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‘A Vegetariana’, de Han Kang / Crédito: Divulgação

Em 2007, Han Kang lançou ‘A Vegetariana’, um livro que, apesar de bem recebido pela crítica, não chamou tanto a atenção do público. O motivo? A história era considerada ‘bizarra’ e ‘obscura’. Esse cenário, no entanto, mudou em 2016, quando Han Kang se tornou a primeira sul-coreana a vencer o Man Booker Prize, uma das mais prestigiadas premiações literárias, e ‘A Vegetariana’ se tornou orgulho nacional.

Com uma grande procura e a história traduzida para diversos países, o livro passou pela primeira polêmica.  O problema é que, ao lerem a versão traduzida para o inglês, os críticos sul-coreanos perceberam que a tradutora Deborah Smith havia interferido significativamente no conteúdo, como se tivesse reescrito. Aqui no Brasil, a obra chegou pela editora Todavia, em 2018, e foi traduzida para o português pelo sul-coreano Jae Hyung Wo, o que fez com que se tornasse fiel à original. Por isso, uma dica: não leia em inglês!

‘A Vegetariana’ conta a história de Yeonghye por três pontos de vista diferentes: do marido, da irmã e do cunhado. A protagonista passa a ter pesadelos e decide parar de comer carne, o que desperta revolta na família. A partir dessa decisão, a trama se desenvolve. Em um primeiro momento, acompanhamos sua relação com o marido, um cara frio que só se importa consigo mesmo.

Incomodado com a autonomia da mulher, que sempre pareceu uma mulher frágil, ele busca intervenção da família. Fica evidente que o marido enxergava Yeonghye apenas como uma serva.

É importante dizer que o vegetarianismo é apenas o ‘turning point’ da personagem, que de repente decide se impor. A intervenção familiar acontece de forma emocional a partir da mãe, que oferece à jovem todos os seus pratos preferidos (e cheios de carne). Em seguida, o pai age de maneira violenta, fazendo com que Yeonghye coma à força. É assim que descobrimos então que atitudes abusivas acontecem na vida da protagonista desde a infância.

O cunhado mostra uma versão sexualizada de Yeonghye. Fica claro que ele explora e violenta as mulheres que o cercam, incluindo a cunhada, que já repleta de traumas, é mais uma vítima. Por fim, temos a narrativa da irmã mais velha de Yeonghye e é exatamente aí que tudo faz sentido. Através de lembranças da personagem, uma empresária de sucesso, temos contato com a infância traumática de Yeonghye. É ela que faz as melhores reflexões sobre família, relacionamento e como levamos a vida.

Em um dos trechos mais marcantes do livro, a irmã se recorda de como agiu para sobreviver ao abuso familiar e a sociedade como um todo, refletindo como muitas mulheres não fazem nada além de suportar. “A sensação de que ela nunca havia realmente vivido neste mundo a pegou de surpresa. Era um fato. Ela nunca tinha vivido. Mesmo quando criança, desde que conseguia se lembrar, ela não fez nada além de suportar” (A Vegetariana).

Pela história cheia de mistério, cenas fortes e segredos bizarros, Han Kang retrata o trauma de mulheres violentadas por uma sociedade profundamente patriarcal e como esse sistema as adoece. Segundo a autora, a personagem foi inspirada em uma frase do poeta modernista Yi Sang, cujo trabalho foi marcado pela violência e censura do imperialismo japonês. Yi Sang descreveu a reclusão catatônica como um sintoma da opressão: “Eu acredito que os humanos deveriam ser plantas”.

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