Em um papo muito esclarecedor sobre coronavírus e saúde de modo geral, a ‘live’ desta sexta-feira juntou Joyce Pascowitch e Dr. Roberto Kalil Filho, presidente do conselho diretor do Incor e diretor de cardiologia do hospital Sírio-Libanês. Apesar de ser um dos médicos mais conceituados do país, o cardiologista revela que segue trabalhando pesado: “Entro no Incor 8 da manhã e saio do hospital meia noite, todos os dias. Com a pandemia, o número de pacientes mudou e aumentou muito. A rotina está mais estressante porque o número de pessoas em estado grave cresceu nesses últimos meses. É um aprendizado diário exercer a medicina em um cenário de guerra. Em um nível de estresse máximo. E uma das questões mais difíceis têm sido lidar com as famílias, que não podem ter nenhum tipo de contato com seus parentes doentes. Muito triste”, e emenda “Para 80% das pessoas esse vírus vai ser bonzinho, e elas não vão sentir praticamente nada. Outros 15% terão sintomas leves e poderão ser tratados em casa. E 5% serão casos mais graves e precisarão ser tratados no hospital.”
Vírus
“Eu achava que estava imune porque tinha atendido muitos pacientes com coronavírus, com todos os cuidados necessários e seguindo regras rigorosas. Acabei pegando de um amigo meu, com quem fui dar uma aula, e ele logo depois apareceu com sintomas. Comecei a ficar meio estranho mas pensei que fosse efeito colateral da vacina da gripe que tinha acabado de tomar. Fui uma ‘besta’ porque segui achando que não era nada. Só quando piorei fui fazer o exame e vi que estava com 50% do pulmão comprometido. Fiquei 10 dias internado no hospital e foi terrível. Nada é pior que esse vírus em seu estado mais grave. Ele é muito agressivo. E sou um cara medroso, tenho medo até de assombração, mas não tive medo de morrer. O sofrimento é tão grande que não você consegue pensar em nada. Uma dor, uma falta de ar… No dia seguinte à alta, pedi para voltar para o hospital só de medo de ter uma recaída. E fiquei bem debilitado uns 15 dias depois da alta, com uma tosse forte… Quem tem Covid fica abalado psicologicamente. Todos os pacientes que atendi ficaram. Você não sai são da Covid de imediato… as coisas vão normalizando com o tempo. Comigo foi assim. Passei a dar menos importância para bobagens, como o trânsito que tá ruim, a reunião atrasada. Antes de ficar doente estava preocupado que meus cílios estavam caindo. Achava que ia ficar sem cílios. Imagine! E logo depois quase morri com a Covid. Eu mudei. Até a turma que trabalha comigo já percebeu que estou menos chato.”
Curva
“É uma virose, bastante agressiva, e pode causar, entre outras coisas, infarto e acidente vascular cerebral. Mas outras viroses também podem inflamar as artérias. No inverno costuma aumentar em 30% a incidência de infartos e AVCs. Resolver a pandemia, só mesmo com a vacina, que se Deus quiser deve sair no segundo semestre. Tem vários laboratórios trabalhando pra isso. Ela já está sendo testada em seres humanos. Em São Paulo estamos no platô e a curva está estável. A situação ainda é preocupante mas está começando a melhorar, tanto que a flexibilização está sendo implantada. Estamos no meio de uma guerra, ela vai acabar e a vida vai continuar.”