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Na novela, Clara se apaixona por Marina (Tainá Müller)

Por Paulo Sampaio para revista Joyce Pascowitch de março

A beleza das mulheres na família de Giovanna Antonelli tem sido decantada há pelo menos três gerações. “Vovó é um absurdo”, diz a atriz, mostrando no celular a foto de uma senhora de inacreditáveis 92 anos. Dona Isabel aparece ao lado de Suely Antonelli, a mãe de Giovanna, igualmente conservadíssima aos 71. Ex-integrante do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio e também do balé da TV Globo, Suely participava da apresentação de programas como “Fantástico” e “Chico City”. Giovanna, aos 37, faz jus à forma de vovó e de mamãe, embora não seja do tipo que se sente naturalmente estimulada quando entra em uma academia. Por isso mesmo, ficou surpresa ao se ver envolvida com o chamado cross fit, uma mistura das ginásticas funcional, olímpica e aeróbica com musculação. “Sou hiperansiosa. Com uma hora de treino, já começo a bodear. Mas, no cross fit, que a gente faz na praia, não tem rotina. Num dia você corre 1,1 quilômetro, faz abdominal nas argolas e step. No outro, eles colocam dez canos de PVC na areia, cada um deles com um papelzinho onde está escrita uma tarefa. Quando você se dá conta, o treino acabou.”

Para construir Clara, sua personagem na novela “Em Família”, das 9, Giovanna Antonelli preferiu buscar ajuda no balé clássico. Diz que precisava de algo leve, que a auxiliasse a apagar o registro de seu último papel na TV, a Helô de “Salve Jorge”. “Queria sair da delegada, dar uma suavizada”, explica. Na história, ela faz uma mulher casada há dez anos com Cadu (Reynaldo Gianecchini), com quem tem um filho de 8, Ivan (Vitor Figueiredo), e vive uma relação aparentemente estável, até que se apaixona por Marina (Tainá Müller). “Cada vez que gravo com a Giovanna fico mais impressionada. Ela é tão espontânea em cena que navega ali na mais pura intuição. Ela faz parecer fácil o que é difícil para caramba. É realmente um dos grandes talentos da sua geração”, elogia Tainá. Graças a Félix (Mateus Solano) e Carneirinho (Thiago Fragoso), que no último capítulo de “Amor à Vida” derrubaram o tabu do beijo gay em um novela, Giovanna e Tainá se livraram desse precedente. Mesmo assim, a pergunta que mais ouvem ainda é: vai ter beijo? “Isso é o de menos no contexto do personagem”, acredita Giovanna. “O importante é contar bem uma história de amor, levar o público a embarcar nela, não importa se com um homem ou uma mulher.”

É a primeira vez que Giovanna Antonelli vive uma homossexual (bissexual, se preferir) em uma novela. Ela parece encantada com a possibilidade de “trazer uma coisa nova” para o público. Afirma que se considera uma pessoa de sorte por conseguir personagens diversificados. Isso vale para o cinema, que ela faz sempre que consegue conciliar com sua agenda na televisão. Agora no fim do mês estreia o filme “S.O.S. Mulheres ao Mar”, no qual ela também contracena com Reynaldo Gianecchini. Faz o papel de uma mulher que embarca em um cruzeiro marítimo para tentar reconquistar o ex-marido (Marcello Airoldi), que a trocou por uma estrela de novelas (Emanuelle Araújo). No navio, encontra o estilista vivido por Gianecchini e então o destino dela toma outros rumos. “A Giovanna é minha parceira na vida, amiga querida e grande profissional. Fizemos muitos trabalhos juntos, dividimos momentos importantes e, agora, somos sócios em um projeto pioneiro no Brasil de alimentação saudável”, diz Giane. A dupla acaba de inaugurar, no Itanhangá, Barra da Tijuca, o restaurante Pomar dos Orgânicos.

Dez Filhos

Enquanto a maquiam, nossa capa diz que gosta de posar para fotos porque é uma hora em que pode brincar mais livremente com a câmera, inventar poses, olhares, experimentar sobreposições de peças que talvez não tivessem o mesmo efeito longe do aparato de refletores e dos gritos de “linda!”. “De  certa maneira, é algo que alimenta a nossa arte. Nos faz criar em outro contexto.” A conversa no camarim vai indo, ela fala de filhos, de como gosta de ser mãe de três (Pietro, 9, com o ator Murilo Benício; e as gêmeas Sofia e Antônia,  3, com o diretor de novela Leonardo Nogueira, que a dirige em “Em Família”); e do desejo de engravidar mais. “Se felicidade tivesse um som, seria o da risada de uma criança.” Para dar uma ideia de como a experiência da maternidade a deixa feliz e de como tira de letra a parte inconveniente, ela conta que quando estava esperando as gêmeas gravou a novela “Viver a Vida” até o sexto mês de gravidez. Menos de um ano depois, já estava em “Aquele Beijo”. É verdade que a estrutura para ajudá-la com os bebês era boa: “No início das gravações, em Cartagena, foi todo mundo comigo, mãe, sogra, babás, filho mais velho”. Ela suspira e diz que, se pudesse, teria dez filhos. E por que não pode?

