Já leu a coluna de Antonio Delfim Netto desta semana?

1. O grande esporte nacional é tentar demonstrar que a política econômica do novo Governo é incapaz de controlar a taxa de inflação que anda por volta de 6%. Ela se encontra perto do limite superior da “meta de inflação”, que é de 4,5%, com tolerância de 2% para mais ou para menos. Em outras palavras, o Banco Central deveria manobrar com seu único instrumento, a taxa de juros básica (Selic) para reduzir a taxa de inflação a 4,5% no fiml de 2011, custe o que custar.

2. Esse é um problema delicado porque temos uma história desagradável de convivência com a inflação. Apenas nos últimos 16 anos, após o bem-sucedido Plano Real, nossa inflação caminhou e se sustentou em níveis relativamente civilizados. A média da taxa de inflação entre 2007-2010 (segundo mandato de Lula) foi de 5,2%, com um crescimento anual médio do PIB da ordem de 4,5%.

3. As previsões dos que se consideram aptos a fazê-las e têm conveniência em divulgá-las estão distribuídas nos seguintes intervalos para 2011: a. taxa de crescimento do PIB – de 3,6% a 4,3% b. taxa de inflação – de 5.7% a 6,3. Não há nada de alarmante se considerarmos que o Governo, reconhecendo sua importância, tem utilizados todos os instrumentos a seu alcance (taxa de juros, controle do crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB, medidas macroprudenciais) para trazê-la de volta, num horizonte razoável, aos 4,5%.

4. A discussão fundamental se refere ao prazo em que aquele objetivo deve ser alcançado. Por um lado, é evidente que quanto maior o tempo (isto é, mais gradualista a política), mais complicada se torna a tarefa, uma vez que se deteriora a “expectativa” de inflação de volta à meta e os agentes acabam assumindo comportamento defensivo pelo aumento das incertezas. Os empresários, para obter segurança em suas margens, tentam aumentar os seus preços antecipadamente e os trabalhadores, para garantir o seu salário real, tentam obter aumentos de salário nominal mais elevados, o que torna difícil o controle da inflação.

5. Por outro lado, é também evidente que, se o prazo for muito estreito, é preciso uma política mais potente, com custos sociais muito maiores. A fixação do prazo tem que levar em contra a relação custo (o que vai sacrificar de PIB)/benefício (o aumento de eficiência produzido pela redução da inflação).

6. Não há, do ponto de vista empírico, nenhuma relação detectável entre taxa de crescimento do PIB e taxa de inflação, quando esta é menor do que 6% ou 7%. Logo, se temos confiança nos efeitos dos remédios que estamos aplicando (e o mercado os entende e aceita), voltar à taxa de inflação anualizada em torno de 4,5% no fim de 2012, parece uma estratégia que melhora a relação custo/benefício com referência àquela que imporia tal redução ao fiml de 2011. Talvez seja bom dar uma chance ao gradualismo da política econômica da presidente Dilma.

Por Antonio Delfim Netto

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