Por Paulo Sampaio para a revista Joyce Pascowitch de janeiro
Isis Valverde nunca vai se esquecer da primeira vez em que bateram palmas para ela. Tinha 7 anos e participava de um espetáculo junto com o grupo de teatro de sua mãe, Rosalba Nable, que também é atriz. Isis não sabe dizer o nome da peça, mas se lembra bem de ter ficado extasiada com a reação do público. “Eram 400 pessoas aplaudindo. Ali eu vi que precisava daquilo. De aplauso. Ator é carente, né?, adora aplauso.”
Nas vésperas desta entrevista, a imprensa “especializada” afirmava que ela manteve um caso com seu par na minissérie Amores Roubados, Cauã Reymond, e que por conta do escândalo ele teria deixado a mulher, Grazi Massafera, e a filha Sofia, de 1 ano e 8 meses. “Namoro não é um assunto pertinente no momento”, alertou o assessor de Isis, logo no começo da nossa conversa, antes que ela fosse parar no tema proibido.
Nascida em Aiuruoca, cidade de 6 mil habitantes a 420 quilômetros de Belo Horizonte, Isis Valverde migrou para a capital aos 15 anos. Inicialmente, foi para estudar. Mas acabou sendo descoberta no shopping por um olheiro de modelos. Como tem 1,63 metro, altura insuficiente para desfilar na passarela, posou muito para publicidade – e fez um bom pé de meia. “Imagina uma garota de 15 anos ganhando R$ 7 mil por mês”, diz. Nesse primeiro momento, o pai, Rubens Valverde, dono de uma rede de laboratórios de análises clínicas, não a apoiou. “Ficamos dois anos sem nos falar direito, foi difícil”, diz ela, que é filha única e reconhece que seus pais a tratavam como uma “princesa”.
Zé Celso
Passou. Rubens hoje é só elogios à carreira da filha, coleciona tudo que sai na imprensa sobre a princesa Isis e fez até a clássica aparição no Arquivo Confidencial do Faustão. Isis Valverde chorou emocionada, cumprindo a praxe dos participantes do quadro. Na ocasião, o pai contou: “Quando ela saiu de casa, dei um mês para voltar. Passaram-se dois, três, enfim, dois anos depois ela não tinha vindo. Vi que não voltaria mais”. “Hoje eu percebo que ele só não queria que eu sofresse”, ela diz. O que se passou daí em diante não é muito diferente do que acontece com milhares de moças com a mesma ambição, só que Isis vingou. Em pouco tempo, o rosto bonito, a avidez por aplausos e o temperamento despachado, timidez zero, conquistaram os produtores de elenco da Globo. Ao mesmo tempo em que fazia seus primeiros papéis na TV, tratou de produzir referências no teatro. Frequentou cursos e agora pronuncia com familiaridade nomes de mestres como (Constantin) Stanislavski e (Lee) Strasberg – duas lendas associadas ao Actors Studio, a festejada escola nova-iorquina de arte dramática por onde passaram astros como Marlon Brando, Monty Clift e Al Pacino. Os métodos de ambos estimulam a utilização da memória psíquica e física, valorizam as vivências do ator e o improviso. “Me identifico muito com Stanislavski e Strasberg. Fiz Zé Celso, Tablado, tudo o que você pode imaginar de curso”, diz a atriz. Ela conta que pretende montar algo “grande” no teatro, mas por enquanto não pode adiantar do que se trata. Só que vai precisar de um ano para produzir e ensaiar.
Cinema ela também adora. O filme que mais a encantou ultimamente foi o longa Dr. Jivago, clássico baseado no romance épico de Boris Pasternak, rodado em 1965 por David Lean, com Alec Guinness, Omar Sharif e Julie Christie nos papéis principais. De fato, o filme é extraordinário. E o nome Dr. Jivago tem um apelo especialmente glamourizante quando é enunciado por uma atriz linda, de sorriso alvo e, o mais louvável, 22 anos mais jovem que a obra. E ela ainda completa. “Prefiro assistir a esses filmes sozinha para não ouvir reclamação de quem não gosta.”
Aluna Hiperativa
A propósito, Isis diz que sempre foi ótima aluna. Conta que, mesmo tendo estudado em escola pública até o ensino médio, nunca enfrentou dificuldades para acompanhar o ritmo da escola particular que cursou em Belo Horizonte. Dá uma explicação curiosa. “Hiperativos aprendem tudo mais rápido.” Alguns educadores afirmam o contrário, que os hiperativos podem ter dificuldade de aprender justamente porque não possuem a mesma capacidade de concentração dos outros. Não importa. Se Isis fez do limão uma limonada, e ainda achou bom, melhor ainda. Lembra que gostava de biologia, ciências, geografia e história. Tinha problemas com matemática, português e física. Mas nunca ficou em recuperação. “Muita gente que vinha de escola particular tinha muito mais dificuldade. Eu, não. Dizia: ‘Valeu aí galera, até o ano que vem’.”
