Em uma disputa que travava com Lady Gaga desde 2011, o empresário francês Christophe Février levou a melhor na semana passada quando arrematou por € 8 mil (R$ 35,7 mil) uma guilhotina oferecida pela casa de leilões francesa Drouot. O segundo maior lance foi da cantora americana, que há sete anos já havia disputado com ele a posse de uma outra guilhotina usada nos tempos da Revolução Francesa (1789-1799), mas nesse caso os dois levaram a pior: a peça acabou ficando com um colecionador russo, que desembolsou € 233 mil (R$ 1,04 milhão) para tê-la, porém não pôde levá-la pra casa – a França não permite a exportação de armas de execução ou tortura em hipótese alguma.
No caso da guilhotina que agora pertence a Février, trata-se de uma réplica fabricada no século 19 sob a orientação de Joseph-Ignace Guillotin (criador do item macabro) baseada em um dos principais modelos usados no período sanguinário da França. Até recentemente, estava exposta no clube de jazz Le Caveau des Oubliettes, de Paris, mas foi confiscada por credores depois que o estabelecimento decretou falência.
Guilhotinas são um tema polêmico no país europeu, usadas pela última vez em 1977 na execução da franco-tunisiana Hamida Djandoubi, condenada à morte por crimes de tortura contra menores. A pena capital foi abolida por lá em 1981, e desde então elas se tornaram o símbolo de um passado que muitos franceses preferem não visitar. A grande questão é definir até onde é possível considerá-las objetos dignos de serem colecionados, já que o mesmo não se faz com o vestuário de vítimas do Holocausto, por exemplo.
Avesso ao debate, Février – que também ganhou as manchetes há alguns anos ao tentar comprar um carro que foi de Pablo Escobar – pretende expor o bem recém-adquirido na vila que mantém na região da Provença, apenas para familiares e amigos. “Não me proíbo de comprar certas coisas consideradas fora dos limites, principalmente quando acredito que tenham um valor histórico, não somente para a França mas para todo o mundo”, ele disse ao jornal francês “Le Parisien”. (Por Anderson Antunes)