Uma cidade dentro de NY. É isso que Stephen Ross, empresário conhecido como “The King”’ pretende erguer até 2024

Stephen Ross aboliu a palavra “impossível” de seu dicionário. Maior empresário do mercado imobiliário de Nova York e chamado “The King” pela concorrência, aos 77 anos Ross assume um ar blasé diante de tudo aquilo que o resto da humanidade considera como utópico – mas esse desdém é só da boca para fora, porque o que ele quer mesmo é provar que, sim, é capaz de fazer o que muita gente acha inacreditável. Foi assim quando decidiu ficar com um apartamento e um escritório no 35º andar do Time Warner Center, o primeiro grande edifício erguido em Manhattan depois dos ataques de 11 de setembro.

Como o projeto contou com a participação da empresa de Ross, a Related Companies, é natural deduzir que para ele não foi difícil arrematar uma das unidades residenciais no mais cobiçado endereço da cidade. Mas não foi bem assim. O empreendimento projetado pelos arquitetos David Childs e Mustafa Kemal Abadan sacudiu o mercado imobiliário nova-iorquino de alto luxo e os outros sócios do negócio, que exigiu investimentos de US$ 520 milhões, resistiram em lhe ceder um lugar na extensa fila de interessados. Na época – estamos falando do fim de 2003 – Ross ouviu que seria “impossível” se mudar para lá naquela altura dos acontecimentos, quando uma das coberturas foi vendida pela soma recorde de US$ 54,7 milhões – mais do que já havia sido desembolsado até então por uma propriedade residencial na Big Apple em um quase leilão no qual o banqueiro mexicano David Martínez levou a melhor. Munido de um sentimento de revanche fora do comum, Ross partiu para cima e, em questão de dias, conseguiu o que queria. Detalhe: sem precisar colocar a mão no bolso.

Hudson Yards

FOCO, FOCO, FOCO
O fato é um marco na história de Ross, que começou a carreira como mensageiro do Fontainebleau de Miami, hotel para onde se mudou, ainda na adolescência, com a família de origem judia. O trabalho no cinco-estrelas o ajudou a bancar a graduação em contabilidade na escola de negócios da Universidade de Michigan, que passou a frequentar no começo dos anos 1960. Com a ajuda de Max Fisher, um tio empresário, fez várias especializações até se tornar expert em impostos, sem falar das habilidades que adquiriu no tempo em que trabalhou no extinto banco de investimentos Bear Stearns, de Nova York, no qual chegou a ganhar US$ 150 mil anuais. Visionário, usava parte do dinheiro para investir em imóveis na cidade e acabou tomando gosto pela coisa. Em 1972, fundou a Related, a tempo de surfar no boom de habitação que tomava conta da cidade na época. Algumas décadas depois, tornou-se lenda no mercado imobiliário.

Discreto no trato pessoal, porém extremamente agressivo nos negócios, Ross tem objetivos muito maiores hoje em dia: é ele o homem por trás do maior empreendimento imobiliário da história de Nova York, o megaprojeto Hudson Yards, que é descrito como “uma cidade dentro de outra cidade” e está emergindo em uma área industrial no lado oeste de Manhattan, território dominado por armazéns e estacionamentos até pouco tempo atrás. Localizado em um terreno com mais de 110 mil metros disputado desde os anos 1950 por outros reis do concreto, o Hudson Yards terá 16 arranha-céus quando ficar totalmente pronto (não antes de 2024), mais de 5 mil apartamentos, o equivalente a quase 1,2 milhão de metros quadrados construídos de área comercial, além de lojas, restaurantes, hotéis, teatros e até uma escola .

O primeiro prédio foi inaugurado em maio de 2016, e o custo total para tirar tanta coisa do papel varia bastante. Os mais conservadores falam em US$ 20 bilhões, mas já houve gente apostando que foi o dobro desse valor. O próprio Ross estima que o Hudson Yards deverá exigir pelo menos US$ 25 bilhões de investimentos – a maior parte proveniente de empréstimos bancários e de aportes de sócios poderosos, como a canadense Oxford Properties, que administra mais de US$ 40 bilhões em ativos imobiliários ao redor do mundo. Do bolso do empresário, dono de uma fortuna estimada em US$ 7,6 bilhões que inclui, além da participação na Related, o time de futebol americano Miami Dolphins e uma parcela da rede de academias de luxo Equinox Fitness, deverá sair a menor parte.
Mas nem tudo são flores, a contar pela perda de inquilinos de peso logo depois do início das construções, em 2012. As mais sentidas foram a da News Corp, gigante de mídia fundada por Rupert Murdoch, e do banco Goldman Sachs. As duas empresas pretendiam transferir sua sede para o Hudson Yards, mas desistiram por conta do aperto de cinto generalizado que tomou conta do mundo corporativo norte-americano desde a crise financeira de 2008 que continua rendendo cortes. Com 285 apartamentos, a principal torre residencial do Hudson Yards teve apenas 35% das unidades vendidas até agora – uma longa distância das 125 mil pessoas que Ross espera atrair para viver, trabalhar ou simplesmente visitar o complexo.

VIZINHO DE TRUMP
Com o Hudson Yards, Ross deixou para trás um amigo de longa data com quem vive competindo: o presidente Donald Trump. Os dois trabalhavam e moravam na Trump Tower. A amizade vem desde os anos 1980 e, além da idade próxima (ambos na faixa dos 70 anos), a dupla não disfarça a obsessão por obras faraônicas. As semelhanças, no entanto, param por aí, já que, apesar da torcida de alguns, Ross não almeja a Casa Branca. Talvez porque a vitória de Trump na eleição presidencial de 2016 tenha servido para provar a velha máxima de que “qualquer um” pode se tornar presidente. E, em se tratando de Ross, se a meta não é impossível, não tem graça. (por Anderson Antunes)

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