Malvino Salvador, sócio da mulher: “Só vai caber se der lucro. Já fui contador, sabia?”

Kyra Gracie e Malvino Salvador com a filha mais velha, Ayra || Créditos: Divulgação

Malvino Salvador e a mulher, Kyra Gracie, viraram sócios. Eles acabaram de abrir uma academia de jiu-jitsu, a Gracie Kore, que é focada em defesa pessoal, na Barra da Tijuca, no Rio. O casal conversou com o Glamurama sobre quem faz o que no negócio: ela foi buscar uma metodologia que resgatasse os valores originais da luta, ele é o homem do dinheiro. “Antes de ser ator, fui contador, sabia? Trabalhei em dois bancos e na secretaria da Fazenda do estado do Amazonas. Tem coisas que ela tem desejo de fazer e eu digo: só vai caber se der lucro”. Malvino é faixa roxa e confessa como ganha da mulher, faixa preta, professora: “Às vezes eu tenho que ganhar dela na grosseria, ela me ganha na técnica [risos]”. Já Kyra entrega: “Eu dou uma aliviada com ele no tatame, né?”.

Sobre a importância desse esporte para o público feminino, ele diz: “A gente sabe que é um sexo mais frágil mesmo, e o jiu-jitsu é uma luta na qual o mais fraco consegue vencer o mais forte, com técnica. Muito bacana mostrar que a mulher é capaz de enfrentar, reagir a um assédio no trabalho de forma íntegra”. Na entrevista, ele também conta por que aconselhou Kyra a não entrar para o UFC: “Se for só por grana, aí minha opinião é que não deve entrar nessa. Vai estar ausente aqui em casa e a gente não vai poder dar tanto apoio”. Vem saber a opinião dela e outras empreitadas do ator aqui embaixo! (por Michelle Licory)

Glamurama: Por que chegou a hora de começar uma sociedade, de estender a parceria de vida também para os negócios?

Kyra Gracie: “Ter uma academia sempre foi uma vontade que eu tinha, mas a maternidade me fez focar em continuar o legado da minha família e poder transmitir para minhas filha e para os nossos alunos todos os benefícios do jiu-jitsu”.

Malvino Salvador: “A Kyra já tinha falado sobre esse sonho e eu comecei a incentiva-la. Ela então foi preparar a metodologia dela, resgatar alguns valores esquecidos do jiu-jitsu, baseados na primeira academia Gracie, que era focada em defesa pessoal, e tinha também todo o conceito filosófico do jiu-jtsu, algo muito maior que apenas exercício físico. Tem a ver com comportamento, autoestima, equilíbrio emocional, saúde física e mental. Corpo, mente e espírito. Foram dois anos de estudo e preparação para criar essa metodologia, que contempla desde uma criança de três anos até um senhor, com a ajuda de uma psicopedagoga. Enquanto ela trabalhava na metodologia, começamos a pensar em como seria esse espaço, que precisava refletir esse conceito”.

Kyra Gracie: “O objetivo é ter um foco na defesa pessoal além do jiu-jitsu esportivo. Nosso programa de aulas é o mesmo aplicado na academia Gracie na década de 50, com as primeiras gerações da família Gracie. Tradição com inovação buscando o que há de mais novo em pedagogia e psicologia aplicada aos esportes de luta”.

Glamurama: Quando o assunto é trabalhar com o marido/ a mulher, as opiniões são sempre arrebatadas. Quais são os prós e contras na sua opinião?

Malvino Salvador: “Engraçado que isso não acontece com a gente. A gente se respeita muito. Tenta convencer o outro, mas estamos sempre abertos a mudar de opinião também. Tem sido assim em todos os assuntos desde que a gente conhece: casa, trabalho, família, filhos, alimentação. Não há choque. Cada um tem sua função, e quando acontece um questionamento, depois de discutir, a gente toma uma decisão em conjunto. A gente tem uma personalidade parecida. Nós somos muito calmos até”.

Kyra Gracie: “Acho que a nossa sinergia como casal influenciou muito na concretização do projeto. Nossos princípios, estilo de vida e ideais são praticamente iguais. Então, nossas sugestões para a Gracie Kore se completam. É uma grande experiência porque estamos conhecendo um ao outro de um ângulo diferente”.

Glamurama: Existe uma divisão clara de “tarefas”?