E quem são os amigos dela? A maior parte, conta, não são figuras conhecidas. Moradora de uma casa no Itanhangá, bairro residencial cercado de montanhas verdes na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, ela diz que mantém até hoje as amizades feitas lá atrás, em Aiuruoca. Mora com uma espécie de irmã de criação, Mayara, filha da melhor amiga de sua mãe. “Quase nenhum amigo meu é famoso. E, para falar a verdade, dificilmente entra gente nova nesse círculo dos íntimos, confiáveis.” Será que sofre em um ambiente competitivo como o da Globo? Não. Diz que os eventuais comentários feitos para minar sua segurança são solenemente ignorados. “Abstraio. Faço a louca. Aprendi com minha mãe que o que é da gente ninguém pega. Mas não mesmo, e num grau…”
Pelo sim, pelo não, Isis diz que desenvolveu uma técnica para o caso de alguém tentar boicotá-la numa cena. “Não tem o menor problema. Bloqueio a pessoa. Faço a cena sozinha!” Dá-lhe Stanislavski! Ela acrescenta que, “graças a Deus”, poucas vezes precisou usar o método. Considera-se privilegiada por ter contracenado com pessoas que dizem gostar de seu trabalho. Cita Tony Ramos, Murilo Benício, Laura Cardoso, Osmar Prado. Entre os personagens mais populares que interpretou na TV estão a garota de programa Rakelli, de Beleza Pura; a periguete Suelen, de Avenida Brasil; e a cantora de axé do seriado O Canto da Sereia. Este ano, para ela, é do cinema. Vai fazer o personagem principal da comédia Divã 2, que, em sua primeira versão, foi defendido por Lília Cabral. “Isso aumenta a responsa”, diz. Há outro projeto para a telona, mas ela não pode adiantar.
Mundo animal
A paixão de Isis são os três cachorros que cria em casa, um buldogue francês, um spitz alemão, um cane corso. Já foram muito mais. Fala em especial de Honey. “Ela não era uma cadela, era uma pessoa. Odiava parque, sempre gostou mais de shopping. Não pisava em poça, desviava. Ficava mais assanhada com homens do que com cachorros. E quando ia ao salão de cabeleireiro comigo, sentava no meu colo e não dava um pio”, lembra. Diz que seu amor aos animais vem da infância. Na casa de jardim grande, onde morava com os pais, ela chegou a criar ganso, pinto, pato, galo e até mico. “Passarinho eu soltava. Eu trazia muito bicho da rua. Os doentinhos eu levava para tratar e depois o veterinário ligava para o meu pai passando a conta, ele ficava louco. Até hoje, quando o povo não sabe o que me dar de presente, dá cachorro.”
Bem mais magra que nos tempos da pedaçuda Suelen, Isis Valverde garante que não faz regime. Mas, ao se servir durante o almoço, no estúdio, escolheu um peixinho, arroz integral e legumes. Cuida do corpo com exercícios que gosta, nada muito convencional. “Não sou o tipo que vai para academia e puxa ferro. Aeróbica eu não posso fazer porque emagreço facilmente. Viro um grilo seco”, diz, o sotaque gritando. Em compensação, progride a olhos vistos no pilates. “Você precisa ver como estou evoluída.” Faz também a chamada ginástica funcional, que associa força, equilíbrio e explosão e virou mania nas academias.
Namoro ou amizade?
De volta ao assunto Cauã (sinto muito, Isis), a atriz disse na mídia que não teve nada com ele. Se tivesse tido, já não seria a primeira vez com um par romântico da ficção. Na época de Beleza Pura, namorou Marcelo Faria. Em Ti-Ti-Ti, foi Caio Castro. Tentemos comer o assunto pelas bordas. Será verdade que a Globo a colocou na geladeira, que a emissora nunca recebeu tantas cartas reprovando o comportamento de uma atriz e que a produção da minissérie Amores Roubados teria até pensando em trocar o nome? “Eu não tô sabendo de nada disso”, reage séria. O departamento de comunicação da emissora informa que “em momento algum se cogitou mudar o nome de Amores Roubados”. Isis andou dizendo que, se o Ibope da série aumentar por causa da fofoca com Cauã, que seja bem-vinda. “O que eu disse é que, se os pontos subirem, tudo bem”, corrige ela. É esperar para ver.
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