Jovem, cabelo rastafári, fascinado por números e VP da Nasdaq: conheça Bill Dague, um dos nomes por trás da revolução em Wall Street

William Dague, VP da Nasdaq // Reprodução

por Anderson Antunes

No famoso discurso que fez em 2005 aos formandos de uma turma da universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Steve Jobs explicou que certos acontecimentos da vida só fazem sentido quando “conectamos os pontos” e percebemos que “nada acontece por acaso”. Talvez no futuro o pensamento do cofundador da Apple seja usado para explicar 2020, um ano em que, entre tantas mudanças significativas, a chamada “velha economia” se subordinou à nova, e as empresas de tecnologia como a Apple e a Amazon multiplicaram seu valor de mercado. Com isso, ganha também a Nasdaq, a maior bolsa eletrônica do mundo, onde essas e outras companhias estão listadas.

No caso da Nasdaq, a teoria de Jobs ganha ainda mais sentido diante do fato de que um dos seus grandes nomes neste momento de grandes transformações parece ser justamente alguém que está no lugar certo e na hora certa: William Dague, ou Bill, o vice-presidente da bolsa americana, que lidera as pesquisas de dados alternativos em seus pregões e aos poucos vai se transformando em um dos maiores nomes de mercado de capitais dos Estados Unidos. Formado em física pela Universidade de Chicago e com apenas 29 anos, Dague conquistou o cargo em 2018, depois de quatro anos dando expediente na bolsa sempre defendendo uma abordagem tecnológica na decisão de investimentos.

Foi dele a ideia de comprar a empresa de dados Quandl, o que foi feito logo depois de sua efetivação como vice-presidente. Fundada em 2011, a Quandl controla desde então a maior parte dos dados financeiros da Nasdaq de uma forma mais precisa e ágil. Não bastasse isso, Dague também criou o primeiro produto de aprendizado de máquina da e-bolsa, o Trading Insights, e participou do lançamento de sua plataforma de dados alternativos, o Nasdaq Analytics Hub.

Descrito como um “team player” por aqueles que o conhecem bem, Dague sempre teve fascínio pelos números e por sua interpretação pela tecnologia. Defensor da ideia de que soluções desse tipo estarão cada vez mais presentes no mundo financeiro, o jovem vice-presidente acredita ainda que a solução de muitos problemas está no cálculo bem feito. E certamente não é o único a pensar assim.

Com cada vez mais aplicativos que permitem aos cidadãos comuns se tornarem investidores de bolsas de valores, sem falar no advento das fintechs, a indústria financeira é uma das que mais deverão evoluir nos próximos anos em razão desses avanços, cujos impactos irão muito além do universo dos altos e baixos dos pregões. Há quem aposte, por exemplo, que fraudes contábeis diminuirão consideravelmente, e as manipulações de mercado terão destino similar. Alguns temem tais previsões, como os operadores que vivem de day trade – a compra e venda de ações em um curto espaço de tempo – e que por vezes preferem a penumbra e nem sempre prezam pela transparência a fim de conseguir o que querem nas transações.

Dague, por sua vez, está certo de que novidades como a Quandl vieram para ficar e terão cada vez mais impacto mesmo em Wall Street, em uma espécie de terceira revolução industrial comandada pelas mentes do Vale do Silício. Difícil discordar dessa visão quando se leva em conta que entre as dez empresas de capital aberto mais valiosas do mundo, sete são companhias 100% tecnológicas (as exceções, no começo de setembro, eram a petrolífera Saudi Aramco e as americanas Johnson & Johnson e Berkshire

Hathaway, do “dinossauro” do mundo financeiro Warren Buffett). E do clube das sete, apenas duas não são estrelas da Nasdaq: a multinacional chinesa Tencent, que tem papéis negociados em Hong Kong, e o também chinês Alibaba Group, que é listado na Bolsa de Valores de Nova York.

Obviamente, todas essas megacorporações fazem a alegria dos investidores porque vendem produtos e serviços únicos. Mas a forma como elas são apresentadas aos investidores também pode ajudar a aumentar sua atratividade e gerar mais dinheiro, e essa é basicamente a tarefa de Bill Dague. Não é exagero dizer, portanto, que a supervalorização dessas empresas caminha junto com a proliferação de profissionais com o mesmo perfil ousado e “diferentão” do jovem executivo de cabelos dredlocks e meio desengonçado – um típico “nerd”. Como novamente diria Steve Jobs, “as pessoas loucas o suficiente para acreditarem que podem mudar as coisas são geralmente aquelas que conseguem exatamente isso”.

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