Malvino Salvador: “Essa divisão aconteceu naturalmente, sem imposição. Na academia, a Kyra é que toca o dia a dia. Eu tenho uma visão legal de estética, design, então o clima da academia tem um pouco mais da minha influência, mas algo que ela gosta e se sente bem. A gente aproveita as habilidades de cada um. Antes de ser ator, fui contador, sabia? Trabalhei em dois bancos e na secretaria da Fazenda do estado do Amazonas. Sou muito bom na parte financeira. E já sou sócio de outras empresas também. Tenho um pouco mais de expertise nisso. E sei que conta. Tem coisas que ela tem desejo de fazer e eu digo: só vai caber se der lucro. Se não, a ideia pode ser muito boa, mas não funciona. Se você quer fazer algo só pelo conceito, tem que ter outra que supere e cubra aquele prejuízo. Qualquer negócio que montar, precisa de uma pesquisa profunda pra saber se aquilo se sustenta”.

Glamurama: Malvino já tinha investido em algum outro negócio no passado? E Kyra?

Kyra Gracie: “Tenho um aplicativo chamado GracieApp – que orienta as pessoas que querem seguir a alimentação Gracie. Além disso, eu também já administrei algumas academias da família junto com a minha mãe”.

Malvino Salvador: “Eu tenho uma cervejaria artesanal, a Irada, há quatro anos, com alguns amigos. Desenvolvemos mochilas térmicas para vender chope artesanal nas praias do Rio, depois passamos a engarrafar cerveja. Está disponível aqui no Rio, por enquanto, em bares e supermercados bacanas. Além disso, vendi agora uma marca de restaurante em São Paulo, o Barê, nos Jardins. Fomos incorporados a um grupo maior e vamos abrir um novo negócio no mesmo local, com possibilidade de projeção maior. Também comecei uma parceria em uma marca nova de vestuário focada em roupa para luta, a FMA. Nessa primeira coleção, a gente tem uma estampa que faz referência ao Rocky Balboa, outra que tem o Elvis Presley com luva de boxe e a frase ‘Can You Dance?’… Roupa de luta não precisa só ser com aquelas letras espalhafatosas. Não queremos prostituir a marca, então estamos começando devagar, deixando ela evoluir aos poucos. A gente já vende por atacado e na lojinha da academia. Sou meio inquieto. Desde sempre. Me inspiro quando realizo coisas, gosto de participar de processos criativos. Como artista, a criação me satisfaz muito. E sinto muito prazer ao ver uma ideia se concretizar”.

Glamurama: Qual o diferencial dessa academia?

Kyra Gracie: “Ao longo dos anos, conheci muitas meninas que se incomodavam em treinar só com homens, algumas até desistiam do esporte por conta disso, acabavam ficando intimidadas. Então eu entendi que o diferencial da minha academia seria oferecer um ambiente totalmente diferente do que elas estavam acostumadas, um ambiente mais bonito, mais organizado, com serviços diferentes, como a lavagem do kimono, e aulas especiais para as crianças, como a de psicomotricidade, por exemplo [que começa com alunos ainda bebês]”.

Malvino Salvador: “A Kyra é uma desbravadora. Pentacampeã, já dava aula há muitos anos em Nova York. Na Gracie Kore, o professor nunca está sozinho. Tem sempre dois monitores, oriundos de projetos sociais tocados pela Kyra. Além disso, buscamos parceiros com consciência socio-ambiental. O café da academia, por exemplo, só tem produtos orgânicos”.

Glamurama : Kyra, o que acha de Malvino como lutador? Malvino, o que você mais admira na Kyra como atleta? Ela é faixa preta… Da pra treinar junto? Ela da uma aliviada?

Malvino Salvador: “Ela é fera. Quando fazemos um treino juntos, é puxado. Mas eu também sou competitivo… Não dou mole, não. Ela tem muito mais técnica, mas eu tenho muito mais força. Sou faixa roxa, competia em Manaus, não sou leigo. Tenho anos de treino. É uma luta parelha, uma boa luta. Só que às vezes eu tenho que ganhar dela na grosseria, ela me ganha na técnica [risos]”.

Kyra Gracie: “Acho que se o Malvino não fosse ator, poderia ser lutador. Ele foi atleta de natação, até chegou a competir no jiu-jitsu quando morava em Manaus e voltou a treinar quando me conheceu. Então, ele está no caminho certo. Acredito que, em um futuro próximo, ele vai conquistar a faixa preta. Dá pra treinar junto, sim. Mas eu dou uma aliviada com ele no tatame, né?”

Malvino Salvador, Kyra Gracie e as filhas Ayra e Kyara || Créditos: Divulgação

Glamurama: As filhas de vocês [de 1 e 3 anos] já estão de quimono, brincando no tatame. Que valores acham importante passar pra elas através do esporte? E que bacana, nesse mundo ainda um tanto machista, ter uma mãe campeã de uma modalidade ainda dominada por homens… Como vocês têm duas meninas, essa questão também é tratada?

