Sucesso na TV nos anos 1990 com novelas como ‘Pantanal’ (1990), ‘Mulheres de Areia’ (1993) e ‘Por Amor’ (1997), Giovanna Gold deu uma sumida dos holofotes. Reapareceu como a vilã de ‘Chiquititas’ (2013-2015). Por conta da pandemia, assim como outros atores, se distanciou dos palcos e das câmeras, mas encontrou um modo de unir o útil ao agradável. Aos 56 anos, Giovanna, que estava em cartaz no teatro antes do isolamento social, decidiu desenvolver um aplicativo que ajuda atores a decorarem texto. Mas faz questão de deixar bem claro que não pretende abandonar a atuação: “É a profissão mais perto de Deus, que possibilita criar uma pessoa que existe no imaginário coletivo”. Em entrevista ao Glamurama, a divertida interprete de Zefa de ‘Pantanal’ (Lembra? Par romântico de Tadeu, vivido por Marcos Palmeira) confessa que quer sair do país assim que for possível “não tô podendo com essa desordem mental e incompetência” e manda sincerão sobre reprises e o remake da novela de Benedito Ruy Barbosa na Globo.
Glamurama: Por onde andava Giovanna Gold nos últimos tempos?
Giovanna Gold: Fiz um espetáculo antes da pandemia, estou afastada dos palcos por causa da natureza. Não estou afastada da minha missão como atriz, só estou em isolamento social. Me amo muito para me expor a um ser insignificante que não vejo. A pandemia acabou me dando sorte, passando esse tempo em casa descobri que sou uma criadora. Nunca fiz nada de informática, mas consegui fazer a página web, as propagandas… estou fazendo isso enquanto não terceirizo o marketing. Comecei o projeto em 2019. A ideia era que ficasse pronto em maio 2020, quando estávamos no auge da pandemia. Até que decidi entrar com outros idiomas no aplicativo, além do português. Desta forma se abriu um leque. Para o lançamento, fiz uma numerologia para saber qual seria o melhor nome e data de ‘nascimento’.
G: Conta para a gente como funciona o aplicativo para memorização de texto criado por você?
GG: O aplicativo foi pensado para os atores. Ele basicamente grava a cena toda, as falas e as deixas. Depois você pode escutar como preferir, repetindo, voltando […] Para salvar, ele possui categorias: aula, cinema, televisão, palestras e apresentação. Desta forma, funciona para qualquer pessoa que deseja memorizar textos.
G: Quais seus planos com ele?
GG: Na verdade, meu plano é sair deste país porque eu não tô podendo mais com essa desordem mental e incompetência. Não quero assistir de novo a discussão entre esquerda e direita, isso não me pertence. Eu sou anarquista, a favor da liberdade pessoal, da criatividade, do pensamento. Não quero assistir isso na próxima eleição. Meu plano é ter um produto internacional. Não quero morar em um país definido, quero passar três meses em um lugar, três meses em outro. Só não quero mais ficar vinculada à cultura do ódio, junto com a pandemia.
G: Por causa da paralização das produções na TV, várias novelas estão sendo reprisadas. Outras foram adicionadas ao GloboPlay, como ‘Mulheres de Areia’, que tem você no elenco. Acha interessante rever alguns papéis?
GG: Acho bom demais. ‘Mulheres de Areia’ está entre as top 10 segundo o livro do Boni. Dei muita sorte na profissão. Não sou daquelas atrizes que fizeram 400 novelas, que sai de uma e vai para a outra, mas as que fiz têm um peso na história da televisão. Alzira Magrela é uma das [personagens] mais marcantes. Me chamam de Magrela até hoje. Tem um lado meio chato nisso, porque tinha 26 anos quando fiz e não vou ter essa idade pelo resto da vida. As pessoas têm uma fantasia daquela pessoa congelada […] Penso em fazer bem feito, já fiz, já deu, foi tudo lindo e deu. Ver de novo parece aquele café requentado, acho meio besteira. É nostálgico me ver jovem, mas agora eu sou quem sou, melhor e louca para ser vacinada. Não revejo, mas fico feliz de ter fãs até hoje, que assistem ‘Pantanal’, ‘Mulheres de Areia’, ‘Chiquititas’…
G: A Zefa, de ‘Pantanal’, Magrela, de ‘Mulheres de Areia’, e Carmen, de ‘Chiquititas’ foram seus principais papéis. Você ainda colhe frutos desses trabalhos?
GG: A Kátia de ‘Por Amor’ também foi especial, a personagem Aline de ‘Mil e Uma’, filme de Suzana de Morais, que foi subvalorizado. Essa obra é cheio de metalinguagem e foi o primeiro trabalho do Alexandre Borges sem ser no teatro. Ele era meu parceiro, meu par romântico. Esse filme mora no meu coração.
G: O que espera do remake de Pantanal que vai ser produzido pela Globo?
GG: Não espero nada (risos). Será que vai ter aquela magia? Os tempos eram outros, não existia internet […] O grande trunfo foi a paz de espírito que a produção trouxe, o amor, as relações familiares, amorosas…
(por Baárbara Martinez)