Já leu a coluna de Antonio Delfim Netto desta semana?

1. Os sinais dados pela nova Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, para orientar os seus ministros têm sido, na nossa opinião, corretos e alentadores, tanto na política interna como na externa. Tem assegurado o respeito aos contratos e reconhecido que nossos problemas sociais e econômicos não se resolverão num dia, mas exigem uma direção de longo prazo que deve ser perseguida com paciência, cuidado e obstinação.

 

2. Dois bons exemplos disso. O primeiro foi a sua resistência – abertamente expressa – à mudança de regras no cálculo do salário mínimo. O segundo, sua determinação explícita que um dos objetivos do seu governo será a revisão cuidadosa dos mecanismos de indexação que tendem a perpetuar e acelerar a inflação passada, como é o caso dos alugueis e da educação. O custo de tais indexações é um aumento da resistência da taxa de inflação ao seu clássico remédio que é a redução da demanda global produzida pelo aumento da taxa de juros.

3. Em poucas palavras, à medida que a rede de indexações permanece e transmite qualquer aumento eventual dos preços de um setor para os outros, o Banco Central precisa usar mais intensamente seu único instrumento de controle da demanda global: a taxa de juros. Qual a conseqüência desse fato? Uma taxa de juro real maior do que a que seria necessária na ausência de “indexação” que produz uma redução da produção interna de bens e serviços e um aumento das importações, reduzindo, ao mesmo tempo, o crescimento do PIB e do emprego.

4. Nessa “rede” de transmissão de efeitos das “indexações”, nada é mais poderoso e malévolo do que os vínculos que aos poucos transformou o salário mínimo numa espécie de “unidade de conta” que a todo momento ameaça a estabilidade fiscal, produz mudanças na “expectativa de inflação” e reduz a eficiência da política monetária. Basta dizer que nas condições atuais de pressão e temperatura, o aumento de um Real no salário mínimo representa quase 300 milhões de Reais de acréscimo aos dispêndios públicos.

5. O salário mínimo é um instrumento. O seu aumento real acompanhando o crescimento da produtividade média da economia, é uma questão importante num país onde o “exercito industrial de reserva” ainda é imenso e, infelizmente, pouco preparado para executar com proficiência os trabalhos exigidos pela moderna economia. No governo FHC iniciou-se um programa de valorização do salário mínimo que foi radicalizado (até aqui muito bem) no governo Lula. Os resultados da “rede” desta valorização vêm criando problemas com o aparecimento de uma “classe jovem ociosa” que vive das aposentadorias dos seus avós…

6. Os efeitos de perder o cabo de guerra comandado pela parte mais duvidosa do sindicato nacional representarão um choque negativo nas “expectativas de inflação”. Aumentar o salário mínimo para 580 Reais representará um aumento de dispêndio muito próximo de dobrar o valor atual da Bolsa Família, programa infinitamente mais eficiente. Além de reduzir a pobreza vai, lentamente, preparando seus recipientes a encontrarem seus próprios mecanismos de ascensão social.

Por Antonio Delfim Netto

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