A intenção de Deborah Secco no filme “Bruna Surfistinha” era fazer uma imersão na personagem para poder representar com a maior veracidade possível os sentimentos da garota de programa, que, para Deborah, era muito mais importante do que as cenas de sexo em si. Ela conseguiu, mas é inegável que certas cenas falam muito mais alto do que qualquer sentimento.
* A história de Bruna, ou Raquel, todo mundo conhece. Menina de classe média, rejeitada e usada por colegas da escola, sai de casa para virar prostituta e se descobre outra pessoa. Muda de nome e de postura, se sente poderosa, até que cai no vício da cocaína, encontra más companhias e se deixa levar pela ambição.
* A cena mais forte, sem dúvida, é o momento em que Bruna está em um bordel barato, depois de gastar todo o dinheiro em pó, e uma fila enorme de clientes de nível bem inferior ao que ela está acostumada a aguarda, entrando seguidamente, sem intervalos. Ali, sim, pode-se dizer que Deborah transmitiu os sentimentos.
* A raiva da rejeição, o desespero de não ter ninguém a quem recorrer e a fraqueza de deixar o vício a levar àquela calamidade, foi talvez a cena mais surpreendente do filme. De resto, a história foi contada sem maiores sobressaltos, quase linearmente, sempre trazendo de volta a imagem da menina com jeito de moleca que saiu de casa com uma mochila nas costas e um bichinho de pelúcia.