“Era um barato ser uma das únicas crianças na companhia daquele bando de roqueiros”, contou Theodoro Passos Reis, ou Theo, ao Glamurama sobre sua infância. Rodeado pelo universo do rock, do qual seu pai, Nando Reis, sempre esteve totalmente inserido, hoje, aos 32 anos, ele faz sucesso ao lado do irmão, Sebastião, de 23, com quem forma a banda “2 Reis”. Theo e Sebastião – pra quem foi dedicada a música ‘O Mundo é Bão, Sebastião’ – sãos dois dos cinco filhos de Nando. Com uma diferença de quase dez anos, eles têm uma química das boas no palco e seguem com a divulgação do primeiro disco que leva o mesmo nome da dupla, com shows em lugares inusitados que são um passeio à parte – como o Galpão Busca Vida, em Bragança Paulista, interior de São Paulo. Para saber mais como foi crescer “numa casa cheia de discos, livros e instrumentos musicais”, e como é o convívio dessa família de artistas, é só conferir o papo abaixo!
*Theo, o irmão mais velho
Glamurama: Seu pai costuma dar muitos palpites na carreira de vocês?
Theo: “Ele sempre nos deu muita liberdade para fazermos da nossa maneira procurando nunca interferir no nosso trabalho. Mas é claro que muitas vezes buscamos seus conselhos e o conhecimento que ele tem. Também gostamos de mostrar pra ele quando temos uma composição nova com a qual estamos satisfeitos.”
Glamurama: Ser filho de Nando Reis abre portas?
Theo: “Sem dúvida o fato de seguirmos no mesmo ofício traz algumas facilidades. Crescemos numa casa cheia de discos, livros e instrumentos musicais que foram fundamentais na nossa formação. Além disso, sempre acompanhamos ele em shows, gravações e viagens, o que nos deu uma noção da estrutura que envolve o trabalho com a música, do longo caminho entre a composição de uma canção e sua apresentação no palco e também de todos os ofícios e profissionais que são necessários pra viabilizar um show. Por outro lado, seguir na mesma profissão do nosso pai, que é um cara consagrado e cujas músicas são muito conhecidas, é uma grande responsabilidade. Dificilmente alguém houve nosso trabalho sem comparar com o dele, e é natural que seja assim. O fato de sermos os filhos do Nando Reis ajuda, mas nem por isso o trabalho deixa de ser árduo. Estamos muito empenhados em divulgar o nosso disco e fazer nossos shows, pois viver de música autoral é muito difícil. Eu mesmo tenho outra profissão, sou professor de musicalização na educação infantil.”
Glamurama: Existem planos para gravar novamente com o seu pai, Nando Reis?
Theo: “Já gravamos com ele algumas vezes. Fizemos participações em seu último disco e também regravações de “Família” para a abertura de “Malhação” e “O Mundo É Bão Sebastião”, que foi trilha de uma peça publicitária. Também tem uma faixa no disco “Seja Como For”[ouça abaixo], que a letra é dele e a música do meu irmão em parceria com o Fernando Nunes, produtor do nosso álbum. No momento não temos nada em vista, mas com certeza pretendemos repetir a parceria mais vezes.”
Glamurama: Vocês vão na contramão do pop convencional e apostam em uma estética anos 1970 – tanto no som quanto na imagem. Por que fizeram esta escolha? Gostam particularmente dessa década? Quais são as referências musicais?
Theo: “Embora os anos 1970 não sejam a referência mais explícita do pop atual, sem dúvida o que foi produzido nessa época influencia permanentemente esse estilo de música, direta ou indiretamente. É uma estética que gosto muito, desde composições e arranjos até os timbres e as roupas. No nosso trabalho não procuramos reproduzir o que se fazia nessa época, mas usamos essas referências como elementos das nossas músicas e discos. Gostamos muito do que Gil e Caetano fizeram nesse período, somos apaixonados por Bob Marley & The Wailers e toda a música jamaicana dos anos 1970, Curtis Mayfield e principalmente os Beatles, que são dos anos 1960, mas, de certa maneira, abriram as portas para os artistas que vieram depois.”
Glamurama: Costumam misturar em seus repertórios músicas autorais com clássicos de Tim Maia, Rita Lee e Titãs. Já encontraram algum problema ao solicitar a gravação de um cover?
Theo: “Nunca fizemos regravação de nenhuma canção que não fosse do nosso pai ou dos Titãs, portanto não tivemos esse problema.”
Glamurama: Cássia Eller era grande amiga e parceira de seu pai. Ela faz parte do repertório da dupla? Qual a relação da sua família com o filho dela, Chicão, que também é músico?
