Já leu a coluna de Antonio Delfim Netto desta semana?

1. O desenvolvimento, antes de ser um problema econômico, é um problema termodinâmico. Qualquer sociedade (não importa se tribal ou altamente tecnológica) precisa capturar a energia dispersa em seu habitat (na forma de madeira, grãos, frutas, animais, vento, água, carvão ou petróleo) e encontrar formas tecnológicas de dissipá-la na produção dos bens e serviços de que necessita para sua sobrevivência. Para o nômade (que há pouco mais de que 10 mil anos começou a se fixar) a energia era, basicamente a caça (que começou a “domesticar”) e a madeira e o fogo para cozinhá-la e torná-la mais palatável e digerível. O homem moderno, basicamente concentrado em aglomerações urbanas, tem como sua maior fonte de energia o petróleo.

2. O problema é que “descobrimos” que a mesma energia que nos deu tanta abundância desde o meado do século 18 (a população mundial foi multiplicada por seis, os bens e serviços per-capita também por sete, e a esperança de vida ao nascer passou de 35 para 70 anos desde 1750) é a mesma que pode tornar nossa vida insuportável na face da Terra, pelos efeitos que está produzindo no aquecimento médio do planeta, com a emissão de gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono, CO2.

3. Estamos diante de um impasse, porque a produção de bens e serviços (o PIB) gera, simultaneamente, CO2-eq (todos os gases de efeito estufa medidos como equivalentes de CO2). PIB e CO2-eq são irmãos siameses. São produção conjunta! Da mesma forma que não se pode produzir carne bovina sem produzir couro! Logo, o que importa para reduzir o aquecimento global é reduzir a relação CO2-eq/PIB, ou seja, a quantidade de CO2 por unidade do PIB produzido.

4. É o reconhecimento desse fato que está levando à corrida dos biocombustíveis para a descoberta de tecnologias que, paradoxalmente, serão a volta às energias que usamos nos primórdios da nossa história: a madeira, a água e o vento. A batalha é dura. O petróleo que a natureza produziu em bilhões de anos tem uma concentração de energia ainda insuperável: há 100 anos, a relação entre energia gerada de petróleo e energia gasta para produzi-la, era da ordem de 80 para 1. Hoje, em razão dos aumentos de custos e dos riscos é ainda de 15 para 1. No etanol da cana-de-açúcar é de 8 para 1.

5. A substituição será lenta. A não ser por uma descoberta revolucionária, mesmo com grande esforço de pesquisa, os biocombustíveis não serão mais de 15% a 20% da energia em 2050. É por isso que o petróleo, provavelmente, será ainda a maior fonte de energia. Sua exploração, entretanto, encontra cada vez mais obstáculos.

6. Apenas para dar um exemplo: a exploração de petróleo no arquipélago de Abrolhos, no litoral da Bahia, foi suspensa por uma liminar obtida pelo Ministério Público em 2003. Ela só foi cassada em dezembro de 2010!

Por Antonio Delfim Netto

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