso para saber até onde pode ir nas redes sociais. Tem assuntos só meus, eu não divido nem com os meus amigos.” E o ator não é como o político, acha Mariana, que lida com a coisa pública, com o dinheiro dos outros. Ok, corta. Pode dizer se está namorando? Pode. Não está. E aí começa uma pequena preleção sobre o amor e como ele prevalece em relacionamentos longos. Cita os atores Glória Menezes e Tarcísio Meira, que recentemente fizeram bodas de ouro. “Estive na cerimônia, fiquei muito comovida. Um casal pode ter desavenças, eles mesmos contam que em determinada época estiveram próximos de um rompimento, mas o amor supera tudo.” E isso, diz ela, tem a ver com lealdade. “A gente pode até ver o significado da palavra ‘leal’ no dicionário….”

O assessor da atriz faz a pesquisa no Google. “Digno, honesto, franco, sincero”, diz o dicionário. Mariana, que foi casada durante oito anos com o empresário Pedro Buarque de Hollanda, diretor da produtora Conspiração Filmes, acredita que as redes sociais aceleraram as aproximações, mas não as aprofundaram. “As pessoas conhecem muita gente, só que é difícil criar vínculo.” A “queixa” parece especialmente alentadora vindo de uma estrela de 32 anos. Sinal de que não somos só nós, os humanos, reclamando.

Sexo e Felicidade
Sexualmente, ela é a favor da felicidade. “Não tem regra.” Com “um milhão de amigos gays”, Mariana acredita que “ser feliz é algo que dá trabalho para todo mundo. Para os héteros, inclusive”. No filme “O Uivo da Gaita”, inédito, ela faz uma mulher casada que se apaixona por outra (Leandra Leal). Na vida real, desperta a fantasia da relação a três, particularmente em uma parcela moderninha de seu fã-clube masculino. Tudo começou na primeira vez em que ela beijou outra mulher na telona, em “O Invasor”. Depois, virou voz corrente entre um grupo de “insiders” que ela andava saindo com mulheres. O legal na conversa com Mariana é ir experimentando (para usar um termo que ela gosta) assuntos, testando suas reações. E a coisa pode ir longe. Ela mesma diz : “Não gosto de bater papo. Gosto de conversar”. Curte ouvir música? Adora. Paulinho da Viola, Cartola, Gil, Caetano, Gal, Piazzolla, Smiths, Nirvana, “adoro Nirvana”. E viajar? Outra seleção de lugares aparentemente díspares. Amou a Serra da Bocaína, “um lugar especial”. “Berlim eu amo!” E, claro, Paris, Londres, Nova York. Em seu experimentalismo, já passou o aniversário nas Ilhas Cagarras, arquipélago em frente à praia de Ipanema. Gosta de comer? Claro. Tudo? Sim. Brigadeiro? Evidente!

Fica mais fácil entender por que Mariana é simpática aos relacionamentos sólidos quando ela fala da parte nordestina de sua família. Ela lembra das férias na casa de vovó Maria do Carmo, no Ceará, onde tem primos a perder a conta. Dona Maria é mãe de sua mãe e de mais 14 filhos. Ela, Mariana, sempre voltava trazendo um Tapeware de paçoca de carne-seca. “Aquilo vinha fedendo no avião, mas eu amava.” Essa mesma moça, que garante aos ignorantes no estúdio que farofa de bunda de tanajura é delicioso, agora recebe uma Ute Lemper de frente, enquanto posa para a capa da revista. High low total.

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Fotos Paulo Vainer
Styling Thiago Ferraz
Beleza Diego Américo/Amuse-Ment/Capa Mgt

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