Letícia Spiller fica nua em peça. Bastidores e entrevistas, aqui!

Letícia Spiller, o elenco e a equipe da peça confraternizando, Letícia com Rosamaria Murtinho e Stella, a filha de Letícia, nos bastidores || Créditos: Juliana Rezende

No último fim de semana, Leticia Spiller e Rosamaria Murtinho estrearam “Doreteia”, de Nelson Rodrigues, no Teatro Tom Jobim, dentro do Jardim Botânico do Rio, sob a direção de Jorge Farjalla. Leticia fica completamente nua [mesmo] em cena, no meio do palco, para dar vida a uma prostituta que perde o filho e vai buscar abrigo na casa de primas – todas feias, puritanas e invejosas.

As parentes a obrigam a destruir sua beleza para poder viver com elas. Essas primas são vítimas de uma maldição: não conseguem enxergar homens, só vivenciaram o sexo uma vez na vida, na noite de núpcias, e sentiram náuseas. Então, elas negam o próprio corpo, os sentimentos e o sexo. Para contar essa história, o ator André Américo também fica totalmente nu, sem nenhum tipo de pudor. E essa nudez, que de repente passa a ser enxergada pelas mulheres dessa família, desencadeia uma tragédia.

* A gente visitou os bastidores do espetáculo, que fica em cartaz até 3 de abril, e conversou com Letícia e Rosamaria sobre inveja, sexo, tabu e mais. Vem ler! (por Michelle Licory)

Glamurama: Que poder tem a inveja? Todo mundo sente inveja?

Letícia Spiller: “Quem sente está automaticamente sempre atraindo essa energia pra si mesmo. Mas acho que todo mundo sente inveja, sim, em graus diferentes”.

Rosamaria Murtinho: “Esse é o único dos pecados que aceito em alguém, numa boa. Acho até gostoso sentirem inveja de mim. Mas sempre digo que Deus me deu esta profissão, mas não me fez uma atriz invejosa. Isso é uma dádiva”.

Glamurama: Na carreira de atriz, esse sentimento fica bastante evidenciado. A inveja pode vir de colegas e até de parte do público… E pode ser disfarçada de admiração. Como lidar? Como se proteger?

Leticia Spiller: “A natureza é sempre uma fonte de se reabastecer de energia. Procuro fazer coisas que equilibrem meus chacras, como a ioga, e orar sempre pedindo proteção e luz para todos”.

Rosamaria Murtinho: “Precisamos ficar atentos. Tem pessoas invejosas realmente que demonstram de outra forma, por exemplo, humildade exacerbada. Apesar de ser uma pessoa que fala muito, sou muito observadora. E, quando percebo esse sentimento em relação a mim, me afasto tranquilamente, mas perdoei uma pessoa que foi invejosa comigo. E espero que eu também seja perdoada dos meus erros”.

Glamurama:  Já foi desconfortável ser bonita em alguma fase de sua vida?

Leticia Spiller: “Quando fui indicada pra fazer o filme ‘Tudo que Deus Criou’, a personagem que era pra mim na trama não podia ser bonita e o diretor então não queria nem que eu fizesse o teste. Mas pedi pra ele me dar uma chance de desconstruir a minha beleza pra eu poder mostrar pra ele que seria possível o papel ser meu. O que me encanta nessa profissão é poder ter a oportunidade de me desconstruir por fora e por dentro”.

Rosamaria Murtinho: “Já tive fases em que estive muito bonita. Mas nunca foi desconfortável porque eu tirava de letra. Sou uma pessoa simples”.

Glamurama: Desfrutar livremente do sexo ainda é um tabu? É por isso que Nelson Rodrigues segue tão atual?

Leticia Spiller: “Não só por isso, essa peça faz parte do ciclo mítico do Nelson. A mensagem vai além da história, do sexo propriamente dito. Fala da humanidade, da falta de amor que gera a tragédia”.

Rosamaria Murtinho: “Para algumas pessoas, sexo ainda é tabu, sim. Talvez por inveja [de quem não desfruta]. Acho que Nelson é o melhor autor brasileiro. É por isso que ele segue tão atual e difícil. Tá sendo uma ‘pedrada’ fazer esta peça. Na maturidade, o sexo não é mais um tabu. Cada um entenda como quiser!”

Glamurama: Qual foi o maior desafio na construção de sua personagem?

Leticia Spiller: “No início, eu chorava toda cena que fazia, me emocionava de verdade. Aos poucos, fui adquirindo o distanciamento necessário pra poder dar a vida a ela. A maior dificuldade dessa personagem é que ela está sempre em contradição”.

Rosamaria Murtinho: “Esse é processo tem sido muito intenso, porque Dona Flávia [seu papel] é bem distante do que sou no dia-a-dia. Essa desconstrução me provocou uma outra forma de me construir, já que este papel é diferente da maioria dos que já fiz na minha carreira”.

[galeria]4127571[/galeria]

 

 

Sair da versão mobile