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Beatriz Milhazes entre as caixas de transporte das obras para Fortaleza e (à dir. ) a tela "Moreno", de 2005, que pertence à coleção particular do Chancelere Aírton Queiroz. Pela primeira vez para o público no país, a obra tem 3X3 metros. Para colocá-la na casa do Chanceler, foi necessário que cavassem o chão.
Beatriz Milhazes entre as caixas de transporte das obras para Fortaleza e tela “Moreno”, de 2005, destaque da exposição que pertence à coleção particular do Chanceler Airton Queiroz. Pela primeira vez para o público no país, a obra tem 3X3 metros. Para que fosse instalada na casa do Chanceler, foi necessário que cavassem o chão || Créditos: Verrô Campos

Esqueça o estereótipo do artista malucão, que é puro instinto. Glamurama foi a Fortaleza para a abertura da exposição “Coleção de Motivos”, de Beatriz Milhazes, no Espaço Cultural Unifor, mantido pela Fundação Edson Queiroz. São obras da artista dos anos 90 até hoje, que estabelecem uma trajetória dos motivos usados por Beatriz, como flores, fios de pérolas, alvos, rendas, listras e cajus. Para o Glamurama com exclusividade, ela conta sobre o seu processo, próximas exposições inéditas neste ano e muito mais. A artista viva brasileira mais cara do momento avisa: “Gosto de ordem!”.

Glamurama: Como você se sente abrindo uma exposição fora do eixo São Paulo-Rio e internacional?
Beatriz Milhazes: Eu fiz questão de colaborar para que essa mostra acontecesse porque acho muito interessante o trabalho da fundação Edson Queiroz em termos de Brasil. Essa união da universidade com uma fundação que tem um programa, tanto de aquisição de obras, quanto de mostras, é rara no Brasil. Todo mundo deve apoiar e Fortaleza deve agradecer por ter este espaço aqui funcionando assim.

Glamurama: Aproveitando o nome da exposição, “Coleção de Motivos”, qual é o seu motivo para pintar?
Beatriz Milhazes: Meu motivo é a própria vida, a vida é sempre é muito estimulante. Estar viva, poder ser artista e desenvolver um trabalho pensando nela como um todo.

Glamurama: Sua arte tem uma geometria rigorosa. Você leva esse rigor para o seu dia-a-dia?
Beatriz Milhazes: Na verdade sou uma pessoa disciplinada, o que me ajudou no desenvolvimento da minha carreira internacional, quando eu tive que refazer todo o meu dia-a-dia. Gosto de ordem, posso criar a minha própria ordem na pintura, enquanto na vida eu tenho que lidar com o mundo real, interagir com o mundo.

Glamurama: Como é o desafio de buscar algo novo dentro da repetição destes motivos?
Beatriz Milhazes: É o meu processo. Eu introduzo elementos, estes elementos criam uma reação em cadeia, que abre portas, e essas portas vão gerar novos elementos e novas situações. O que faz com que alguns motivos me acompanhem durante um tempo e finalmente comecem a morrer, até desparecerem da obra e não voltarem mais às telas.

Glamurama: Você busca novos suportes para o seu trabalho?
Beatriz Milhazes: Até 1996 eu só trabalhava com pintura. A partir daí comecei a trabalhar com serigrafia, que aqui [na exposição] tem vários exemplos dessas séries. Em 2003, eu comecei a fazer colagem de papel sobre papel e em 2004 a desenvolver obras arquitetônicas, ou “site especific”, ou mesmo obras públicas, que eu já tenho duas permanentes. Minha irmã tem uma companhia de dança contemporânea e eu faço os cenários dos balés dela. Essas diferentes linguagens, no fim, acabam interagindo entre elas, não ficam estáticas. A pintura seria ainda o tronco, uma espécie de matéria-prima do meu pensar, mas hoje existe uma interação. A colagem informa coisas para a pintura, as gravuras informam para a colagem, a colagem informa para a gravura…e por aí vai.

