Do panelaço ao impeachment: confira a retrospectiva de 2015

A Operação Lava Jato entrou para o vocabulário do país. Em poucos meses após assumir o seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff viu sua popularidade ruir, chegando ao final de 2015 com seu governo reprovado por 70% da população brasileira. Políticos, empreiteiros e empresários foram presos e condenados por corrupção. Os parlamentares que comandam o Congresso Nacional estão sob suspeição. Está em curso a análise de um processo de impeachment, com objetivo de tirar a presidente recém-reeleita do cargo. A política dividiu o Brasil ao meio. O país enfrenta um gravíssimo momento econômico. Veja os principais lances do conturbado ano que passou.

Por Malu Delgado

Janeiro 

Posse da Dilma, em 1º janeiro de 2015 || Crédito: Agência Brasil

A presidente Dilma Rousseff toma posse em 1º de janeiro para o seu segundo mandato, após uma eleição acirradíssima. A petista venceu o tucano Aécio Neves no segundo turno por 51,64% a 48,36% dos votos. No discurso de posse feito no Congresso, Dilma declarou: “Eu não tenho medo de encarar estes desafios, até porque sei que não vou enfrentá-los sozinha, não vou enfrentar esta luta sozinha. Sei que conto com o apoio dos senhores e das senhoras parlamentares, legítimos representantes do povo neste Congresso Nacional. Sei que conto com o apoio do meu querido vice-presidente Michel Temer, parceiro de todas as horas. Sei que conto com o esforço dos homens e mulheres do Judiciário. Sei que conto com o forte apoio da minha base aliada (…) Sei que conto com o apoio de cada militante do meu partido, o PT, e da militância de cada partido da base aliada, representados aqui pelo mais destacado militante e maior líder popular da nossa história, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sei que conto com o apoio dos movimentos sociais e dos sindicatos; e sei o quanto estou disposta a mobilizar todo o povo brasileiro nesse esforço para uma nova arrancada do nosso querido Brasil.”

Fevereiro 

Eleição na Câmara e no Senado – vitória de Eduardo Cunha e vitória de Renan Calheiros, em 1º de fevereiro de 2015 – || Crédito: Wilson Dias/Agência Brasil

Dia 1º – Eleição dos presidentes da Câmara e do Senado

O Palácio do Planalto é derrotado e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é eleito presidente da Câmara com 267 votos. O petista Arlindo Chinaglia recebeu 136 votos; Julio Delgado, do PSB, 100 votos; e Chico Alencar, do PSOL, 8 votos.
No Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reconduzido à Presidência, com apoio do PT. Ele recebeu 49 votos. O outro candidato, senador Luiz Henrique, também do PMDB, foi apoiado pelo PSDB e outros partidos de oposição e recebeu 31 votos. Houve uma abstenção.

5 fev – Maria das Graças Foster e cinco diretores da Petrobras renunciam aos respectivos cargos. A Petrobras já estava no olho do furacão por causa das denúncias de corrupção reveladas pela Operação Lava Jato.

Março

Panelaço, em 8 de março de 2015 || Crédito:  Reprodução

O primeiro panelaço contra o governo: no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, ao fazer pronunciamento em cadeia nacional, a presidente Dilma Rousseff foi alvo do primeiro “panelaço”. A população começou a bater panelas ao ouvir as palavras de Dilma sobre o ajuste fiscal.

Trechos do discurso da presidente:
“O Brasil passa por um momento diferente do que vivemos nos últimos anos. Mas nem de longe está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns. Passamos por problemas conjunturais, mas nossos fundamentos continuam sólidos. Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira. O mais importante: enquanto nos outros países havia demissões em massa, nós aqui preservamos e aumentamos o emprego e o salário. Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade. É por isso que estamos fazendo correções e ajustes na economia. O esforço fiscal não é um fim em si mesmo. É apenas a travessia para um tempo melhor, que vai chegar rápido e de forma ainda mais duradoura. Não vamos trair nossos compromissos com os trabalhadores e com a classe média, nem deixar que desapareçam suas conquistas e seus direitos. Não estamos tomando estas medidas para voltarmos a ser iguais ao que já fomos. Mas, sim, para sermos muito melhores. Durante o tempo que elas durarem, o país não vai parar.”

