Publicidade
Jum Nakao e sua Fonte Efêmera

Por Verrô Campos

Quem passar pela Praça Victor Civita em Pinheiros, São Paulo, vai se deparar com uma estranha fonte, na cor preta, forrada de sacos plásticos, com água vermelha e pedaços de pneu. Trata-se da obra “Fonte Efêmera”, criada por Jum Nakao e parte integrante do projeto “Prototype”, do Festival de Sustentabilidade na Arte, que marca a temporada Alemanha + Brasil 2013–2014. A obra fica por lá até o dia 15 de junho e Glamurama conversou com Jum que, há dez anos, desfilou na SPFW roupas de papel que foram rasgadas pelas modelos no final da apresentação, marcando o início da mistura entre moda e arte em sua carreira.

Você criou uma fonte batizada “Efêmera” para o festival de sustentabilidade. Por que ela é efêmera? De que materiais você se utilizou para que, depois, ela se decompusesse?
Fontes em praças públicas costumam ser obras permanentes. No caso da “Fonte Efêmera”, projetada para a Praça Victor Civita, a obra será desmontada no dia 15 de junho. Os materiais usados são sucatas eletrônicas, pneus, sacos de lixo: descartes da sociedade reciclados e amalgamados como escultura na forma de uma fonte. Materiais que encontravam-se dispersos e sem sentido, que foram unidos e alinhavados para ganhar vida na forma de fonte por um lapso de tempo e que voltarão, após a desmontagem, a adormecer e aguardar seu destino. A obra em sua materialidade e existência, mas não em sua significância, está delimitada pelo tempo, daí o nome ‘Fonte Efêmera’Vale lembrar que nesta obra não produzimos lixo algum, ao contrário: conferimos um significado para materiais descartados e os trouxemos transformados para reflexão e conscientização da sociedade que o produziu.

Por que a escolha por símbolos do “mal” como urubus e serpentes?
Nesta instalação efêmera, uma controversa fonte alimenta nosso livre arbítrio para mergulharmos em entendimento sanguíneo através da experimentação de sentimentos antagônicos: mal ou bem, vitória ou derrota, morte ou nascimento, fim ou começo, indiferença ou empatia. Serpentes, cobras e víboras representam a estrutura através do qual o mal se materializa, vide a expressão “ninho de cobras”. Na configuração da obra, em que urubus espreitam e as víboras se encontram banhadas em sangue, retratamos a derrota do mal. Acima de todos os elementos da fonte temos uma criança que sonha ao olhar para o céu.

O mal é belo para você?
Para conscientizar e despertar as pessoas para o belo, nesta obra retratamos a derrota do mal. O bem é belo e o mal é feio.

E a moda? Você criou um desfile de roupas de papel que nunca será esquecido. Para você, a moda é efêmera?
Creio na consciência da permanência. Assim como estrelas que morrem, mas deixam rastros de luz pelo espaço, precisamos compreender que nossos atos são como efêmeras centelhas no infinito, brilham e têm permanência no tempo e espaço, iluminam, encantam e transformam pessoas. A coleção de roupas de papel, ‘A Costura do Invisível’, que foi inteira rasgada em seu lançamento sem uma roupa sequer posteriormente ter sido produzida, borda permanência na efemeridade ao vestir sem existir, veste pessoas em seus pensamentos, e perdura através dos tempos como uma referência de moda.

O que é eterno para você?
Eterno são as transformações e o aprendizado.

Como você se auto-define hoje? Artista? Estilista?
Procuro compartilhar sonhos. Sonhos são feitos de matéria instável: um pouco de arte, um pouco de design, um pouco de moda e muita imaginação. Não me considero um fazedor de objetos, mas um contador de histórias que buscam as melhores palavras através dos objetos, quer sejam a tinta, a madeira ou o tecido. Entre as opções ocupacionais existentes, seleciono sempre artista e diretor de criação pela materialidade imprecisa vinculada a estes ofícios e pelo objetivo comum em estabelecer pontes imaginativas. Quem sabe poderia ser construtor de imaginários?

Como você quer ser lembrado?
Como uma pessoa digna.

 

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter