1. Durante a octaetéride lulista foi visível a má vontade de alguns comentaristas financeiros com relação à pessoa do presidente e mais ainda à política econômica dele. Esta deu ênfase ao desenvolvimento econômico e ao desenvolvimento social, atacando a pobreza e a desigualdade na distribuição de renda. Os pecados dessa política – que certamente existiram – eram sempre magnificados e os acertos – que foram muitos – deliberadamente diminuídos.
2. Explicar esse comportamento viesado exigiria, talvez, uma análise mais profunda. Três fatos parecem, entretanto, evidentes: 1º) uma divergência ideológica que vê qualquer preocupação social como manifestação de perigoso esquerdismo que se não for combatido no nascedouro, tende a alimentar-se e levar o país ao “socialismo autoritário”; 2º) uma pretensão dos críticos de que seriam os portadores das únicas políticas “científicas” que levam à “boa governança” e, 3º) que “sabiam” – apenas porque “sabiam”… – melhor do que a urna que elegeu Lula, quais são as “verdadeiras necessidades da sociedade brasileira”…
3. A Bolsa Família, por exemplo, que é um dos programas mais apreciados mundialmente para reduzir a miséria que Lula melhorou e ampliou, foi submetida a uma crítica ideológica impiedosa que via nela apenas um processo de construção de dependência da cidadania à volúpia eleitoreira do governo. Na verdade ninguém discute que o programa deve encaminhar sua própria destruição pela introdução de condicionalidades que levem os beneficiários a se qualificar e ganhar autoestima para conquistar a independência da ajuda do governo. Pouco e pouco, é isso que vai acontecendo.
4. O grave erro é ignorar que ao final e ao cabo – como costuma dizer um amigo – Lula prosseguiu e avançou na execução do programa estabelecido na Constituição de 1988. Nela, a sociedade brasileira revelou a preferência pelo tipo de organização social em que deseja viver: democrática, republicana e que, no tempo adequado, vá proporcionando igualdade de oportunidade para todos.
5. Os avanços foram muitos. Um exemplo significativo foi a ampliação da cobertura da previdenciária da população com mais de 65 anos. Em 1988 ela era de 84% e agora anda beirando os 99%. Hoje, de cada 100 brasileiros, 99 têm alguma forma de suporte previdenciário. Alguns fundamentalistas mais afoitos dizem que isso é uma “fábrica de vagabundos”. Com o envelhecimento da população brasileira esse é um problema que deve merecer toda a atenção do governo para construir um equilíbrio atuarial com financiamento estável.
6. As Pesquisas por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, para os anos de 1988 e 2008, registram claramente a redução das “distâncias” das remunerações dos indivíduos com e sem as transferências monetárias sugeridas pela Constituição. Sem as transferências monetárias, o índice de Gini (que mede aquela distância) caiu de 0,633 para 0,598 (5,6%) no período. Com os programas de transferências, ele cai de 0,614 para 0,543, uma redução de 11,6%! .
7. Isso talvez “explique” porque Lula terminou seu segundo mandato com a aprovação de 9 entre cada 10 brasileiros.
Por Antonio Delfim Netto