Nesse ponto, ela fica repentinamente séria. Passa a falar de suas preocupações com o futuro do país e das gerações que virão. Giovanna lamenta o que chama de “falta de generosidade” entre as pessoas; ela acredita que o Brasil tem seguido por “um caminho complicado”. Apesar de se considerar “super-otimista, uma mulher de fé”, não vê “as coisas se realizando”. Sua queixa é em relação ao descaso dos políticos, à falta de retorno em saúde e educação daquilo que o contribuinte paga em impostos. Cita a Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, um gigantesco complexo cultural cujo projeto assinado pelo francês Christian de Portzamparc custou à prefeitura do Rio mais de R$ 500 milhões e só foi inaugurado cinco anos depois do previsto, em 2013, debaixo de muita polêmica. Indignada, ela acredita que “você não pode gastar aquela fortuna num ‘monumento’, sem antes oferecer o básico de educação para a população”.

Moranguinho

Então, a atriz dá algumas sugestões às autoridades. Primeiro, que os titulares das pastas no governo sejam obrigados a utilizar, enquanto estiverem no cargo, os serviços públicos que administram. O secretário de Transportes, por exemplo, passa quatro anos andando apenas de ônibus. O da Saúde, se tratando em hospitais públicos. O da Educação matricula os filhos numa escola estadual. Ela sugere também que o contribuinte possa dizer para aonde vai o dinheiro que pagou de imposto. “Na verdade, eu queria ser a Moranguinho”, diz ela, associando seu lado quixotesco à bonequinha com cheiro de fruta que foi a alegria das crianças nos anos 1980. Pausa. Giovanna segura o ar enquanto o maquiador opera uma espécie de microcirurgia com o curvex para fixar o cílio postiço. “Esse cílio vai ficar aí até a próxima capa. Tá amarrado, em nome de Jesus!”, diz ela.

Religião, ela não tem. Quer dizer: não uma só. Afirma que acredita em todas, reza para tudo. “Antes de existir a moda do sincretismo, eu já era assim”, garante. E por falar em reza, e em proteção, como será que ela enfrenta as intempéries de um ambiente como o da TV, tão egóico, competitivo, cheio de estrelismos? Em seu rosto já maquiado, surge uma expressão de espanto que quer dizer algo como: “Do que você está falando?”. Giovanna Antonelli afirma que em 20 anos de TV Globo jamais sentiu nenhuma tentativa de minar sua segurança, nem da parte de colegas, nem de diretores, figurinistas, iluminadores, nada. Remotamente, porém, caso desconfiasse de algo nessa linha, “eu saberia manipular a pessoa sem que ela jamais percebesse, posso ser um monstro”. “É por isso que eu não faço análise. Tentei, mas acabei percebendo que manipularia o analista. Pra mim, funciona melhor um bom clínico-geral e remedinho.” Sim, nem tudo são flores. Para dimensionar sua ansiedade, ela diz que quando grava o primeiro capítulo de uma novela, já está de olho no centésimo. Garante que não se importa com o tamanho do papel (“Me dá que eu faço”), e diz que se não for exatamente incrível,  pensa: “Fica na sua e faz o que é seu que uma hora acaba”.

Hora da foto. Giovanna caminha para o estúdio toda vaporosa, saltão, carão, sorrisão, cabelão, tipo zero chance de não ficar fabulosa. Logo de saída, na primeira série de cliques, ela faz uma “ponte”: fixa os pés e as palmas das mãos no chão, enquanto alonga o abdome em curva para o alto, todo trabalhado no cross fit; pose seguinte: sentada no chão, suspende o pé até a cabeça, esticando completamente a perna. “Usa o balé, amiga”, diz sua assessora, enquanto o flash espoca. Num terceiro momento, ela apoia as costas no tampo de uma mesa grande de madeira e abre os braços estendidos. A porção ginasta de Giovanna Antonelli parece ainda mais incrível quando ela diz que neste mês completa “três oitão”. Conta que adora comemorar aniversário, mas nem sempre consegue fazer uma festa do tamanho da que gostaria. Da última vez, aos 33, teve show do Sidney Magal, bateria do Salgueiro e karaokê: “O povo ficou até o dia amanhecer”, conta. “A próxima grande vai ser a dos 40. Já tô bolando.” Dá para fazer uma ideia.

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