Ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza fala o que pensa para a PODER

Preso na manhã desta sexta-feira, em São Paulo, o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de formação de quadrilha, inserção de dados falsos em sistema público e peculato, entre os anos de 2009 e 2011, durante governo do PSDB. A prisão preventiva foi determinada pela Justiça Federal, que também autorizou busca e apreensão em sua residência.

Em 2012, quando já era investigado e Paulo conversou com a revista PODER em entrevista que oportunamente reproduzimos aqui.

Paulo Vieira de Souza posa na Ponte Estaiada Orestes Quércia para matéria da revista Poder de julho de 2012

Boca no Trombone

Ex-diretor da Dersa no governo de José Serra, Paulo Vieira de Souza fala o que pensa, nega arrecadar caixa 2 para campanhas políticas e diz que só respeita chefes que julga competentes

Por andréa michael fotos roberto setton para Revista PODER julho 2012

O engenheiro Paulo Vieira de Souza voltou a ser notícia. Foi acusado novamente de desviar dinheiro da principal obra de seu currículo, o trecho sul do Rodoanel de São Paulo, um empreendimento de R$ 5 bilhões. O motivo? Fazer caixa dois para campanhas políticas. O ex-diretor de engenharia da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) conta, nesta entrevista exclusiva a PODER, que está processando seu mais novo acusador, Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). E nega veementemente a suspeita da vez.

Mover processos por calúnia, injúria e difamação, aliás, tem sido sua principal arma contra acusações desse tipo. Até o fechamento desta edição, ele tinha proposto nada menos que seis ações cíveis por danos morais e outras cinco criminais – em uma delas, seu alvo é a presidente Dilma Rousseff. “Não sou arrecadador de dinheiro. Tenho mais a oferecer”, declara, indignado, na resposta comum para o tema. Conhecido como Paulo Preto, ele também diz que é falsa a acusação, feita em 2010 por dirigentes tucanos, de que teria arrecadado e sumido com um caixa dois de R$ 4 milhões da campanha de José Serra à Presidência. “As pessoas que disseram isso desmentiram e se retrataram. E eu as estou processando também. Muitos integrantes do partido para o qual trabalhei na ocasião foram ingratos por tudo que representei como executivo público no governo”, afirma, sem disfarçar a mágoa.

A acusação foi resgatada em debate da campanha presidencial em 2010 pela então candidata Dilma, arrastando para o centro da polêmica seu adversário Serra e o braço direito dele, hoje senador por São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, amigo do engenheiro.

Na ocasião, desamparado pelos líderes tucanos, Paulo Preto cunhou a frase que marcou aquela campanha: “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada”. Procurado pela imprensa, Serra, em um primeiro momento, disse que não o conhecia. Depois, voltou atrás.

Hoje, dizendo-se “sem partido”, Paulo Preto revela não ter candidato à prefeitura de São Paulo e acredita que Serra tem alta probabilidade de vencer as eleições.

Praticante de triatlo, modalidade esportiva que inclui corrida, ciclismo e natação, Paulo Preto está mais do que em forma para seus 63 anos de idade: tem 90 quilos distribuídos por 1,82 metro de altura. Em meados de junho, ele chegou à entrevista, em um restaurante de São Paulo, a bordo de seu Azera Hyundai preto com a lataria revestida com a película da moda (a que deixa a pintura fosca). “Gostou? É o carro do Batman!”, brincou. Piadas à parte e já acomodado à mesa, retomou o tom sério. De voz grave e timbre quase metálico, exercitou a língua afiada sem dó, dizendo tudo o que teve vontade. Mas, certamente, guardou informações que só interessa contar na hora certa.

Leia, aqui, os melhores trechos da conversa.

ARRECADAÇÃO DE RECURSOS
Por mais que não acreditem, nunca arrecadei recursos. Não preciso. Nunca aceitei ser arrecadador de dinheiro em hipótese alguma, porque tenho mais a oferecer do que isso. Normalmente, pelo que tenho visto, as pessoas que se propõem a arrecadar desempenham funções executivas. Durante minha vida inteira, minhas atitudes sempre foram direcionadas à gestão. Por exemplo: ajudei o [senador] Aloysio [Nunes Ferreira] na logística da campanha. Os recursos, quem pedia era ele. Ninguém ofereceu mais condições para os empresários darem dinheiro para campanhas políticas do que eu. Por quê? Porque terminei as obras no prazo, todas foram pagas em dia e os empresários tiveram lucro. Nenhum setor na economia ajuda mais em campanhas políticas financeiramente do que empresários da construção civil. Basta conferir as prestações de contas nos tribunais regionais eleitorais. Está lá para todo mundo ver, é público. Construção civil ajuda mais que banco.

