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Cartaz e cenas de making of do filme “Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky || Créditos: Divulgação

O filme “Como Nossos Pais”, da diretora paulistana Laís Bodanzky, saiu como o principal vencedor da 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado, que acabou nesse sábado. Além de Melhor Filme, a produção levou mais outros cinco Kikitos: Melhor Diretora, Maria Ribeiro como Melhor Atriz, Paulo Vilhena como Melhor Ator, Clarisse Abujamra como Melhor Atriz Coadjuvante e Rodrigo Menecucci com o prêmio de Melhor Montagem.

Laís Bodansky no Festival de Cinema de Berlim|| Créditos: Divulgação

O roteiro, feito por Bodanzky e seu marido, Luiz Bolognesi, traz uma protagonista chamada Rosa em conflito com a sua mãe após a revelação de que não é filha de seu pai, mas de um homem em um caso pontual durante uma vigam para Cuba. O filme, que já tem uma boa repercussão lá fora, tem sua estreia brasileira prevista para o próximo dia 31. Glamurama já conferiu e conversou com a diretora premiada.

Por Victor Martinez

Glamurama: Como surgiu a ideia de fazer o filme “Como Nossos Pais”?
Laís Bodanzky: “Surgiu de um desejo de falar da mulher contemporânea, ressaltando uma opressão invisível que ela vive no dia a dia. Escolhi essa mulher que já tem seus filhos, mas também seus pais, ou seja, tem uma confusão de papeis: ela é mãe, mas é filha. Eu queria falar dessa fase da vida, destacando sobretudo a relação entre as próprias mulheres. O título do filme também surgiu no início como um estímulo dessa reflexão. O que uma geração passa para outra? O que uma mãe passa para a filha? E o que a filha devolve para a mãe?”

Glamurama: Todo filme de alguma maneira não deixa de ter um pouco da história dos seus produtores. Em que medida pode-se falar que “Como Nossos Pais” é autobiográfico?
Laís Bodanzky: “Ele é autobiográfico a partir do momento que faço parte de uma geração, e sou mulher. Eu também vivo coisas muito parecidas com a personagem. Reconheço muitos sentimentos dela em mim. Agora, o que acho interessante é que aprendi muito com a personagem. Admiro muito a força da Rosa, de não aceitar essa opressão invisível das mulheres. Essa atitude de guerreira é uma atitude de profunda admiração.”

Glamurama: No filme, é evidenciado a relação de uma protagonista mulher com sua mãe e suas filhas. Por que essa opção de destacar uma hierarquia de parentesco predominantemente feminina?
Laís Bodanzky: “Porque justamente é um tema pouco explorado. A psicanalise já explorou tanto a relação da mãe com um filho. A relação entre as mulheres nunca é falada, explicitada nem debatida. Justamente por isso acredito que a gente vive em uma sociedade machista. A própria mulher reproduz esse comportamento, educando seus filhos ou recriminando outra mulher, por exemplo. Quis falar sobre isso. O fotógrafo do filme me perguntou: “por que você não coloca que ela tem um casal de filhos?’. Era justamente isso que eu não queria: ia mudar o foco.”

Glamurama: Em muitas cenas, os personagens masculinos aparecem em uma situação quase hilária (o pai delirante, o marido utópico , o amante meio bobo, e por aí vai). Acabando por colocar essa mulher protagonista (e no fim quase todas as mulheres) sempre em um patamar superior. Nesse sentido, pode-se falar que é um filme feminista?
Laís Bodanzky: “Não, não classifico o filme como feminista. No processo da escrita, mandei o roteiro para o Contardo Calligaris. O comentário dele foi: ‘Você não fez um filme feminista, você fez um filme feminino’. A questão feminista é muito mais complexa, com temas mais ardidos. O fato de eu fazer um filme com uma mulher protagonista, vivendo suas questões, traz temas que compartilham das reflexões do movimento feminista atual. Mas, na minha opinião, não dá para classificar como um filme feminista. Espero que as feministas gostem, porque eu me considero feminista.”

Glamurama: “Como Nossos Pais” está tendo um ótimo retorno nos festivais internacionais. Como você avalia essa repercussão? Foi uma surpresa? Por quê?
Laís Bodanzky: “O primeiro sinal dessa surpresa foi logo no inicio do festival de Berlim, que uma importante Sales pegou o filme para fazer vendas. Isso já me chamou atenção. Descobri que a questão da mulher não é especifica do Brasil, ela é universal. O filme será exibido na Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França, Espanha, Turquia, Grécia e até na China.”

Glamurama: Qual a sua lista dos 5 melhores filmes? 
“Eu escolho cinco filme dirigidos por mulheres e que eu gosto muito, enquanto cinema, enquanto linguagem, enquanto conteúdo:
1. QUE HORAS ELA VOLTA?, da Anna Muylaert. Foi um grande sucesso no cinema, dentro e fora do Brasil. Já se tornou um clássico. Quem não viu, tem que ver.
2. A HORA DA ESTRELA, da Susana Amaral. Este sim é um clássico consagrado. Quando eu assisti adolescente, fiquei muito comovida com essa adaptação linda da Clarice Lispector. É um filme que continua atual, embora tenha mais de 30 anos.
3. ERA O HOTEL CAMBRIDGE, Eliane Caffé. Eu assisti recentemente. É um filme forte que mostra a questão dos refugiados. É um tema que está no nosso cotidiano, e a gente não enxerga porque ele está escondido nessas ocupações, por que eles precisam viver dessa forma, camuflados. É um filme impecável.
4. TONI ERDMANN, da Maren Ade. É um filme alemão que quase ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016. Tive a oportunidade de assistir na sessão de estreia de Cannes. É um filme diferente. Me identifiquei muito com o filme, porque estava montando ‘Como Nossos Pais’ na época. Um dos grandes filmes do cinema contemporâneo
5. MULHER DO PAI, de Cris Oliveira. Saiu com uma distribuição muito pequena, mas vi na Mostra de São Paulo de 2016. O roteiro é perfeito e os atores estão muito bem. É um novo cinema brasileiro. Sutil. Uma diretora estreante que veio para ficar.”

Assista o trailer do longa abaixo.

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