Livro conta os escândalos e as tragédias da família que fundou a Johnson & Johnson

Woody Johnson

Por Andrea Assef para revista PODER de outubro

A família Johnson, que inventou o Band-Aid e hoje vende de analgésicos a remédios para esquizofrenia, tem uma história pouco saudável para contar. Os herdeiros dos fundadores da Johnson & Johnson, sexta maior empresa do mundo especializada na área de saúde do consumidor, com faturamento de US$ 67,2 bilhões de dólares em 2012, são personagens de trágicos acidentes, escândalos, abuso de drogas e  batalhas judiciais. Some-se a isso episódios excêntricos, como o de Keith Johnson que, na década de 1970, estacionou sua BMW em uma praia,  ingeriu uma substância alucinógena e ficou vendo o carro ser levado pela maré. Essa e outras histórias fazem parte do livro Crazy Rich: Power, Scandal, and Tragedy Inside the Johnson & Johnson Dynasty (editora St. Martin’s Press), de Jerry Oppenheimer, lançado em agosto deste ano e ainda sem tradução para  o português. O autor compara a trajetória dos

Johnson, a décima família mais rica dos Estados Unidos, à de outra família célebre: os Kennedy. Dinheiro sempre foi, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição para os Johnson. A imensa fortuna acumulada pelas três primeiras gerações proporcionou uma vida suntuosa a seus descendentes, que receberam polpudas heranças. O resultado disso, além dos escândalos, foi uma série de brigas e de disputas que, muitas vezes, acabavam nos tribunais.

 A ERA DO GENERAL

Em 1886, os três irmãos – Robert Wood Johnson, James Wood Johnson e Edward Mead Johnson – filhos de um pobre fazendeiro da Pensilvânia – fundaram a Johnson & Johnson, em New Brunswick, New Jersey, EUA. “Em 1910, depois da morte de Robert, que estava à frente do negócio, seu irmão James liderou a expansão da empresa, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, criando a gaze que foi usada nos curativos dos soldados no front”, conta Oppenheimer.

Em 1932, Robert Wood Johnson II, filho do fundador, assume a liderança da J&J e transforma a empresa familiar em uma companhia global. Como serviu no exército por alguns meses, durante a Segunda Guerra, passou a ser chamado de General Johnson para o resto da vida. De acordo com o autor do livro, escrito sem autorização da família, o General Johnson pode ter sido o líder mais forte da empresa. Controlava a companhia com mão de ferro e acompanhava com obsessão a criação e o lançamento de cada produto.

Seu irmão, John Seward Johnson I, que também é conhecido como John Seward Johnson Sr., o segundo no comando da empresa, era um playboy que se divorciou da segunda esposa para se casar com sua camareira polonesa Barbara Piasecka. Ele deixou toda a sua fortuna para Barbara, o que gerou uma batalha nos tribunais com os seis filhos, que queriam sua parte na herança. “Depois da morte do pai, Mary Lea Johnson Ryan D’Arc Richards, filha mais velha de Seward Sr., o acusou de tê-la molestado quando era adolescente”, escreve Oppenheimer.

Machistas, o General Johnson e J. Seward Johnson Sr. não deixaram a irmã, Evangeline Johnson, participar dos negócios. Segundo Oppenheimer, ela teve duas filhas e três maridos, sendo que um deles era gay. O General comandou a empresa durante a Depressão e supervisionou a venda de ações da empresa na bolsa (IPO), em 1944. Teve três mulheres e várias amantes.

Seu filho Bobby (Robert Wood Johnson III), rejeitado pelo pai na infância por ser uma criança gorda, foi presidente da companhia por apenas quatro anos, antes de ser humilhantemente demitido pelo próprio pai após anos de batalha na J&J, em 1965. Ele foi o último Johnson a trabalhar na empresa. Pai e filho morreram de câncer, o primeiro em 1968, o segundo, dois anos depois. Segundo Oppenheimer – que já escreveu biografias não autorizadas de celebridades como a temida editora de moda Anna Wintour, os Clinton e a apresentadora Martha Stewart –, antes de morrer, o General Johnson teria dito: “Tenho milhões e eu daria tudo o que tenho se alguém pudesse me curar”.

