1. Estabeleceu-se um cabo de guerra entre alguns “falcões” e o Governo. Eles sugerem uma dramática política de choque fiscal e monetário para trazer a taxa de inflação à meta de 4,5% no fim de 2011.
2. Para o governo, pelo menos na minha opinião, há tantas incertezas sobre como funciona a nossa economia e sobre as “teorias” simplistas que tentam explicá-la, que não convém tomar os riscos de um ajuste dramático pelo menos por dois motivos.
3. O primeiro é que quando olhamos a situação fiscal do Brasil (mesmo depois de alguns pecados veniais de 2010 devido à necessidade de sustentar a recuperação do PIB e do empego que haviam caído com a crise de 2009) ela compara-se muito bem com a dos países do resto do mundo que, em geral, não tiveram o nosso sucesso. O ajuste fiscal proposto pelo Governo dá todos os sinais (até agora) de que será cumprido e é suficiente.
4. O segundo é que nem os “falcões”, nem ninguém, dispõe de conhecimento necessário (e não há suporte empírico razoável) para estimar qual a queda do PIB e do emprego a que conduziria seu programa. Tais “falcões” são apenas portadores de uma religião que tentam vender como ciência. Juram sob sua própria Bíblia (o mercado livre e desregulado) que o PIB cairia para 3% em 2011, a inflação voltaria à meta já em dezembro e depois… cresceríamos “com equilíbrio” 4,5% ao ano até o fim dos tempos.
5. Há controvérsia! O que eles fingem não saber é que mesmo que sua “teoria” fosse correta, o que não é o caso, é impossível “calibrar” o choque proposto para obter o resultado que esperam. É possível que em lugar de crescimento de 3% do PIB, tivéssemos menos 1%, em 2011, voltando à recessão. Depois de amargá-la precisaríamos de 2 ou 3 anos para voltar aos 4% que provavelmente teremos em 2011. O alongamento do prazo de ajuste proposto pela autoridade monetária para voltarmos à meta de inflação de 4,5% parece ser o caminho mais seguro e com menor custo para a sociedade. E não se trata de transigir com o combate à inflação.
Por Antonio Delfim Netto