“Nunca é tarde para recomeçar”, diz Ingra Lyberato, de volta às novelas 17 anos depois

Ingra Lyberato, 51 anos || Créditos: Edu Rodrigues

Ingra Lyberato voltou a circular pelo Projac depois de um hiato de 17 desde sua última novela na emissora – “O Clone” (2001). Seu retorno se dá logo em horário nobre, em “Segundo Sol”, na pele de Fátima, matriarca da barra pesada família Garcia. “Para o ator é uma bela oportunidade trabalhar em um lugar que tem o padrão de qualidade de produção da Globo. Nesse caso é mais especial ainda, pois estou contando uma história que se passa na minha terra, a Bahia”, falou a atriz sobre a volta, entregando que não sentiu frio na barriga. “Pensei que daria, mas fui tão bem recebida desde o início que não tive!”

O convite para voltar à cena não caiu do céu. Foi preciso humildade da parte de Ingra para reativar seus contatos, já que os produtores de elenco mudaram muito desde a época em que circulava pelos sets. Entre as novelas de maior destaque que fez estão “A História de Ana Raio e Zé Trovão”(1990), “Tieta”(1989) e “Pantanal”(1990), quando conheceu e se casou com Jayme Monjardim. “Fiz o normal de quem está começando. Retomei os contatos e mostrei interesse. Entrei em contato com Vanessa Veiga, produtora da novela, e falei: ‘Sou baiana, super fã de João Emanuel Carneiro e de Dennis Carvalho e quero me colocar à disposição. Fui chamada para um teste e deu certo.”

Globo: passado e presente

Ingra Liberato e Claudia Ohana na novela “Tieta”, da Rede Globo || Créditos: Reprodução Globo

Nada como uma pessoa que saiu e voltou para a Globo depois de tanto tempo para pontuar as mudanças que a emissora passou nos últimos anos, não é? “Quando comecei, no final dos anos 1980, a Globo tinha muito medo de escalar pessoas novas, tanto é que meu primeiro trabalho em ‘Tieta’, o Luis Fernando Carvalho teve que bater o pé com a direção da TV para colocar pessoas novas, e deu certo. Os atores saíram dali com certo aval para atuar em outros trabalhos.” Para ela, a novela foi um marco para a política de contratação da emissora. “Foi naquele momento que eles começaram a perceber que podiam lançar atores por serem bons, e não pelo fato de serem apenas conhecidos. Hoje, vejo produtores da Globo viajando o Brasil para buscar bons profissionais”, se orgulha.

A atriz também pontua a questão dos contratos dos atores, antes longos e hoje por obra, dividindo sua experiência pessoal. “Isso permite que os atores circulem mais e atuem em frentes diversas. Tive essa experiência no passado, um contrato de três anos com uma emissora e, quando ele não foi renovado, tinha recusado diversos convites para fazer cinema e aquilo me desestabilizou na época. Tomei um susto, mas fui à luta. Fui fazer cinema, o que tinha muita vontade, e colhi muitos louros nas telonas. Me tornei uma profissional capaz de circular em todas as áreas.” Se voltou para ficar? “Sim, sem dúvida.”

“Segundo Sol” 

Fátima (Ingra Lyberato) aflita ao descobrir que Manu (Luisa Arraes) sabe da loja. Fátima pega um vaso e bate a cabeça de Manu, que cai desacordada || Créditos: Globo/Raquel Cunha

Na trama, ela conta que se sentiu desafiada com a personagem. “Me divirto muito no papel. Apesar de ser uma família ilegal, eles têm uma união e uma conexão muito amorosa. Fátima tem uma preocupação com os filhos, não quer que eles cheguem perto de droga e álcool. Acho até divertido, como ela vende drogas e não quer que os filhos consumam? É até ingênuo da parte dela achar que isso não vai acontecer. São pessoas unidas pelo amor e fazendo o que chamamos de maldade.” Sobre o que podemos esperar da família barra pesada, que teve como inspiração a série “O Clã”, completou: “Podem esperar uma Fátima cada vez mais movida pelo amor maternal, tomando atitudes decisivas por causa desse sentimento.”

“Medo do Sucesso” 

Em 2016, a atriz estreou no mercado literário com “Medo do Sucesso”, livro em que relata as memórias da sua carreira e conta como o medo a afastou do universo da TV quando estava em ascensão. Para ela, estar de volta depois de ter esse ostracismo tão analisado, é decisivo. “Estou tirando a prova dos nove. Durante o lançamento do livro e de outros trabalhos que faço, me observo muito para lidar com maturidade com a questão da exposição. Estou no melhor lugar pra ter esse veredito, para ver se estou mesmo curada disso, e tenho visto que sim. Nunca é tarde para recomeçar.”

Terceiro ato 

Paralelamente à novela, Ingra está trabalhando em outros projetos com o desenvolvimento do documentário “A Vida é da Cor que Pintamos”, sobre a vida e obra de seu pai, o artista plástico Chico Liberato, que será rodado ano que vem. “Ele está com 82 anos, em um momento onde é importante falar de todo o seu pioneirismo no universo de animação. Agora ele está preparando um terceiro longa, baseado na literatura de cordel que marcou sua trajetória.” Ela também está produzindo um novo livro, que será uma ficção pensada também para o cinema, em que Ingra mergulha em sua espiritualidade. “Ele conta a história de três pessoas que estão em estágios diferentes de autoconhecimento”, explica.

E, por fim, está produzindo e dirigindo a série documental “As Amazonas”, onde ela viaja pela América Latina para explorar o universo dos cavalos. “Criei esse projeto para tentar ter contato com os cavalos novamente. Tenho descoberto mulheres incríveis que atuam neste meio”, conta ela. (Por Julia Moura)

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