Este verão uma unanimidade no quesito leitura chamou a atenção. ‘Torto Arado’, de Itamar Vieira Junior, se tornou o livro mais lido e comentado dos últimos meses no Brasil. Editado pela Todavia, que tem ótimos títulos em seu catálogo, por sinal, é um sucesso inquestionável, e não é por acaso. Em 2020, ‘Torto Arado’ ganhou três prêmios importantes: os portugueses Oceanos e Leya, e o Jabuti, o ‘Oscar’ da literatura brasileira. A história criada pelo autor baiano tem como foco Bibiana e Belonísia, filhas de trabalhadores de uma fazenda no Sertão da Bahia, descendentes de escravos para quem a abolição nunca passou de uma data marcada no calendário. Intrigadas com uma mala misteriosa sob a cama da avó, acabam se envolvendo em um acidente que mudará para sempre as suas vidas. Itamar costuma dizer que esse romance é o retrato do Brasil de hoje. Um Brasil que tem uma profunda conexão, ainda, com o seu passado mal resolvido.
“Certamente o ano de 2020 ficará marcado em nossa memória como um ano de perplexidade diante da nossa própria finitude. Um ano de luto, de reclusão e distância do convívio social. Um ano de solidão. Tempo em que nos sentimos infinitamente pequenos. Alguns refletiram sobre o mal que fizeram a si próprios e à Terra, outros nem tanto. Para mim, especialmente, deveria ter sido um ano de viagens e encontros para divulgar e falar sobre literatura, sobre o Brasil e ‘Torto Arado’. Muitos planos foram interrompidos e eu precisei ficar recluso, como muitos ainda estão. E na solidão da casa me restaram as janelas para observar o mundo continuar a dar voltas e esperar pelo bom tempo, tempo em que, imagino, possamos retornar às ruas. Restaram-me as janelas literais de onde vejo o trânsito e as pessoas caminhando para encontrar as coisas que lhes são urgentes; as janelas virtuais dos jornais e portais para saber como tudo caminha nessa que é a nossa mais grave crise desde a Segunda Guerra Mundial; as janelas das redes sociais que me trouxeram boas e más mensagens, e fizeram com que a vida não fosse de absoluta solidão. Vou ater-me às boas mensagens: embora não tenha ido ao encontro dos leitores, eles chegaram a mim com boas surpresas. Escrever também é estabelecer um laço profundo com as personagens para narrar suas histórias; e ao terminar uma história só nos resta a saudade. A história já não me pertence, passa a ser dos leitores. E eles têm encontrado as personagens e me procurado para falar desse encontro. Então passei a esperar por boas notícias que me ajudassem a atravessar as horas. E os leitores chegaram contando sobre os próprios encontros com Bibiana e Belonísia, com Donana e Zeca Chapéu-Grande. Das ‘janelas’ passei a receber bordados, pinturas, fotografias, leituras, impressões e sentimentos. Presentes que me deram um imenso conforto. Permitiram-me ver que o objetivo da escrita que é comunicar, compartilhar vida e afeto, se cumpriu”, disse recentemente Itamar. Leitura da melhor qualidade, testada e aprovadíssima pelo Glamurama!