RENDA PRÓPRIA
Hoje, meu patrimônio é de R$ 12 milhões. Eu vivo dos meus recursos, dos imóveis que vendo. Recentemente, vendi um apartamento de R$ 1,5 milhão. Tenho fôlego financeiro até quando voltar à atividade. Quando isso vai acontecer? Espero que ainda este ano, depois que parar esse aborrecimento de gente mentirosa, achando esse tipo de coisa [que peguei dinheiro para campanhas]. Hoje, entrar em qualquer empresa é um desgaste pessoal. Não entrei no governo quando me formei, mas quando já tinha 20 anos de experiência profissional, empresa montada e patrimônio.

Paulo Vieira de Souza posa na Ponte Estaiada Orestes Quércia para matéria da revista Poder de julho de 2012

LUIZ ANTONIO PAGOT
Sobre o que o Pagot falou [que teria sido pressionado a liberar verbas para as obras do Rodoanel Sul e que o dinheiro teria sido desviado para campanhas políticas], vamos lá: fizemos a negociação de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o procurador José Roberto Pimenta, que também teve a participação do Dnit, do Ministério Público Federal. E por que isso foi feito? Havia alguma coisa irregular [com o Rodoanel]? Não. Era uma obra com preço global, ou seja, com tudo incluído dentro do valor que foi combinado. E qual era o entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU)? Que a empresa pagaria quando aumentasse o valor previsto e devolveria dinheiro para o governo, caso houvesse redução desse montante. Os empresários pediam em torno de 30% de reajuste nos contratos e nós – as empresas, o TCU, o MP e o Dnit – fechamos o TAC em 6,72%. Na ocasião da assinatura, o Dnit não compareceu, mas negociaram todo o tempo. Isso está na ata de várias reuniões. No momento de assinar, o Ministério Público, por meio do procurador José Roberto Pimenta, assumiu que o TAC seria fechado mesmo sem a presença do Dnit. Nessa história, o Dnit era unicamente repassador dos recursos federais, que representavam um terço do total. Na ocasião, assinaram os empresários, a Dersa e o Ministério Público Federal. Nós realizamos a maior obra do Brasil e da América Latina. Seguramente, o TAC é o menor aditivo de obra pública desse porte no país. O do Rodoanel Oeste, por exemplo, é de 89%, quando a lei prevê 25%.

O que Pagot diz de verdadeiro? Que eu o cobrei. Ele disse também que houve insistência para a assinatura do Dnit, o que também procede. Então, por que Pagot não assinou o TAC? Ele disse na sala dele, na presença de 17 pessoas (e eu estava lá), que só assinaria com autorização da Advocacia-Geral da União (AGU). E disse para mim, mas não vi isso escrito em nenhum documento, que a AGU havia pedido para ele não assinar. Por quê? Não sei. Ele dizia que o aditivo não era regular. Bom, se não for regular, temos de chamar o Ministério Público Estadual, o Federal e o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, porque ele é o único no país a achar isso. A parte que não vou desmentir, porque desconheço, é aquela em que o Pagot diz que o procurador de uma construtora, cujo nome não revelou, comentou que o aditivo seria usado para pagar campanhas. Eu respondo pelo TAC. Agora, em relação a dinheiro por fora, o pessoal do Pagot que explique! Da minha parte, como gestor do Rodoanel, nunca saiu um tostão para campanha política que seja do meu conhecimento. Agora, se você me perguntar se os empreiteiros que trabalharam no governo de São Paulo ajudaram em campanhas? Basta ver na relação do Tribunal Regional Eleitoral.

“Os empresários estão cada vez menos propensos a contribuir para as campanhas políticas. E, se fazem isso, é com um valor irrisório. As campanhas mal duram três meses”

OS EMPREITEIROS E AS CAMPANHAS
Atualmente, os empresários estão cada vez menos propensos a contribuir financeiramente para as campanhas políticas. Se fazem isso, é com um valor irrisório. Essa análise eu faço não como diretor de engenharia, mas como cidadão: por tudo o que a gente vê acontecendo, as campanhas estão se reduzindo cada vez mais. Com valores reduzidos, o tempo de campanha também diminui. Antes, tínhamos dez meses. Hoje, mal dá para aguentar três.

