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Ângela e Leandra Leal: troca de bastão || Crédito: Juliana Rezende

O mais antigo teatro da iniciativa privada do Brasil está agora sob nova direção. O Rival, na Cinelândia, no Centro do Rio, que já passou pelas mãos de Américo e Ângela Leal, passa agora a ser comandado por Leandra Leal, neta de Américo e filha de Ângela.

“Desde criança eu ouço minha mãe falar que era o meu teatro. Ela sempre falava, ‘eu vou lá no seu teatro’, brincando. E hoje realmente ele é meu. Estou muito feliz em continuar o legado da minha família e a tradição do Rival. Ter de herança um teatro não é uma herança qualquer, é uma missão”, disse a atriz, visivelmente emocionada.

Mãe e filha subiram ao palco para a troca de bastão. Leandra, que disse não ser boa para falar em público, deixou que a mãe contasse a trajetória do espaço nesses 82 anos, que antes foi um convento. “Eles costumavam fazer muitas quermesse e festas aqui”, lembra. Ângela disse ainda que o local foi o primeiro a trazer travestis, ainda na época de seu pai. “Foi um escândalo. As mulheres vinham para ver aquelas travestis maravilhosas, aqueles cabelos. A Rogéria sempre foi boa em cabelões”, brincou apontando para a atriz, na plateia, em uma das muitas vezes que arrancou risos dos convidados – a cargo de Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho.

Rogéria ficou em cartaz no Teatro Rival de 1967 a 1969, com três espetáculos. “Depois fui fazer minha carreira internacional”, disse ela ao Glamurama. “O Teatro Rival foi tudo, em plena ditadura, imagina… Eu ficava com medo de morrer. Calei minha boca politicamente. Por tudo isso digo que o Rival foi um Bolshoi em minha vida.”

Ângela também relembrou dos anos de chumbo. “Esse teatro é de Deus. Ele já enfrentou o plano Collor, a ditadura e está aqui, enfrentando a crise de agora”. Ela ainda disse que não está entregando os pontos: “Eu só tenho a humildade de saber que esse teatro só sobreviveu porque soube se reinventar. Se eu continuasse, seria repetição”.

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Quem também estava na plateia, bastante emotivo, foi Bruno Mazzeo. Filho da atriz Alcione Mazzeo, ele explicou porquê também se sente em casa por lá”. A Ângela sempre foi muito amiga da minha mãe e eu venho aqui desde muito pequeno. Cresci com a Lelê. E estou achando lindo ver tudo isso aqui… Esse teatro é uma resistência. Está de pé ainda! Porque teatro no Rio é muito difícil. Quantos não viraram igrejas ou prédios comerciais?”

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E, para animar a noite, muito samba de roda com Pretinho da Serrinha e banda. Liège Monteiro, que já foi bailarina do Municipal do Rio, subiu no palco com Carlinhos de Jesus e chamou a atenção pelo seu gingado.

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Leandra assume a casa ao lado de seu marido, Alê Youssef, na curadoria artística, além de Katia Barbosa, chefe e proprietária do Aconchego Carioca, e sua filha Bianca Barbosa, comandando a área gastronômica, e Pedro Henrique Trajano, na área administrativa.

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A programação será temática: às terças, cabaré e peças de teatro – revivendo as origens do teatro -, às quartas, música instrumental, às quintas, shows de novos talentos, às sextas, roda de samba e shows tradicionais aos finais de semana. De quarta a sexta os shows serão gratuitos.

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Inaugurado em 1934, o Rival foi um dos principais palcos do Teatro de Revista. Depois, em busca de mudanças, o palco recebeu toda a geração do chamado Teatro do Rebolado. De Grande Otelo, Oscarito e Dercy Gonçalves a Rogéria, Jane di Castro e Divina Valéria, o Rival foi permanecendo como espaço democrático e grande referência da vanguarda carioca e lançou nomes como, Mart’nália, Zeca Pagodinho e Zélia Duncan.

(Por Denise Meira do Amaral)

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