Jovens portugueses invadem o Brasil. Aqui, a história de sete deles!

 

Diana Risso-Gill, Joana Hasse e Constança Alves

Não é de hoje que os portugueses estão por todo o Brasil. Desde que avistaram as terras tupiniquins, vivem por aqui, dando origem aos nossos sobrenomes e nos fazendo desistir de contar calorias com sua culinária abundante em gema de ovo e açúcar. Mas, de uns tempos para cá, tem chamado a atenção o número de jovens que opta por viver em solo nacional. É o caso de Joaquim Marques, 33 anos, quatro deles morando em São Paulo. Cansado do marasmo de Lisboa, mudou-se para Londres e, em seguida, graças a uma oportunidade de trabalho, veio para São Paulo. “Cheguei na final da Copa do Mundo de 2010 e fui assistir ao jogo sozinho em um bar”, conta ele, que não demorou a se enturmar e ainda teve a sorte de encontrar sua atual esposa. “Conhecemo-nos em um blind date, e logo estávamos a namorar.”

Ricardo Custódio e Joaquim Marques

Outro que se arrumou por aqui foi o produtor de arte Ricardo Custódio, 41 anos. “As brasileiras são mais alegres, dispostas e menos reprimidas que as portuguesas”, diz. Apesar de ter chegado este ano, ele já se sente totalmente adaptado: frequenta os bares da Vila Madalena e acorda cedo todos os dias para remar na raia da USP. Também recém-desembarcada no país, a assessora de imprensa Constança Alves, 23 anos, é só sorrisos. Usa seu tempo livre para conhecer os programas culturais e restaurantes da cidade e faz da facilidade para o sotaque brasileiro um de seus trunfos. “Em Portugal passam todas as novelas brasileiras e desde criança brinco com as cenas de café da manhã imitando o jeito de falar.” Mesmo a língua sendo a mesma, todos comentam das dificuldades de comunicação. Morando há nove anos em SP, a DJ Joana Hasse, 38 anos, evita palavras de sua língua natal quando está entre brasileiros – tais quais, telemóvel, para se referir ao celular, e calças de ganga, ao falar de calças jeans. Já o cineasta João Nuno Pinto, 45 anos, conta que, no começo, preferia falar em inglês ou espanhol. Hoje, com três anos em solo nacional, já não tem mais esse problema, mas se queixa do trânsito. “Em Lisboa o dia rende mais. Aqui, por causa do tempo que perco no carro, consigo fazer muito menos coisas. Isso afeta totalmente a qualidade de vida.” De carona no tema, Ricardo Custódio opina: “Em SP todo mundo depende de carro. A cidade não é plana e as pessoas não querem andar nem até a esquina”. E Joaquim Marques complementa: “Outro dia levei seis horas para voltar da praia. Em Portugal costumava fazer o mesmo percurso em pouco mais de uma hora”.

Luis Rebola e João Nuno Pinto

O diretor de marketing Luis Rebola, 39 anos, natural da cidade do Porto e há dois anos em São Paulo, lamenta o preço exagerado do circuito gastronômico em solo paulistano – “pato é baratinho em Portugal” – e diz sentir falta da luz de Lisboa. “Aqui não há espaço para jardins e parques porque é tudo feito sem planejamento”, critica.

O que é problema para uns, é inspiração para outros. Dona de uma marca de bolsas, Diana Risso-Gill, 37 anos, sendo cinco deles em São Paulo, usa justamente o caos paulistano como referência para suas criações. “A FAD surgiu baseada no cinza e na geometria da cidade.” Já quando o assunto é relacionamento, Diana relembra que no país europeu os homens costumam ser mais respeitosos. “Os brasileiros não precisam se esforçar muito.” Joana Hasse concorda. “Eles são machistas e não levam relações a sério”, diz ela que, apesar disso, não se imagina morando em seu país: “É pequeno demais para mim”.

Entretanto, na hora de destacar a melhor das características locais, os portugueses apontam o otimismo brasileiro. “Aqui há um sentimento de oportunidade. As pessoas botam energia nas coisas e é tudo possível de acontecer”, sinaliza João Nuno Pinto. “Em Portugal as coisas são mais melancólicas, por isso temos o fado. Não é à toa que vocês têm o samba, tradução da força positiva que existe por aqui”, diz Rebola, que finaliza com uma dica de como reconhecer um português: “Não usamos o gerúndio de jeito nenhum”.   (Por Julia Furrer, na revista JP de novembro)

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