CAIXA DOIS
Essa prática vem desde a época de dom Pedro 1º e existe não apenas em campanhas políticas, mas na vida cotidiana mesmo. E até hoje. Você chega ao supermercado e perguntam: “Você quer CPF na nota [fiscal]?; você quer com ou sem nota [fiscal]?”. E isso acontece também na padaria, no médico, no dentista… Não sei o percentual da população que sabe e usa essa história de colocar o CPF na nota para conseguir redução de imposto. Nem sei como fazer para reduzir. É tanta burocracia que acho melhor não utilizar [o benefício].

SERVIÇO PÚBLICO
Se eu fosse indicado para o serviço público, só teria uma condição para voltar: ter autonomia seja qual o governo, partido ou função. Respeito hierarquia, desde que seja de pessoas competentes. Se não houver competência, esse respeito não existe, e faço aquilo em que acredito. Se eu não tiver autonomia, muito obrigado, mas não me interessa.

VAIDOSO, ARROGANTE E IRONMAN
O [Alberto] Goldman [ex-governador de São Paulo], diz que sou vaidoso, arrogante, que sou o super-homem. Ele acertou: sou mesmo vaidoso. E, se ser arrogante é falar o que se pensa, acertou também. Até gostaria de ser super-homem, mas sou só um ironman, um atleta amador [ele é praticante de triatlo]. Sabe qual é minha diferença com o Alberto Goldman, o vice do Serra que depois virou governador? Ao contrário dele, não coloco metas em obras, coloco datas. Eu defino prazo com ano, dia, mês e hora para acontecer. Isso significa comprometimento de toda a estrutura com o empreendimento, que a obra tem prazo para começar e terminar. Existem as pessoas que fazem o possível e aquelas que fazem o necessário. O necessário é o necessário. O possível é o que dá. Eu pauto minha vida por fazer o necessário.

Paulo Preto em São Paulo a bordo de carro da época, um Azera Hyundai preto, com pintura fosca e simbolo dos “IronMan”: “É o carro do Batman”. Detalhes do “pin” de Ferradura que ele usa (ganhou de seu pai e usa sempre para lhe dar sorte)

ESQUECERAM DE MIM
Essa história do ex-governador Serra ter dito que não me conhecia [na campanha de 2010] é a seguinte: se perguntarem a minha família quem é Paulo Preto, eles também não vão saber. Se eu levar por esse lado, o do apelido, o que ele falou, que não me conhecia, é verdade. Porém, acho que ele (ou sua assessoria) demorou um pouco para se posicionar, quando deu a coletiva a meu respeito e respondeu aquilo que esperava que respondesse – e que era a verdade – dizendo que me conhecia como Paulo Souza. Acho que ele demorou para dar essa explicação e coloquei isso publicamente: o Brasil merecia um posicionamento do governador.

FERNANDO CAVENDISH
Conheço Fernando Cavendish [dono da Construtora Delta] comercialmente, pois ele manteve contato com a Dersa, porque ganhou um dos lotes das obras da Marginal Tietê no valor de R$ 172 mil, contrato assinado pela diretoria em 29 de maio de 2009. Depois disso, houve aditivo de 24% em outubro de 2010. Na ocasião, fazia seis meses que eu havia sido exonerado pelo governador Alberto Goldman. Saí no dia 9 de abril de 2010.

BRACELETE DE DIAMANTES
Fui acusado – levianamente, diga-se – pela delegada Nilze Baptista Scapulatiello de receptador de joias e fiquei detido durante três dias. Não houve sequer ação judicial. Como resultado, ela responde por abuso de autoridade (processo nº 2011.126829-7).

FRASE PARA A CAMPANHA 2012
A frase não é minha, mas do filme Gladiador [do diretor Ridley Scott]: “O verdadeiro líder só abandona a luta quando ela acaba”. Estou em uma luta pessoal. Os grandes homens falam e executam ideias. Os pequenos dizem inverdades e não provam.

Paulo Vieira de Souza posa na Ponte Estaiada Orestes Quércia para matéria da revista Poder de julho de 2012
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