1. Na última semana o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou a estimativa de crescimento do PIB(Produto Interno Bruto) para o primeiro trimestre de 2011 com relação ao quarto trimestre de 2010: 1,3%. Ele revelou que a política do Governo (reduzir o ritmo de crescimento do consumo e acelerar o ritmo do investimento) dá sinais positivos.
2. O consumo das famílias caiu de 7,5% para 5,9% entre o 4º trimestre (4/T para simplificar) de 2010 para o 1º trimestre (1/T) de 2011, mas o consumo do Governo aumentou de 1,2% (4/T) de 2010 para 2,1% (1/T) de 2011, reduzindo o consumo geral em apenas 0,7%.
3. A boa notícia é que a taxa de investimento (a FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo) que caira fortemente (16,3% do PIB) no período mais agudo da crise (1/T de 2009) voltou ao patamar anterior de 18,4% do PIB. O seu financiamento foi: 15,8% do PIB de poupança interna e 2,6% do PIB de poupança externa (déficit em conta corrente), o que revela a necessidade de maior esforço da poupança pública para reduzir o déficit em conta corrente.
4. A taxa de poupança do Governo é muito baixa. Ele se apropria de 36% do PIB e investe apenas 1,5%. A atual propensão a poupar do Governo é 1,5/36 = 0,04, isto é, para cada Real que ele recolhe como imposto, ele dedica apenas 4 centavos para investimento em infraestrutura. No passado foi de 0,17. O setor privado que retém (depois de pagar os impostos) 64%do PIB, investe 14%, ou seja, tem uma propensão de 14/64 = 0,22. Em outras palavras, para cada real recebido, o setor privado investe 22 centavos.
5. Em principio para cada redução de 1% da carga tributária, a taxa de poupança (e, por hipótese, o investimento aumentaria em 0,18% do PIB). Para manter uma taxa de crescimento da ordem de 5% precisamos de uma taxa de poupança da ordem de 23% a 24% do PIB. Se supusermos um déficit em conta corrente (poupança externa) da ordem de 1% facilmente financiável, precisamos de uma poupança interna da ordem de 22% a 23%.
6. Esse exercício pedestre de aritmética mostra que nossas dificuldades só podem ser enfrentadas melhorando substancialmente o investimento do Governo (talvez de 1,5% para 3% do PIB) com o aumento da eficiência de sua gestão e sem aumentar a carga tributária. Além disso é preciso estimular fortemente o aumento da poupança privada de 14% para 20% do PIB e desenvolver um forte programa de estímulo para o aumento da sua produtividade.
7. Há um problema e tanto nos esperando na esquina…
Por Antonio Delfim Netto