Por Michelle Licory
Fernanda Lima será uma das apresentadoras da edição 2014 do “Criança Esperança”, marcado para 16 de agosto, na Globo. Este ano, a emissora procurou escalar artistas de alguma forma envolvidos com o terceiro setor. “Me atrapalho com os meses, mas acho que já tem uns 4 ou 5 que dou aula de yoga uma vez por semana no projeto social Os Arteiros, na Cidade de Deus.” Na verdade, tem mais de um ano, Fernanda… Em 2013, o desejo dela era construir uma relação de confiança com as crianças da comunidade. “Sou a loirinha famosa que chega de carrão. É complicado”, nos disse na época.
Respirando fundo
* E hoje? “Antes eles nunca tinham ouvido falar de yoga. Era só futebol e luta. Sinto que mexi uma palhinha para eles se sentirem mais fortes e confiantes. Através da respiração correta, se provoca uma força interior, um estímulo para acreditar nos seus sonhos. Às vezes não dá para contornar o problema, mas dá pra não se abalar tanto com a realidade que os oprime, como morar em um casebre de um cômodo com 15 pessoas, entre elas um tio cracudo, uma mãe que bate e irmãos que já viraram ‘aviõezinhos’ para o tráfico de drogas. Você fica com um domínio maior, um controle de suas emoções. Não é a salvação do mundo, mas já li pesquisas sobre diminuição da evasão escolar e da agressividade”, nos disse Fernanda, nesta terça-feira, no Projac.
Agulha no palheiro
* “Tudo isso é muito pouco perto do que eu poderia fazer, mas banco sozinha. Seria ótimo se as empresas que me contratam para publicidade se tornassem patrocinadoras. Me sinto metendo uma agulhinha porque talvez não exista o interesse do Estado nisso, talvez seja mais fácil manipula-los. Como meu grupo é pequeno [cerca de 20 crianças e adolescentes], consigo ajudar bastante no que eles precisam. Levo roupas, assisto às peças que eles encenam lá. Não dá pra abraçar o mundo porque a coisa tá feia e não tenho braço suficiente pra isso. Ainda não levei meus filhos no projeto, mas o Rodrigo [Hilbert, marido dela] já foi.”
Herói e bandido
* “Os meninos [os gêmeos João e Francisco, de 6 anos] sempre moraram em condomínio fechado no Recreio, mas há 2 anos nos mudamos para a zona sul, com mendigos deitados no chão, moleques roubando. E passaram a me perguntar: “Mãe, ele é do meu tamanho. Como pode ser ladrão?” Tento faze-los enxergar essas crianças com amor, compaixão. Explico que eles agem dessa forma porque não têm o que comer e porque veem o pai fazendo a mesmo coisa. É um círculo vicioso que não tem fim. Um deles me acordou essa madrugada dizendo que tinha sonhado que tinham entrado na nossa casa para roubar. Eles andam bem impressionados com isso. Criança acha que alguém ou é do bem, ou do mal, herói ou vilão. Ensino que todo mundo tem o bem e o mal dentro de si.”