Theo: “Atualmente no nosso show cantamos “Luz Dos Olhos”, de autoria do nosso pai, e “ECT”, dele com o Carlinhos Brown e a Marisa Monte, que são músicas que ficaram consagradas na voz da Cássia [Eller]. Por morarmos em São Paulo e o Chicão no Rio, não temos uma relação pessoal muito próxima, mas acompanhamos e admiramos seu trabalho, tanto o solo, quanto agora com a banda 13.7. O Chicão tem uma linda voz, cujo timbre e a força lembram a da Cássia e é também um ótimo compositor.”
Glamurama: Quais são as grandes referências musicais da dupla?
Theo: “Bob Marley, Beatles, Racionais, Lulu Santos, Luiz Melodia, Curtis Mayfield, Michael Jackson, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Ben e claro, meu pai e os Titãs. Eu poderia fazer uma lista enorme, mas acho que essa mostra representa bem o que gosto.”
Glamurama: Qual a influência do Titãs na vida de vocês? Chegaram a frequentar camarins de shows, ir junto em turnês?
Theo: “Eu, por ser o mais velho, fui quem mais vivenciou o período dos Titãs. Viajei muitas vezes com meu pai e assisti diversos shows ao lado do palco. Era um barato muitas vezes ser a única criança na companhia daquele bando de roqueiros, muito queridos e engraçados, fazendo sempre apresentações muito animadas para uma plateia ensandecida. Sem dúvida começou aí meu gosto pelo palco e pela estrada.”
Glamurama: Vocês têm muitos irmãos. Como é a dinâmica da sua família? Quem mora com quem?
Theo: “Somos em muitos e estamos espalhados, mas nós dois (Theo e Sebastião) atualmente moramos juntos.’
Glamurama: Como são os encontros? São frequentes? E as brigas?
Theo: “Nos vemos bastante e os encontros são sempre muito afetuosos, repletos de amor e, claro, pequenas brigas de vez em quando.”
Glamurama: E entre vocês dois…se dão bem?
Theo: “Sim, muito, senão seria impossível trabalhar juntos. Temos uma diferença de quase dez anos, então em alguns momentos da vida eu já era quase um adulto e o Sebastião ainda uma criança, embora sempre convivêssemos em casa. Quando ele cresceu e começou a tocar, nos aproximamos ainda mais por causa da música, o que culminou na criação da banda. Desde então temos passado bastante tempo juntos e vivido bons e intensos momentos.”
Glamurama: Como funciona o processo de criação da dupla?
Theo: “Temos um processo de criação bem orgânico e fluido. Embora o Sebastião seja o cara que cuida mais da parte musical e eu das letras, os dois operam nas duas frentes. Compor em parceria é bem legal, a gente sempre aprende muito um com o outro, ainda mais com um cara talentoso e sensível como meu irmão.”
Glamurama: Theo, fale de Sebastião.
Theo: “O Sebastião é um cara incrível, extremamente talentoso, afetivo e um excelente parceiro de banda e vida. Sua musicalidade aguda é comovente e eu aprendo muito convivendo com ele. Além disso é uma pessoa que entra de cabeça nos projetos e contagia aqueles que estão ao seu redor. Como seu irmão mais velho, acompanho e admiro seu crescimento e sua trajetória, e me sinto privilegiado de poder trabalhar com ele.”
Glamurama: Quem veste vocês?
Theo: “Na nossa atual turnê estamos usando roupas feitas sob medida, idealizadas e confeccionadas por Adriana Franca.”
*Sebastião, o aprendiz
Glamurama: O mundo é bão, Sebastião? Zoam muito com você por causa da música e do bordão?
Sebastião: “É bão, mas pode ficar melhor! Quando meu pai compôs essa canção eu tinha apenas sete anos, ou seja, ela me acompanha desde criança. Tem muito carinho por ela e por tudo que essa música representa na minha vida. Acho que uma das frases que mais ouvi de pessoas é ‘O Mundo é Bão, Sebastião’. “(Risos)
Glamurama: Sebastião, fale de Theo.
Sebastião: “O Theo é meu irmão mais velho e por isso sempre foi alguém que admirei muito e me espelhei. Apesar de sermos irmãos, cada um tem um jeito diferente e isso é muito bom, pois sinto que na nossa relação um complementa o outro. Sempre admirei o seu jeito calmo e a maneira de falar que sempre me impressionou positivamente. Fico muito feliz em trabalhar ao lado dele, pois todo dia ele me ensina algo novo e uma outra maneira de encarar as coisas.” (Por Julia Moura)