Malvino Salvador: “A gente sabe que mulher é um sexo mais frágil mesmo, e o jiu-jitsu é uma luta na qual o mais fraco consegue vencer o mais forte, com técnica. Muito bacana mostrar que a mulher é capaz de enfrentar, reagir a um assédio no trabalho de forma íntegra. Na academia, a gente tem uma parceria com a CarioKids, essa empresa de psicomotricidade que começa com alunos bebês… E vamos inserindo gradativamente o jiu-jitsu, até chegar nos 3 anos da criança. E aí não é uma aula de posição de luta. É lúdica, de brincadeiras, jogos. Tudo para ensinar primeiro a ter ordem, respeito com o outro, saber lidar com vitória e derrota e se preparar para os desafios que a vida vai impor… Ter uma reação positiva para as dificuldades que apareçam na vida. A gente passa para as nossas filhas uma consciência de que são mulheres e podem, sim, se defender, ter uma postura firme diante de tudo que possa aparecer. Para a nossa filha de 1 ano e pouco, a gente já explica que se ela não gostar de algo, pode pedir para parar, sem reagir de uma forma ruim, sem bater. Isso pode evitar o bullying, por exemplo. Se a criança se posiciona logo no começo, se ela sabe se impor contra aquela provocação, esse bullying não evolui. A gente ensina esse jiu-jitsu verbal também, ensina a se defender sem precisar ir para um confronto físico”.

Kyra Gracie: “As nossas filhas são criadas dentro do tatame, né? Eu quero que elas sejam meninas do bem, que elas aprendam a ter respeito, coragem, a controlar as emoções e todos os valores inerentes ao esporte, que elas vão levar para outras esferas da vida”.

Glamurama: Em uma entrevista para o canal Combate, Malvino, respondendo sobre a possibilidade de Kyra investir no MMA, disse: “Não deixei, não. Ia voltar com nariz machucado”. E depois explicou que Kyra teria que abrir mão de muita coisa, da carreira de apresentadora, do tempo com as pequenas. Malvino ficou preocupado? Kyra desistiu definitivamente? Esses argumentos de Malvino pesaram na decisão?

Malvino Salvador: “A Kyra vinha falando, sim, que queria fazer isso. Só que a gente foi pego de surpresa e tivemos uma filha. Ela ficou então praticamente dois anos sem treinar. Depois veio essa questão de novo, e ela engravidou a segunda vez. Então chegou uma última proposta do UFC, a gente já com duas filhas, e foi quando ela me questionou sobre a possibilidade de lutar MMA. Eu disse que era uma decisão dela. Mas… ‘Posso dizer o que eu acho. Você tem uma vida indo muito bem como comentarista, apresentadora, com projeto de ter sua academia, tem seu tempo dedicado à família…’ A vida de atleta sei muito bem como é: seis horas de treinamento por dia, muito regrada… Falei: ‘Se estiver com muita vontade de fazer, faça. Aí não tem jeito, se tiver te mexendo por dentro, uma etapa que você acha que tem que concluir, aí vou te apoiar. Se for só por grana, aí minha opinião é que não deve entrar nessa. Não vai fazer bem nem uma coisa, nem outra. Vai estar ausente aqui em casa e a gente não vai poder te dar tanto apoio. E você não vai estar completamente inteira lá, pra ser uma grande campeã’. E disse que ela não tem mais que provar nada pra ninguém… Ela pensou, conversou com os pais, os tios, ponderou e viu que seria muito mais uma questão de projeção que o UFC poderia dar… Aí disse: ‘Ah, então não vai, vamos focar na academia, você vai ter mais tempo para estar com as crianças’ . Acho que ela tomou a melhor das decisões. Para ir para o MMA, precisaria de um ano de preparação de luta em pé porque o forte dela é o chão. Pra ela chegar no nível de uma grande campeã de MMA, demoraria de uns três a cinco anos. Expliquei muito bem pra ela isso, e ela sabe…”

Kyra Gracie: “Eu gosto muito do estilo de vida que eu levo hoje, dando aulas de jiu-jítsu. De alguma maneira, eu sempre estou muito conectada com a minha essência. Eu sinto falta da adrenalina da competição, mas temos que saber lidar com isso, né? Acho que saber o tempo de parar é muito importante. Acho que eu parei na hora certa e não existe a menor possibilidade de eu voltar a competir. O Malvino me incentiva muito em tudo que faço e a decisão de parar partiu de mim e ele me apoiou”.

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