Ninguém melhor do que Irandhir Santos para falar sobre o cinema pernambucano. O Estado é conhecido, dentre muitos aspectos culturais importantes, pela qualidade de seus filmes, tanto nos roteiros, como no jeito que é rodado. E o ator, que nasceu em Barreiros, é fruto dessa arte. No cinema, Irandhir começou com “Cinema, Aspirinas e Urubus”, em 2009, mas foi após “A Febre do Rato” (2011) que se tornou mais conhecido. Na TV alcançou reconhecimento do grande público ao participar de duas novelas, “Meu Pedacinho de Chão” (2014) e “Velho Chico” (2016), e séries como “Dois Irmãos” e “Onde Nascem os Fortes”.
Agora, o pernambucano de 41 anos, além de estar arrasando nas telinhas como o ‘mafioso’ Álvaro, grande vilão de “Amor de Mãe”, estreia o longa “Fim de Festa”, de Hilton Lacerda, com quem tem uma parceria antiga. “Todos os momentos felizes que tive no cinema, lá estava presente o Hilton Lacerda. Vindo dele, é muito especial”, comenta Irandhir, que também foi protagonista de ‘Tatuagem’, sucesso de Lacerda. Na trama, o ator interpreta um policial que investiga um caso de assassinato logo após o término do Carnaval.
Já com relação a seu personagem na novela das 9h, ele revela: “Como todos os outros personagens, eu abraço com carinho, mas reconheço que tem sim uma carga emocional que pesa no final de dia pela postura que ele tem. Isso para o ator é incrível, já que amplia os horizontes como artista. É muito importante vivenciar coisas diferentes de quem você é, mas existe esse esforço extra”.
Batemos um papo bacana com Irandhir Santos. Confira! (por Jaquelini Cornachioni)
Glamurama: Pernambuco tem uma ligação muito forte com o cinema e você é fruto disso. De onde você acredita que vem essa ligação entre o Estado e arte?
Irandhir Santos: Essa é uma pergunta que sempre me faço. Pernambuco é um lugar com muita história, o cinema de rua lá é muito forte, mas ao mesmo tempo a gente tem, hoje em dia, uma gama de diretores que possuem uma versatilidade muito presente. Você encontra cineastas da mesma idade, mas que se você for assistir os filmes de cada um deles são temáticas completamente distintas. Com o Camilo Cavalcante você vê uma abordagem do sertão de maneira poética, mas se pega o Kleber Mendonça Filho, existe uma verve de crítica social muito forte. Aí tem o Cláudio Assis que traz uma denúncia logo no primeiro plano do filme. Então é um cinema muito versátil. Se for para identificar um traço potente que justifique essa ligação forte entre Pernambuco e o cinema, com certeza é essa versatilidade, mas tem muita coisa ainda a se desvendar.
G: Como foi fazer “Fim de Festa”?
IS: Prazeroso por ser do Hilton Lacerda mais uma vez. Estabelecemos essa parceria boa de amizade. Desafiador, porque não podemos cair na mesmice, temos que nos reinventar nesse sentido. Mas não tem como não ser especial. Se eu fizer uma retrospectiva dos trabalhos que já fiz, dos quais eu me orgulho muito no cinema, sempre vai ter um personagem do Hilton Lacerda. O meu primeiro protagonista, que foi em ‘A Febre do Rato’, tem roteiro de Hilton. ‘Tatuagem’ foi aquele marco que todo mundo sabe e agora ‘Fim de Festa’. Então todos os momentos felizes que tive no cinema, lá estava presente Hilton Lacerda. Vindo dele, é sempre especial.
G: O Álvaro, de ‘Amor de Mãe’, é bem diferente de outros que você já fez e de sua realidade. Como está sendo dar vida a esse vilão?
IS: Estou nessa levada com o Álvaro desde setembro e só vou conseguir me livrar dele no final da novela, que é em maio. Como todos os outros personagens, abraço com carinho, mas reconheço que tem, sim, uma carga emocional que pesa no final do dia pela postura que ele tem. Isso para o ator é incrível. Amplia os horizontes como artista. É muito importante vivenciar coisas diferentes de quem você é, mas existe esse esforço. Tento lidar da melhor maneira e também compensar. E uma dessas compensações é saber que o personagem está dando muito certo. Isso é satisfatório demais, me faz ter mais vontade ainda de fazer o Álvaro.
G: Como foi a preparação?
IS: Para entender o Álvaro precisei ir a alguns lugares que esse personagem possivelmente frequentaria. Então tudo se deu no âmbito espacial: restaurantes, clubes, festas, bairros. Locais, no geral, onde esse ser poderia estar. O Álvaro é um personagem muito distante da minha realidade. Mas com um olhar clínico e analítico, consegui fazer anotações e finalmente compor ele. E claro, também tiveram os ensaios. De qualquer forma, acho o Álvaro muito coletivo. Ele tem o meu olhar, mas também tem o olhar da diretora, da maquiadora, da figurinista, é uma junção de tudo isso. Acho que um dos grandes baratos na televisão é ter a construção de um mesmo personagem com todos esses olhares diferentes.