Uma das vozes – e mensagens – mais interessantes de serem ouvidas atualmente, Linn da Quebrada, nome artístico de Linn Santos, tem um discurso que se destaca entre suas colegas transexuais, que despontam atualmente no cenário musical do país. Com suas letras polêmicas e postura mais agressiva, ela afirma que procura fugir da cultura “falocêntrica”, que enxerga a sexualidade feminina pelo ponto de vista masculino. Glamurama foi atrás dela para saber mais sobre a formação de seu estilo, o mundo que a cerca, sobre a criminalização do pancadão e a mensagem que quer passar para o mundo. Confira!
Glamurama: Como você se define na questão de gênero? Explique quem é a Linn da Quebrada?
Linn da Quebrada: “Linn da Quebrada é uma forma que encontrei de reforçar o feminino em mim, é uma força que criei para dispersar e produzir todas as potências que encontro no meu corpo.”
Glamurama: Liniker, Johhny Hooker, Pabllo Vittar, Rico Dalasan, etc. Essas artistas têm em comum a questão de gênero para inspirar suas músicas e estilos. Você acha que esse é um nicho novo na MPB? Qual seu diferencial em relação a essas artistas?
Linn da Quebrada: “Acho que todas essas artistas e eu temos em comum um posicionamento de intervenção. Estamos ocupando espaços que antes não tínhamos e estamos intervindo neles, reinventando narrativas, contando novas histórias. E tudo isso a partir do nosso ponto de vista, sem ter o foco no macho e nos seus desejos. São corpos feminilizados em lugar de destaque e de diferentes formas. Sinto que os estilos musicais diferem, mas nosso papel e nossas histórias são semelhantes e servem como representatividade pra um público que também passou muito tempo sem essas referências.”
Tanto sua postura quando sua imagem são mais agressivas do que a de outros artistas de sua geração. Fale sobre isso…
Linn da Quebrada: “Não sei muito bem o que esse “agressiva” representa ou quer dizer, porque minha música é, acima de tudo, sobre afetos. Vivi muito tempo amando nos cantos e resolvi falar disso em minhas músicas. E não só em relacionamentos sexo-afetivos, mas em amizades e outros tipos de conexões. Meus shows são celebração para mim e para as minhas fãs, porque naquele momento a gente comunga e vivencia nossas potências juntas, em todas as suas possibilidades. A agressividade talvez venha da minha recusa em não seguir essa lógica falocêntrica que permeia nossa arte e sociedade. Mas não faço isso para apontar o dedo, escrevo e canto para me fortalecer e permitir que outros corpos feminilizados também o sejam e se permitam.”
Glamurama: Há quem queira criminalizar o pancadão. O que você pensa sobre isso?
Linn da Quebrada: “Acho que o funk tem um poder de comunicação e acessibilidade enormes, e proibi-lo simplesmente não cabe mais. Funk é resistência, é linguagem e desconstrução, é subversivo. E por isso mesmo ele é vital para nossa música e nosso fazer artístico atual.” (Por Julia Moura)
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