Glamurama: Você surgiu na chamada Geração 80. Se sente parte de um movimento artístico específico?
Beatriz Milhazes: Não. Em termos de Brasil, os anos 80 foram muito ecléticos. A coisa mais importante naquele momento era ser livre para fazer o que quisesse, porque foi um momento de abertura pós-ditadura. Acho que os artistas da década de 70 foram praticamente condenados a sempre fazer uma arte política. Alguns se identificaram, outros desapareceram quando não tinham mais aquela motivação. Os artistas que estavam escondidos, pintando no quarto (risos), puderam finalmente mostrar os seus trabalhos. Talvez seja das gerações [a dos anos 80] que mais deixou quantidade com qualidade de artistas na história brasileira. O grupo é relativamente pequeno se comparado com o número que existia, mas grande se você olhar cada geração. E não é marcado por uma linha, na época foi marcado pela pintura, mas muitos destes pintores deixaram de ser pintores e foram para o conceito, então há esta variação.

Glamurama: Que artistas você tem pendurados nas paredes de sua casa?
Beatriz Milhazes: A maioria é de amigos com quem fiz trocas no passado. Tem alguns artistas também estrangeiros, mas em geral artistas da minha geração: Leda Catunda, Daniel Senise, Chico Cunha [que foi casado com Beatriz]. Entre os estrangeiros tenho Peter Doig, um artista inglês, e Noah Schnoll, artista israelense já falecida; gosto muito do trabalho dela.

Glamurama: Pude perceber que você não está nas redes sociais. Por que?
Beatriz Milhazes: Não [risos], na verdade sou uma pessoa muito responsável, nunca vou poder participar de uma coisa dessas. Não sei como me comunicar numa rede social, eu respondo a todos os e-mails e mensagens. Os meus amigos reclamam e falam: ‘Mas só precisa postar’. Mas por que vou postar isso se não me interesso nem pelo que a pessoa vai responder? Tem tanta coisa para fazer, eu preciso me concentrar e trocar uma real informação. Eu entendo o lado da divulgação, tenho os meus assistentes, que são jovens que acham isso bárbaro, se comunicam muito bem nisso. Eu acho interessante vir numa mostra, fotografar, postar, isso realmente é uma forma de divulgar, acho bacana, mas realmente não sei como como participar. Gosto de Whatsapp, sms, porque é localizado, eu estou mandando a mensagem para você. Mas essa coisa que abre um leque, que você não sabe para quem está mandando… Aí me dizem: ‘Não, você sabe, só para os seus 200 amigos’. Nossa! Não sabia que eu tinha 200 amigos! [mais risos].

Glamurama: Qual é o seu lugar preferido no mundo?
Beatriz Milhazes: Eu acho que é o Rio é o lugar onde me sinto melhor, com certeza.

Glamurama: Quais são os próximos projetos depois daqui?
Beatriz Milhazes: Vou abrir uma exposição no dia 12 de março em Hong Kong, na White Cube. Achei engraçado, Fortaleza e Hong Kong. E também abro outra na minha galeria de Nova York, a James Cohan.  As duas exposições são de obras inéditas, não são de coleção como esta [“Coleção de Motivos”]. Em Hong Kong, serão colagens com uma pintura e, em Nova York, só pinturas. Estou trabalhando nas duas mostras há mais de um ano.

Glamurama: O documentário sobre você, “A Arquitetura da Cor”, de José Henrique Fonseca, está com lançamento previsto para março. Não é?
Beatriz Milhazes: Melhor perguntar para o Zé Henrique (risos). Olha, eu me nego a falar datas, já houve algumas previsões e por alguma razão, que eu também desconheço, não aconteceram. Mas neste ano deve sair com certeza, o documentário está pronto.

Glamurama: E como foi essa experiência?
Beatriz Milhazes: Foi ótimo, sou amiga da Bia Correa do Lago, que é irmã do Zé Henrique, mas não o conhecia. Com este projeto nós imediatamente nos demos bem, e também com todo o pessoal envolvido. Foram 4 anos, já viramos amigos. Foi uma experiência interessante, difícil para mim filmar o meu ateliê, trabalhando, mas eu pensei: ‘Já que vamos fazer um documentário, isso será o ponto mais interessante, mostrar o processo que quase ninguém vê’.  Às vezes, as pessoas vêm uma mostra como essa e parece que tudo caiu das estrelas.

Por Verrô Campos

Siga a seta e confira algumas das obras na exposição “Coleção de Motivos”. Logo abaixo, o trailer de “A Aquitetura da Cor”, documentário sobre Beatriz Milhazes.

“Coleção de Motivos”, Beatriz Milhazes
De 27 de fevereiro a 24 de maio
Espaço Cultural Unifor, campus da Universidade de Fortaleza, Av. Washington Soares, 1321, Fortaleza

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