Claudio Manoel está cada vez mais longe da TV e mais perto do cinema. Um dos integrantes do lendário “Casseta & Planeta” está prestes a estrear diversos documentários este ano. O primeiro é “Tá rindo de quê”, coprodução da GloboNews e Globo Filmes, dirigido por ele ao lado de Álvaro Campos e Alê Braga que vai mostrar como o humor driblava a censura durante a ditadura em nosso país. Já “Rindo à toa” é uma continuação e aborda a comédia depois da reabertura política até os anos 2000. A ideia do comediante ainda é trabalhar em um terceiro filme sobre o tema, que não tem data e nem roteiro definidos.
Além disso, ele dirige junto com Micael Langer o documentário “Chacrinha – eu não vim para explicar, eu vim para confundir” e é um dos diretores do documentário de sucesso “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”, lançado em 2009. Claudio, que ao longo de 20 anos foi sucesso na televisão, bateu um longo papo com o Glamurama e soltou o verbo para falar sobre política, censura, novos formatos de humor e tudo mais, como não poderia deixar de ser. (por Paula Barros)
Vida nova!
Para falar sobre cinema, sua principal atividade no momento, Claudio conta sobre o que vem por aí. Primeiro, ‘Tá rindo de quê” faz parte do que será uma trilogia cinematográfica no futuro. A trama passa em um ambiente de restrição de Estado, entre os anos de 1964 e vai até 1984. Já a história de “Rindo à toa”, segundo documentário, mostra o período a seguir com maior liberdade de criação na comédia: “Produzimos ao mesmo tempo porque alguns dos retratados pertencem aos dois mundos. A ideia é mostrar o humor que não era necessariamente relacionado com o ambiente político, mas com grandes nomes no auge do seu poder, entre eles, Jô Soares, Dercy Gonçalves e um casting que faz parte da história da comédia nacional produzindo no máximo da sua capacidade e com pouco recurso, pessoas sem amarras”, conta Claudio, que completa: “Nos dias atuais, isso seria incorreto. Era o máximo da liberdade, o que é difícil acontecer de novo. Hoje os controles são de algoritmos, antes você só sentia as pessoas. Os feedbacks eram de carta no correio, demorava um mês para chegar e você não lia.”
Assista abaixo o trailer de “Tá rindo de quê?”.
Na pele
Claudio faz parte da turma que usou humor como ferramenta de posicionamento político e viveu a censura na pele. Por isso, Glamurama quis saber como ele se sente com a tensão de uma possível volta do controle de criação: “Acho que do mesmo jeito que o governo de esquerda não alterou a vida das pessoas, agora não vai mudar. Eu mesmo fui levar documento para o Lula e mostrar o controle social da mídia quando ele governava. Existem conservadores dos dois lados, é cedo para pavores e pânicos. Não tivemos tantos ganhos nos últimos tempos, uma pessoa que leva três horas para chegar no trabalho está muito mais perto da escravidão do que da democracia. Estamos muito assustados com alguém que parece assustador, tosco e enfim, mas já tive essa sensação umas duas ou três vezes. Não começou agora.”
Fazer rir em 2019
“Mudaram as plataformas e os tempos. Quando paramos o “Casseta & Planeta”, em 2012, fazíamos episódio por episódio. Hoje, quando você produz por temporadas, abre mão da factualidade. O programa de véspera que a gente amava, atualmente é feito em segundos, é outro convívio com mídia. O programa da Tata (Werneck), por exemplo, é muito legal e diz muito sobre a TV atual. O Casseta ficou famoso primeiro nos jornais e na boca das pessoas e só depois fomos para a Globo.”
Likes e deslikes
Ativo nas redes sociais, Claudio Manoel frequentemente usa das ferramentas para se posicionar profissionalmente e politicamente. “Uso como cidadão, dependendo do assunto não me posiciono, mas o Brasil dá motivo pra caramba. Tivemos uma sequência de Brumadinho, enchentes, o incêndio no Flamengo… se não falar nada parece que você fica alienado e falar sobre tudo parece ser hipócrita demais. As militâncias em geral tendem a ser movidas mais por indignações e raivas do que por motivos mais leves, e isso cansa. Nada mais perigoso do que um pouco de whisky e 140 caracteres. Se ficar só na reclamação e no amargor, a única coisa que vai mudar é a saúde do fígado. Bons planos, amigos e programas legais aliviam. Hoje somos o país do homicídio. Pra gente não ficar só nisso a gente vai pra Portugal.”
Tchau, Brasil!
Peraí, então já pensou em morar fora do Brasil? “Sim, mas não Portugal porque lá engorda muito e esgota muito rápido. Ser estrangeiro é difícil pra caramba, é um aumento enorme da sua ignorância. As pessoas comem mais arroz com feijão em Nova York do que aqui. Mas essa é uma situação lamentável. Primeiro saíram os mais ricos e agora foi a galera que precisa lutar.”
Chacrinha e Simonal, os caras!
Ao lado de Micael Langer, Claudio produziu o longa “Chacrinha – eu não vim para explicar, eu vim para confundir” que chega cheio de expectativas, mas ainda sem data para estreia. “O filme é assinado e tem uma presença autoral nossa. É um personagem dos melhores e se ele mesmo poderia contar de várias formas sua vida, eu mais ainda. Usamos partes documentais da vida dele, não tem ficção. Mas é muito difícil, pois ainda temos que lidar com um tataraneto que está tentando ganhar um dinheiro. Isso só acontece aqui, as legalizações no Brasil são quase feitas para você desistir. Chacrinha é um cara muito anarquista e fazia a TV colorida ainda quando era em preto e branco”, conta.
Claudio também se destacou na mercado cinematográfico como um dos diretores do documentário de sucesso “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”, lançado em 2009. “Escolhi o Simonal porque ninguém tinha escolhido e isso foi a primeira coisa que pensei. Era o maior artista do Brasil, nem Roberto Carlos fazia show em estádio e ainda tinha toda a história da queda dele, algo que nunca havia sido falado. Mas claro que foi muito burocrático e tive que bancar, encarei como abrir minha lojinha. Bati com a cabeça na parede, mas quando saiu vi que foi uma das melhores coisas que eu fiz na vida.”
Da TV para a vida
Na televisão, ao lado dos amigos do “Casseta & Planeta”, Claudio Manoel conquistou o público e relata o carinho que guarda dos personagens que interpretou: “Seu Creysson por uma razão que vai além do sucesso, já que foi uma experiência de criação. Era totalmente trash, mas as pessoas o levaram à vida real. Quando ele foi ‘candidato à presidência’, levamos o comício para Praça da República. O público sabe mais do nome do personagem do que do meu”. E o outro? “O Maçaranduba, ele tinha o bordão ‘vou dar porrada’. Era bem boçal, mas com a dúvida da masculinidade, foi um p¨&% sucesso para dar uma sacaneada na galera ‘pitbull’.”
Claudio aproveitou para resumir seus 20 anos no programa “Casseta & Planeta”: “É uma história da televisão no horário nobre, fomos o programa de maior audiência da Globo e com longevidade em um ambiente competitivo. Fizemos história e a nossa parte. Está ai pra todo mundo ver.”