Por Denise Meira do Amaral
Sua voz segue estridente e inconfundível como sempre, mas, agora, Elza Soares é eletrônica. Isso porque a cantora vai se unir aos DJs Ricardo Muralha e Bruno Queiroz para o espetáculo inovador “A Voz e a Máquina”, que acontece nessa sexta e sábado no Tom Jazz, em São Paulo. Com pads, tablets, teclados e outras ferramentas eletrônicas, o trio vai misturar samba, drum & bass, house e tecno. Sobre o mix, Elza explica: “Somos três loucos no palco. Vai ser uma voz brigando com máquinas. Vai ser uma loucura.” No repertório, canções como “Cálice”, de Chico, “Brasil”, de Cazuza, e “Chega de Saudade”, de Jobim e Vinícius. Confira a entrevista completa.
Por que decidiu fazer um show mesclando sua voz com a música eletrônica?
A ideia veio do Ricardo Muralha, de um show que ele fez na Alemanha. Eu gosto de ocupar o meu tempo. Não deixo o tempo me levar, eu levo o tempo. Somos três loucos no palco, vai ser uma voz brigando com máquinas. Vai ser uma loucura. Vamos prestar homenagem ao Vinícius, ao Chico. Nosso objetivo é mostrar à garotada esses compositores brasileiros que eles não conhecem. Mostrar que o Brasil não é só futebol.
A senhora costuma ouvir música eletrônica?
A pergunta seria, você costuma ouvir? Senhora não (risos)… Eu escuto todo o tipo de música, inclusive a eletrônica.
Qual é a sua música que você mais gosta?
“A Carne”, porque ela fala de negritude, além de ser atualíssima. Tem tudo a ver com a raça, com a ignorância e discriminação. Eu batalho muito em favor disso. Já briguei muito com o Feliciano [que presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara] por causa da homofobia. Ainda existe isso no Brasil. Tem que acabar.
Olhando para trás em sua vida, do que você sente saudades?
Não tenho saudade de nada, só saudades do que eu não fiz.
E o que gostaria de ter feito que não fez?
Não posso falar porque senão minha assessoria me mata (risos). Mas estão mais na área política, na vida… Muita coisa eu ainda vou fazer. Enquanto tem vida, tem esperança. Porque gosto da chuva, da noite, do dia…
Como lida com as perdas em sua vida? [Com 13 anos, Elza perdeu seu primeiro filho recém nascido. Aos 15, perdeu outro, tendo depois perdido seu primeiro marido, o Alaúrdes, por tuberculose. A cantora perdeu ainda seu filho com Garrincha, o Garrinchinha, de nove anos. A morte do jogador, em 1983, também teria abaldo muito a vida dela]
A gente nem comenta. Porque não fui só eu quem perdeu. Tanta gente perdeu tanta coisa. E por falar em saudade, onde anda você… [cantarola a música de Vinicius de Moraes]. A gente vai vivendo. É uma trilha que você vai caminhando. Se você olhar para trás, fica caída de bunda no chão. Prefiro cair de boca na flor. É muito melhor, né? Tá bom? I love you. Beijos.
Elza Soares – A Voz e a Máquina
Onde: Tom Jazz – avenida Angélica, 2331 – Higienópolis
Quando: 1 e 2 de agosto, às 22h
Compra de ingresso: www.ingressorapido.com.br