Por Michelle Licory
Letícia Sabatella estreia nesta quinta-feira no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, “Trágica.3”, uma releitura de três tragédias gregas – “Antígona”, “Medeia” e “Electra” – com direção de Guilherme Leme. O espetáculo é dividido em três atos, um para cada figura mitológica, e para cada atriz [Denise Del Vecchio e Miwa Yanagizawa completam o trio feminino]. Fernando Alves Pinto e Marcello H também estão no elenco, como Hêmon e Orestes, além de executar uma trilha original ao vivo. Ah, e os figurinos levam a assinatura de… Glória Coelho!
Glamurama foi conversar com Letícia sobre o projeto, que também tem a participação dela na parte musical. “Quando todo mundo diz sim, uma pessoa diz não. Isso é Antígona. O processo de construção da performance foi bastante autoral e a música que compus para a peça, que toco e canto no palco, foi uma inspiração que busquei nos cantos fúnebres e lamentos rituais. A parceria com o Nando [marido dela] gerou belos momentos blues, acrescentando o insólito no som do serrote, do trompete, do piano. O surdo que ele toca em cena é também seu próprio lamento. Marcelo veio com ruídos fundamentais, que eu particularmente adoro integrar e sempre surge uma ideia nova, como o ruído de disco antigo, que propus, em determinado momento. Um trabalho que pode se dizer experimental, onde a partitura corporal, textual e musical fluem de uma pra outra continuadamente, como uma partitura só.”
* “O figurino caiu como uma luva, traduzindo a época e sendo contemporâneo, como toda a proposta da atuação e da criação musical e cênica do espetáculo. O Guilherme sempre bateu nessa tecla da performance, colocando o microfone em cena, propondo uma síntese poética no texto, usando as artes plásticas na concepção do cenário e do figurino e dando espaço para a experimentação cênica e musical. Um processo muito integrador”, concluiu a atriz.
* Miwa também bateu um papo rápido com a gente: “Electra [sua personagem], a que manda matar, tratada como escrava, espera o irmão, para vingar o pai que foi morto por Clitemnestra, sua mãe, e Egisto. Ela alimenta seu desejo por justiça, fermenta o sentimento de vingança sem possibilidade de recuo. Também é uma condição de resistência e afronta a um status quo, o indivíduo contra uma instituição, contra um poder arbitrário, sem descanso enquanto o ato não for concretizado mesmo que traga destruição e infortúnios. A importância de mostrar essas heroínas trágicas em uma leitura mais contemporânea, com uma montagem avizinhada à performance, não se distancia daquela do século 5 na Grécia Antiga, que é a de colocar o indivíduo frente às questões mais profundas acerca do ‘o que somos?’ e ‘qual o sentido da existência?’, reflexões essas que estão na origem do teatro. Sempre.”