1. Este é um momento paradoxal. 87% dos brasileiros apoiaram o Presidente Lula e 80% aprovaram o seu governo. Quase 60% revelam sua esperança na administração da nova Presidente. Entretanto, um pequeno grupo de “intelectuais” (economistas, sociólogos, politicólogos e outros “istas” e “logos”) insiste em procurar pecados capitais no velho governo e disseminar a descrença e a desconfiança sobre o novo. É evidente que Lula cometeu erros na sua octaéteride, entretanto é ainda mais evidente que os acertos da sua política social e econômica foram maiores e, postos na balança, pesam mais do que os primeiros. Quanto ao novo governo, ele mal começou. Pelo menos, merece o voto de confiança que a urna lhe concede.
2. As críticas quando se referem à ineficiência gerencial do governo ou às eventuais violações do enquadramento construído pela Constituição de 1988, são mais do que benvindas. São, de fato, necessárias para combater o aparelhamento do Estado e os desvios ideológicos, que destroem a organização social desejada pelos brasileiros: democrática, repúblicana e em permanente perseguição da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. É esta última que dá respeitabilidade moral à economia de mercado bem regulada.
3. As críticas fora de lugar são as que exigem do governo uma política social e econômica que não corresponde à preferência revelada na Constituição de 1988 que, na opinião dessa minoria, não respondem aos seus próprios anseios ideológicos. No caso de alguns economistas essa ideologia se esconde atrás de uma “ciência”. A falsa suposição é que se tal ciência se fosse conhecida por todos e todos se comportassem como ela exige, a felicidade seria geral…
4. Uma das mais graves restrições a tal ciência é o tratamento que dá aos aspectos humanos que envolvem o mercado de trabalho. A força de trabalho é tratada como um bem igual a qualquer outro (um parafuso, por exemplo) e se tenta demonstrar que quanto menos direitos se dá ao trabalhador, mais eficiente (no modelo abstrato) a sua alocação no sistema produtivo. O pequeno problema é que essa “receita”, por sua incita imoralidade, não resistiria à prova das Urnas…
Por Antonio Delfim Netto