Iza subiu mais um degrau em sua (recente) carreira e fez sua estreia como apresentadora essa terça-feira no “Música Boa Ao Vivo”, do Multishow. Serão 18 programas na temporada – e nada impede que a cantora continue no posto que foi de Anitta. Voz e carisma não faltam… Na atração, ela recebe convidados para duetos, trios… Um vai embarcando no repertório do outro. Nessa primeira vez , Zeca Pagodinho, Maria Rita e Thiaguinho dividiram o palco com Iza. Nada mal, hein! “É uma responsabilidade, mas acho que o Multishow não é sem noção de me escolher… Se eles acreditam em mim, fico encorajada”. Vem ler nosso papo com a moça! (por Michelle Licory)
“Meu sonho era ser patinadora de supermercado”
Perguntamos a que Iza atribui tanto sucesso em um espaço de tempo tão curto. “Trabalho! É que não acho que foi curto. Tenho trabalhado tanto. Por mais que tenha 2 anos de carreira, foi tanta dedicação. Largar o emprego… Passei por tanta coisa. Só tinha a renda da minha mãe em casa. Saí do emprego e não estava fazendo show nenhum…” E agora apresentadora! “Se ser cantora já era algo tão distante pra mim, imagina apresentadora… Claro que brincava disso quando criança, mas meu sonho era ser patinadora de supermercado. Também adorava brincar com música e esporte… Pensava que poderia ser atleta, ou até trabalhar no audiovisual, mas nos bastidores… Só que chegou uma hora em que percebi que eu tinha que fazer isso (ser artista) ou me sentiria incompleta em qualquer outra área. Fiz por impulso porque essa é minha verdade, mas nem sonhava com isso antes”.
“Se não tiver medo, não tem graça”
E não deu medo de encarar esse convite do Multishow? Ao vivo… “Sim. Estou com medo até agora. Mas quando me pedem dica, conselho para dar certo na profissão, eu falo: não fica esperando o medo passar porque não vai passar. Vai continuar com medo pra sempre… Claro que você vai ficando um pouco mais confortável, mas graças a Deus toda hora aparecem novos desafios. E se não tiver medo, não tem graça”.
“Meu maior desafio é fingir costume”
Qual o maior desafio desse projeto? “Não me emocionar no palco. Já dei uma embargada. É que estou muito feliz, é o resultado de muito trabalho… Cantar olho no olho com Zeca Pagodinho, Maria Rita, Thiaguinho… São encontros que não imaginava que fossem acontecer agora, e assim tudo de uma vez. Trocando experiências a gente sempre aprende mais. Meu maior desafio é fingir costume perto deles.”
“Achava que tinha alguma coisa errada comigo ou que aquele lugar não era pra mim”
Iza é a primeira mulher negra a apresentar um programa no Multishow. “Uau! Sempre falo que representatividade importa pra caramba. Quando pequena, não me via nos desenhos animados, na TV, nos brinquedos que comprava. Não me via em quase lugar nenhum. É óbvio que eu achava que tinha alguma coisa errada comigo ou que aquele lugar não era pra mim. A partir do momento em que tem uma menina negra de Olaria, zona norte do Rio, apresentando um programa de grande audiência em um canal importante… Tenho certeza que várias meninas vão se sentir representadas e entender que nosso lugar é onde a gente quiser estar… Não interessa o que a mídia diz ou se houve alguém antes de você”.
“Não acho isso bonito, mas é assim…”
Ser linda ajudou? “Obrigada. E infelizmente, sim. O mundo hoje é muito pautado por estereótipos. A gente fala bastante de empoderamento, de ser você, de seu corpo é o ideal, mas a gente continua sendo comparada, colocada em pódio, e é óbvio que estar dentro de um padrão que a sociedade acredita ser bonito ajuda, sim. Não acho isso bonito, mas é assim que o mundo da música funciona”.
“Ainda sou aquela menina”
Iza se sente responsável por carregar esse discurso do empoderamento? “Falo sobre isso porque me perguntam, mas não precisaria falar muito porque eu sou. Eu sou a primeira apresentadora negra do Multishow. Sei quem eu sou, de onde eu vim. Ainda sou aquela menina. Quando ligarem a TV, essas meninas de Olaria vão se ver no palco. Isso só já é combustível para empoderar, sabe?”
“Tem um pedaço do empoderamento que é ficar cagando regra”
Por outro lado… “O empoderamento veio, ajudou muitas meninas e me ajudou. Encontrei outras crespas na internet. Entendi que eu não era a única, que meu cabelo é lindo e eu posso usar do jeito que eu quiser. Mas tem um pedaço do empoderamento que é ficar cagando regra na cabeça dos outros. E isso é ridículo. É censurar também, podar também. Se eu quero usar meu cabelo crespo, ninguém tem nada com isso. Se eu quiser aparecer loira aqui na semana que vem, também. Essas escolhas partem da gente, não tem nada a ver com o outro”. E se uma loira quiser usar black power? “Puxa, interromperam bem na hora da pergunta capciosa”, disse, em tom de brincadeira, e não respondeu.
“‘Ah, ela é a nova fulana’: isso é um saco”
Iza substituiu Anitta no comando do programa. Será que ela teme comparações? “Não. A mídia já tende a ficar comparando, principalmente mulheres, o tempo inteiro. Você aparece e… ‘Ah, ela é a nova fulana’ ou ‘a antiga fulana’, ou ‘fulana está atrás dela’. Isso é um saco. Tanto pra mim quanto pra qualquer uma. A gente está trabalhando, se respeita, se admira, manda mensagem uma pra outra… Não estou falando só da Anitta, mas de todas as cantoras pop… Ludmilla, Lexa… A gente está mais preocupada com nosso trabalho, e não com o que vão falar. Se eu estivesse preocupada com o que vão falar, não seria cantora. Não houve grande preparação para eu assumir o ‘Música Boa ao Vivo’, mas assisti às outras temporadas. De qualquer forma, estou tentando ser eu, fazer do meu jeito”.
“Encontrar novos lares”
Sobre ser mais fácil conquistar um espaço hoje, com as mídias digitais… “A gente vive numa era muito incrível de comunicação com a internet, fala com milhares ao mesmo tempo, mas uma coisa é alguém procurar a minha música numa plataforma de streaming, outra é estar assistindo TV ou ouvindo rádio no carro e ser surpreendido pela minha música. Talvez a pessoa se interesse… Não está vidrada no meu trabalho, talvez ainda não conheça… A internet é importante, sim, mas o rádio, a TV e o ‘Música Boa’ vão me ajudar a encontrar novos lares, trocar ideia com outras pessoas”.
“Um dia de cada vez”
Onde Iza quer chegar? “Sonho muito em poder cantar para o resto da vida. Isso é uma coisa que me preocupa. É um músculo, tem que tomar conta, se cuidar. E a gente tem uma vida complicada: dorme pouco, come pouco. E quando come, come errado… Dorme errado, troca de hotel. Sonho em vencer todas essas adversidades e poder cantar até meu corpo não aguentar mais… Lá para os 120 anos… E até lá muita coisa pode acontecer. Acho que é muito legal dar um passo de cada vez, focar nas próximas etapas. Quero viajar o Brasil inteiro divulgando meu album. O que vem depois disso nem fico vislumbrando muito. Tenho sido pega de surpresa, então estou deixando a vida me levar e vivendo um dia de cada vez”.