SUCESSÃO DE DESGRAÇAS

Era o começo de uma fase de tristeza e luto entre os Johnson. Em setembro de 1968, Robert Wood “Woody” Johnson IV, filho de Bobby (Robert Wood Johnson III), famoso hoje como proprietário dos Jets, time de futebol americano de Nova York, estava bêbado e caiu de uma ponte. Aos 21 anos, foi diagnosticado com paralisia permanente. Após cirurgias e vários tratamentos, voltou a andar, mas ficou com sequelas. Dois de seus irmãos mais novos não tiveram tanta sorte. Em 1975, aos 25 anos, Keith Johnson, aquele que colocou sua BMW para boiar no mar, morreu de overdose de cocaína.

Algumas semanas mais tarde, Billy Johnson, 23 anos, considerado o mais brilhante e criativo dos irmãos, foi morto em um acidente de motocicleta em Los Angeles, apenas dois anos depois de receber seu primeiro cheque de US$ 10 milhões. Segundo o autor do livro, as tragédias continuam perseguindo os membros do clã. Em 2010, Casey Johnson, a “filha problema” de Robert Wood “Woody” Johnson IV, foi encontrada morta em seu apartamento, em Los Angeles, aos 30 anos. Lésbica e diabética, era famosa por brigar em público com suas companheiras. Morreu por falta de insulina, que precisava tomar diariamente para controlar a doença.

Ninguém antes de Oppenheimer contou a história dos Johnson com tantos detalhes, mas, pelo menos, um de seus membros tentou discutir a relação da família com a riqueza. Em 2003, aos 23 anos, Jamie Johnson, neto de J. Seward, fez o documentário Born Rich para o canal HBO. No filme, ele entrevista dez jovens herdeiros de fortunas superiores a US$ 1 bilhão nos Estados Unidos. Há uma cena em que ele pergunta ao pai, James Loring Johnson, por que a família tinha tanta dificuldade em falar sobre dinheiro e aproveita para pedir conselhos sobre a profissão que deveria seguir. Hesitante, o pai, que nunca havia trabalhado na vida, sugere ao filho colecionar mapas históricos.

FAMÍLIA PROBLEMA

Escândalos e histórias trágicas de alguns  membros do clã Johnson

General Johnson comandou a empresa de 1932 a 1938. Casou-se duas vezes e teve várias amantes

 – Em 1965, Bobby (Robert Wood Johnson III), é demitido pelo pai, General Johnson, da empresa. Foi o último Johnson a trabalhar lá

 – Em 1968, Robert Wood “Woody” Johnson IV, filho de Bobby, cai de uma ponte e fica com sequelas. Hoje, ele  é dono do New York Jets

 – Em setembro de 1975, aos 25 anos, Keith Johnson, um dos irmãos de Robert Wood “Woody” Johnson IV,  morre de overdose de cocaína

 – Semanas mais tarde, Billy Johnson, de 23 anos, sofre um acidente fatal de motocicleta em Los Angeles

 – John Seward Johnson Sr., irmão do General Johnson,  divorcia-se de sua mulher e se casa com Barbara Piasecka, sua camareira polonesa, para quem deixou toda a sua fortuna. Os filhos foram ao tribunal reclamar sua parte na herança. Depois da morte dele, em 1983, Mary Lea Johnson Ryan D’Arc Richards, sua filha mais velha, o acusou de tê-la molestado na adolescência

 – Em 2010, Casey Johnson, “filha problema” de Robert Wood “Woody”Johnson IV,  é encontrada morta em seu apartamento, em Los Angeles. Tinha 30 anos

 

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