De mocinha à vilã, Bia Arantes prova que é uma atriz versátil. Na pele da oportunista – mas divertida – Valéria de ‘Órfãos da Terra’, ela se diverte e relembra o seu primeiro trabalho: a malvada Duda, de ‘Cama de Gato’, também de Duca Rachid e Thelma Guedes. Dessa vez, ela mostra ao público sua veia cômica e ganha a simpatia de quem assiste, apesar do caráter questionável da personagem. “Acredito que o ‘tom’ da personagem cativa pessoas de forma diferente. É questão também de interpretação, sabe? Além do mistério, que acredito até ser algo natural das vilãs, a forma com que a trama segue faz com que o telespectador queira acompanhar, se divirta e ache interessante o processo usados para elaborar seus planos”, diz.
Além de atriz, Bia Arantes estudou ciências políticas, e analisa o cenário nacional do Brasil. “Acho que como todas as pessoas, independentes de seu partido, a realidade que a gente tem é muito difícil, muito triste. E o comportamento político atual me assusta muito, porque com essa intensidade das redes sociais as pessoas parecem que tem que assumir uma posição política e acabam sendo facilmente manipuladas”, conta. Aos 26 anos, a atriz não pretende descansar a sua imagem das telas e já está envolvida em novos projetos, como o filme ‘Loop’ e a peça ‘Anna Karenina’. A seguir, confira o papo que Glamurama teve com ela..
Glamurama: Nos últimos anos você interpretou personagens muito diferentes, como a mocinha Cecília de ‘Carinha de Anjo’, a bruxa Brice de ‘Deus Salve o Rei’ e agora a aproveitadora Valéria de ‘Órfãos da Terra’. Como é interpretar mulheres tão diversas?
Bia Arantes: Fico honrada pela oportunidade de experimentar facetas tão diferentes. Cada personagem, para mim, é único e traz consigo uma essência diversa, que sempre me acrescenta muito como atriz e mulher. Essas que interpretei foram bem marcantes e cada uma trouxe um aprendizado. Cecilia tinha uma inocência, uma bondade que eu admirava nos seres humanos. Na verdade, uma grande empatia pelo mundo e pelas pessoas. Brice era misteriosa, mais intensa e deixava suas intenções aflorarem. Era uma mulher de força, determinação e que sabia o que queria. São qualidades que admiro. E Valéria é uma vilã oportunista e egoísta. Mas me divirto demais com as cenas, ela é bem agitada e essa veia cômica é algo que sempre quis explorar na dramaturgia.
G: A Valéria mistura maldade com pitadas de humor. Onde você buscou inspiração para chegar nessa versão que vemos na TV? É uma forma de tornar a vilã mais ‘simpática’ ao público?
BA: Vilãs costumam despertar curiosidade no público, e há quem torça por suas maldades, e quem as repudie. Então acredito que o “tom” da personagem cativa pessoas de formas diferentes. É questão também de interpretação, sabe? Além do mistério, que acredito até ser algo natural nas vilãs, a forma com que a trama segue faz com que o telespectador queira acompanhar, se divirta e ache interessante.
G: Para a personagem, você precisou ficar ruiva. Pretende manter a cor após o término da novela? Ou você é daquelas que, ao fim de cada trabalho, muda para se livrar do personagem?
BA: Estou gostando muito desse ruivo, que vai mais para um tom natural. Se vou manter, é algo que penso, sabe? Porque de muitas personagens que fiz, esse cabelo me agradou demais, então talvez mantenha ele um pouco mais. Por mais que as mudanças nos aproximem da essência da personagem, acredito que a entrega do ator também faz com que nos aprofundemos mais na proposta das autoras e diretores.
G: Tanto a Brice, como a Valéria, usam a sedução como uma arma. Acredita que pode ser usada para o bem e para o mal? Você se considera sedutora na vida real?
BA: A sensualidade está presente nas personagens, mas acho que a Brice usava de uma maneira diferente da Valéria, porque a tinha a questão da sobrevivência. Ela precisava seduzir aqueles homens e sugar a vitalidade deles senão ela morreria e perderia a chance de descobrir quem era a filha dela. Já a Valéria tem essa construção de usar esse artifício da sensualidade para se dar bem. E na vida não sei se sou uma pessoa sensual. Tendo a achar que não. Eu sou uma pessoa tão tranquila, que gosta de conversar. Acho que o mais sensual que existe na pessoa é a inteligência dela, o senso de humor.
G: Atualmente, qual seu maior sonho dentro da carreira de atriz?
BA: Estou trabalhando bastante no meu sonho. Sempre tive essa vontade de me dedicar a um personagem no teatro que fosse mais visceral, que viesse desses personagens que admiro nos livros, das literaturas que eu gosto. E estou na preparação para Anna Karenina, do Tolstói. Quando ficar pronto tenho certeza que vou realizar um sonho. É um sonho em processo de realização.
G: Além de Órfãos da Terra, tem algum outro projeto paralelo?
BA: Este ano também estreia ‘Loop’, filme no qual sou protagonista e traz muita ciência e diversas reviravoltas. É um longa que nos faz refletir sobre questões existenciais, como a dificuldade que o ser humano tem em lidar com as perdas, as oportunidades que, em muitas situações, adoraríamos ter para fazer algo diferente e, também, a fragilidade do futuro diante das nossas limitações como seres mortais. Estou apaixonada por esse trabalho e ansiosa para compartilhar com todos.
G: Você chamou atenção em ‘O Filme da Minha Vida’, de Selton Mello. Como é a sua relação com o cinema? Entre TV e cinema, qual prefere fazer?
BA: Amo todos os formatos, porque para um ator o mais valioso é interpretar, contar boas histórias, tocar o coração do outro. TV costuma ser mais corrido e é uma obra aberta com possibilidades de mudanças, enquanto o cinema tem uma densidade maior, um aprofundamento e, com isso, um processo mais demorado para toda a produção. Mas me agrada estar nos dois, principalmente se é um trabalho em que que acredito.
G: Além de atriz, você tem formação em ciências políticas. Como analisaria essa fase da política brasileira?
BA: Estudei ciências políticas, mas não cheguei a me formar. Analiso essa situação do Brasil com bastante pesar. Acho que a realidade que a gente tem agora é muito difícil e triste. E o comportamento dos políticos que estão aí me assusta. E isso é agravado com as redes sociais. Hoje em dia todo mundo tem uma opinião política super convicta. Mas na realidade pouca gente está apta a discutir isso, a ver de verdade o que vale a pena ou não. As pessoas defendem seus candidatos como se fosse um time de futebol, e eu acho isso uma maluquice.
G: Por falar em redes sociais, você é bem ativa não é? Indique os prós e os contras profissionais e pessoais?
BA: Sou bem ativa no twitter, que é um lugar onde posso falar com meus fãs. Gosto muito de conversar com o público que me assiste, poder ver o que estão falando, receber mensagens carinhosas, porque nada é mais gostoso do que fazer um trabalho e depois receber um elogio, um comentário. Isso para mim é fundamental. Contras é claro que têm, primeiro porque acho muito negativo, não só para mim, mas para todas as pessoas, essa necessidade de estar bem, esse excesso de positivismo. As pessoas também dão muita opinião sobre tudo. Por exemplo, posto uma foto ruiva e alguém comenta “eu preferia você morena”, ou sobre seus relacionamentos, ou perguntam coisas muito íntimas. Esse é um contato estranho. Eu sou super ‘low profile’ nas minhas redes sociais. Tenho esse limite muito bem estabelecido e também não entro em nenhuma onda ruim por isso, não. (por Jaquelini Cornachioni)