Ítalo Ferreira reafirma sua potência na água com ouro na estreia do surfe em Jogos Olímpicos. Relembre o ensaio e entrevista do atleta à PODER

Ítalo Ferreira para PODER || Créditos: Mauricio Nahas

No ano em que o surfe estreia como esporte olímpico, Ítalo Ferreira acaba de fazer história ao ganhar o ouro em Tóquio, na madrigada desta terça-feira. Com isso, o atleta potiguar reafirma sua potência na água com a primeira medalha de ouro do esporte e também do Brasil neste Jogos Olímpicos.

A vitória de Ítalo foi conquistada na praia de Tsugaraki, em Ichimoya, com o mar agitado por causa da aproximação do tufão Nepartak, que trouxe as ondas tão esperadas pelos competidores. E como nada acontece por acaso, o surfista brasileiro precisou sair do mar para trocar a prancha, que quebrou durante uma onda, e do lado de fora viu que seu adversário, o japonês Kanoa Igarashi, não estava bem. O atleta voltou para a água, conseguiu pegar boas ondas e fazer as suas manobras que o levaram ao primeiro lugar do pódio.

Assim que sua bateria acabou, Ítalo conversou com a imprensa que estava no local e mostrou toda a sua emoção com a conquista: “Eu vim com uma frase pro Japão: diz amém que o ouro vem. E veio”, afirmou o sufista ainda na praia que o consagrou. “Fui pra dentro d’água sem pressão, fazendo o que eu amo.”

Durante a preparação para as Olimpíadas,  Ítalo encarou as lentes de Maurício Nahas em ensaio para a PODER, seguido de um papo exclusivo.

Ítalo Ferreira para PODER || Créditos: Mauricio Nahas

Por: Carol Sganzerla / Fotos: Maurício Nahas

(Dezembro de 2020) Vinte e quatro horas antes de embarcar para o Havaí a caminho de sua sexta participação na Liga Mundial de Surfe, Ítalo Ferreira encontrou a reportagem de PODER ao lado da agora ex-namorada, a atriz Mariana Azevedo, e de um amigo, o videomaker Fernando Barros. O assunto era um só: o jantar na churrascaria Barbacoa, para onde seguiriam ao fim da sessão de fotos – o atleta não deixaria escapar a chance de comer em um de seus restaurantes preferidos em São Paulo. Já vinha de uma temporada em casa, no município de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, abastecendo-se de comida de mãe: cuscuz, tapioca e toda a sorte da gastronomia nordestina. “Fiquei uma semana sem treinar, comendo tudo o que queria. Tirei um pouco a pressão, parei com a alimentação regrada. Precisamos aproveitar, senão, viramos uma máquina e esquecemos de viver”, diz.

A pressão, no entanto, tem seus motivos. Aos 26 anos, o surfista potiguar chega com o peso de defender o título de campeão mundial conquistado em 2019, em Pipeline. Na ocasião, ele se tornou o terceiro brasileiro a vencer o circuito – Gabriel Medina levou em 2014 e 2018, e Adriano Souza, o Mineirinho, em 2015. Foi, inclusive, neste último ano que Ítalo estreou na Liga Mundial, entrando para a elite do esporte ao lado da geração que ficou conhecida como Brazilian Storm. O circuito de 2021, iniciado em dezembro no Havaí, já prevê grandes embates. Pergunto quais serão seus maiores adversários. “Acho que minha mente. Se conseguir me manter tranquilo, esquecer o que já passou, posso ter uma boa performance e ir ganhando aos poucos. Todo mundo vai querer me bater, tenho que estar preparado”, ressalta o atleta. E como você controla a mente? “Treinando. Quanto mais eu treino, mais forte fico e ganho confiança.”

Ítalo Ferreira para PODER || Créditos: Mauricio Nahas

Os meses de isolamento serviram para intensificar os treinos. Com o Mundial de 2020 cancelado por causa da pandemia do novo coronavírus, aproveitou para melhorar suas manobras. Investiu nas ondas do Rio de Janeiro, onde acredita não performar tão bem. Passou um tempo na praia de Saquarema, palco da etapa brasileira que acontece em junho. “As ondas lá são difíceis, precisava pegar as maiores. Estava há muito tempo no Nordeste, pegando onda pequena, precisava dar um up, apanhar um pouco”, explica Ítalo, que cresceu surfando em pranchas de isopor e compensado no mar de Baía Formosa, para onde vai quando volta ao Brasil. Atleta dedicado, filho de um pescador e uma professora, ele não vê a necessidade de ter um treinador, como seus pares. “Sei dos meus defeitos, onde tenho que melhorar. É só estar bem para conseguir fazer a melhor performance”, acredita Ítalo, que mesmo quando não está competindo, compete. “Até quando estou surfando com as crianças, tento ganhar delas. Mas isso é instinto, quem realmente gosta de competir é que vive isso.”

Agora, aguarda a estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho – além dele, Gabriel Medina será o outro representante brasileiro. “É uma vitória para o esporte, pessoas que não o acompanham poderão ver mais de perto. Muita gente muda de vida pelo lifestyle do surfe, por estar na natureza sentindo tudo que só quem surfa sabe o que é. Vai ser um desafio representar o Brasil e trazer a medalha.”

Ítalo Ferreira para PODER || Créditos: Mauricio Nahas

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