Marco Pigossi, matador de aluguel no cinema e série australiana na Netflix: “não gosto de jogar seguro”

Marco Pigossi em evento de divulgação do filme “O Nome da Morte” em São Paulo || Créditos: Glamurama

Marco Pigossi define o caso verídico do matador de aluguel que interpreta no cinema em “O Nome da Morte”, que entra em cartaz na esta semana, como “indefensável”. Se preparar para viver Julio Santana, que confessou 492 assassinatos, foi para o ator um processo de “desconstrução de sentimentos, de conceitos morais e sociais”. O jovem de família pobre e religiosa, dedicado e carinhoso, que se tornou um assassino frio, Santana representa muitos outros casos no Brasil. Pode ser um vizinho, um parente, quem sabe… Para o ator, que teve contato próximo com o caso, visualmente é impossível identificar esse tipo de assassino em série.  “Somos todos iguais até que as experiências sejam diferentes, mas você pode reconhecer uma pessoa que não teve nenhum acesso à cultura e à educação, e que por não ter uma compreensão individual de mundo é altamente manipulável”, explica, em entrevista exclusiva ao Glamurama.

Pigossi avança com o discurso: “É  muito fácil pegar uma pessoa frágil e transformá-la no que você quiser. É daí que vem essa brincadeira de ‘tradicional família brasileira’, por exemplo, usada para falar coisas absurdas. É uma massa de manobra.”

Marco Pigossi como o matador de aluguel Julio Santana em “O Nome da Morte” || Créditos: Divulgação

Sob este ponto de vista, para o ator o filme pode fazer mais pelo país do que só entreter. “Ele traz a denúncia de um país esquecido e de como as pessoas se tornam manipuláveis sem cultura e educação. Quem matou Marielle [Franco], no Rio, por exemplo? Aquilo claramente foi um serviço de pistolagem. No Brasil, a violência é praticada em todos os lugares, infelizmente. Com o Julio, nada justifica mas compreende-se porque tudo aconteceu.”

O que ele diria ao matador, se pudesse? “Eu diria: ‘cara, sinto muito pela sua história. Sinto muito que tudo isso tenha acontecido porque é muito triste. Não gostaria que nada disso tivesse acontecido, nem com você, nem com todas as vítimas.”

Outro ponto do longa que nos chama a atenção é o cenário em que ele se passa, o tal “Brasil sem lei”, explorado recentemente na TV com a supersérie “Onde Nascem os Fortes”, que também contou com Pigossi em seu elenco. Sobre a imersão nestas regiões inóspitas, ele falou: “É muito interessante não só entender aquele lugar mas fazer parte dele. São lugares em que você só precisa existir dentro deles, de tão fortes e brutos que são. Tudo isso ajuda a contar a história.”

Os irmãos gêmeos Nonato ( Marco Pigossi ) e Maria ( Alice Wegmann ) em “Onde Nascem os Fortes” || Créditos: Divulgação

Versátil e sempre em busca de novos desafios, Marco Pigossi fechou em junho contrato com a Netflix. O convite, conta o ator, pintou logo após a plataforma saber que a Globo não havia renovado seu contrato. Nesta nova fase de sua carreira, ele vai protagonizar logo de cara de duas séries: “Tidelands”, drama policial sobrenatural e primeira série original australiana da Netflix, e “Cidades Invisíveis”, um projeto de Carlos Saldanha que será produzida no fim deste ano e retratará um submundo habitado por criaturas míticas que evoluíram de uma linhagem do folclore brasileiro. “Está sendo muito legal essa parceria com a Netflix. O desafio de filmar com equipes de diferentes países é incrível  e assim como a oportunidade de poder ter seu trabalho visto em todo o mundo”, comemora o ator de 29 anos.

Abaixo, bate-bola para conhecer melhor Marco Pigossi.

Que horas seu despertador toca? “Quando não estou trabalhando às 8 da manhã, e quando estou às 3h30 da madrugada porque o cinema começa às 5h.”
O que você come no café da manhã? “Pão integral com queijo branco e café preto (muito) – meu café da manhã é tão chato, eu engulo.”
Qual é seu drink preferido? “Cerveja.”
Qual é seu maior crush do cinema?“Tenho crush por talento, então Meryl Streep e Al Pacino.”
Livro de cabeceira: “‘Livro do Desassossego’, de Fernando Pessoa.”
Frase/filosofia de vida: “A arte é uma confissão de que a vida não basta”, do ‘Livro do Desassossego’. Por isso eu sou ator, para viver coisas que não viveria jamais na minha própria vida.”
Tênis ou sapato: “Bota”
As melhores férias: “Espanha”
Série favorita: “Sou maluco por séries, vejo muitas. Mas favorita atualmente é uma versão italiana de ‘House of Cards’, também da Netflix, que se chama ‘Suburra: Sangue em Roma’. Ela foge um pouco da coisa americana, e é baseada em um livro do qual o autor está foragido de Roma, porque ele fala da máfia do Vaticano e de corrupção. E também citaria ‘Westworld’, que é brilhante.”
Maratona de séries ou um episódio por vez? “Maratona. Pelo menos três episódios de uma vez. Se tiver tempo de ver só um nem vejo porque me perco.”
Algo te irrita nos sets? “Nada, sou tão easy, especialmente no set. Amo estar lá, é meu lugar favorito no mundo.”
Qualidade fundamental em uma pessoa: “Independência.”
Adjetivo que mais combina com você: “Honesto.”
Qual seu passatempo favorito? “Moto.”
Qual sua ideia de felicidade? “Continuar nesse meu movimento de sempre explorar e buscar novos desafios, no sentido de não ficar parado no mesmo lugar. Não gosto de jogar seguro, gosto de estar sempre arriscando e procurando. Sou meio inquieto, é isso o que me movimenta.”
Onde gostaria de morar? “Adoro morar em São Paulo, amo essa cidade.”
Quem são seus escritores favoritos? “José Saramago e Guimarães Rosa.”
Quem é seu herói favorito da ficção? “Riobaldo, de ‘Grande Sertão Veredas’, de Guimarães Rosa.”
Que talento você queria ter ou tem – além de atuar? “Tocar algum instrumento. Minha maior frustração é não saber tocar nada. Já tentei mas não tenho o menor talento.”(Por Julia Moura)

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