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Elza Soares || Créditos: Daryan Dornelles / Divulgação

Em novo disco, Elza Soares fala de Deus feminino e canta pela liberdade dos corpos: “Eu me tornei essa mulher que grita”

Por Luís Costa para revista PODER

Deus não é um homem severo, mas uma mulher cujo colo “amacia a dureza dos fatos”. É, pelo menos, como canta Elza Soares no seu mais recente álbum, Deus É Mulher. “Eu canto esse Deus mãe, esse Deus que nunca me abandonou. E a gente está precisando tanto de colo”, diz a artista, aos 80 anos, que lança o primeiro disco depois do sucesso de A Mulher do Fim do Mundo (2015), vencedor do Grammy Latino de melhor álbum de MPB em 2016.

Deus É Mulher teve todas as faixas escolhidas pela própria Elza, buscando mais mulheres na composição do álbum. “Eu queria mais gente gritando, falando, solicitando”, explica. A escolha se reflete, por exemplo, nas letras com acento feminista, em manifestos pela liberdade do corpo como “Banho”, de Tulipa Ruiz, e “Eu Quero Comer Você”, de Alice Coutinho e Romulo Fróes.

A veia política do disco é, aliás, revelada logo nos primeiros versos: “Mil nações moldaram minha cara / Minha voz, uso para dizer o que se cala / O meu país é o meu lugar de fala”, diz a faixa “O que Se Cala”. “A minha voz é para dizer o que se cala. É o meu grito, é o meu socorro, o meu alento”, conta Elza.

Mulher, negra, nascida em uma favela carioca, Elza agora clama por liberdade. “A gente grita pelas mulheres, que ainda apanham tanto, e pela nossa negritude ainda acorrentada”, afirma. O desejo de cantar – e de gritar – contra a desigualdade veio ainda garota. “Desde criança buscava uma liberdade”, diz. “Quando é que vou poder andar sem que ninguém ria do meu cabelo duro?”, perguntava a menina. “Eu me tornei essa mulher que grita.”

No mês que vem a vida de Elza Soares vai ser levada aos palcos em um musical. Sete atrizes negras vão representar a diva de voz rasgada e cortante que, aos quase 60 anos de carreira, nem pensa em descansar. “Ainda sonho muito e ainda quero muito”, revela. “Quero ser essa mulher viva, com todos os desejos, com todas as vontades. Eu sou isso.” O que ainda quer? “Cantar, cantar, cantar. Deixem-me cantar até o fim. Eu quero cantar.”

Elza Soares || Créditos: Daryan Dornelles

“A gente grita pelas mulheres, que ainda apanham tanto, e pela nossa negritude ainda acorrentada.”

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