Abril

João Vaccari Neto, Tesoureiro do PT, é preso em 15 de abril de 2015 || Crédito: Reprodução

A Operação Lava Jato faz as primeiras vítimas no meio político.

Dia 10 – O ex-deputado André Vargas, que era vice-presidente da Câmara e filiado ao PT, é preso. O ex-parlamentares Luiz Argôlo (SD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE), que já havia sido condenado no mensalão, também vão para a cadeia. Os políticos foram investigados por irregularidades de contratos da Petrobras com o Ministério da Saúde.
Dia 15 – O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto também é preso, em outra fase da Lava Jato

Maio

O desgaste da presidente é tão grande que ela desiste de fazer pronunciamento nacional no 1º de maio. Quando o programa do PT é veiculado, dia 5, o Brasil assiste a novos panelaços.

Junho

Congresso aprova reajuste Judiciário Congresso aprova reajuste Judiciário em junho 2015 || Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A popularidade da presidente despenca: segundo o Datafolha, 65% dos brasileiros acham o governo ruim ou péssimo. O Congresso aprova o aumento em cascata de todos os servidores do Judiciário e o governo, em estado de penúria, se desespera. Ao final do mês, a presidente vira motivo de chacota depois de um discurso em que “saudou” a mandioca e inventou a “mulher sapiens”.

Veja as frases:
“Nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação e aqui nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos têm a deles. Temos a mandioca (..) Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil”

“Nós somos do gênero humano, da espécie sapiens, somos aqueles que têm a capacidade de jogar, de brincar, porque jogar é isso aqui. O importante não é ganhar e sim celebrar. Isso que é a capacidade humana (…) Nos transformamos em Homo sapiens ou mulheres sapiens”

Julho

A presidente Dilma Rousseff veta o reajuste de servidores no Judiciário.

Agosto

Dirceu é preso na Lava Jato em agosto de 2015 || Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

 

O ex-ministro José Dirceu volta para a cadeia, desta vez por causa da Operação Lava Jato. Dirceu já havia sido preso e cumpria pena por causa do mensalão. O empresariado começa a se dividir diante dos movimentos pelo impeachment da presidente. O banqueiro Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, declara que “o impeachment não tem cabimento”.

Setembro

O ex-deputado André Vargas é condenado a 14 anos e quatro meses de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo juiz Sergio Moro, o protagonista da Operação Lava Jato.

Outubro

PMDB apresenta programa Ponte para o Futuro, em outubro de 2015 || Crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil

A já conturbada relação do PMDB com o PT começa a dar sinais de ter azedado de vez. O partido lança o programa econômico batizado “Uma ponte para o futuro”, um aceno para empresários e grupos favoráveis ao liberalismo econômico.

Novembro

Conselho de Ética da Câmara instaura processo que pode levar à cassação de Eduardo Cunha, presidente da Casa.

A República desmorona. O senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, é preso pela Polícia Federal em mais uma fase da Operação Lava Jato. O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, também é preso. Delcídio é acusado de obstrução da Justiça. Ele foi flagrado em gravação com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que está preso. Na conversa, falam sobre uma eventual fuga de Cerveró e tentativa de pressionar o Supremo Tribunal Federal a conceder um habeas corpus ao ex-funcionário da Petrobras acusado de corrupção.

Dezembro

Eduardo Cunha aceita pedido de impeachment || Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil

Impeachment: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceita o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff depois que o PT decide votar a favor do processo de cassação dele no Conselho de Ética da Casa.

Temer e Dilma || Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

• A Carta: Num gesto inusitado que agrava ainda mais o cenário político, o vice-presidente Michel Temer escreve uma carta-desabafo para a presidente Dilma Rousseff, em que escancara a frágil relação de ambos. A carta vaza. Nela, Temer reclama de cargos não concedidos e deixa clara a postura fisiológica do PMDB. O governo tenta botar panos quentes. O episódio respinga negativamente para os dois lados.

• Rumo à cassação: Conselho de Ética da Câmara aprova a admissibilidade para abrir processo de cassação de Cunha, após quase dois meses de manobras para protelar processo.

• Pá de cal: Procuradoria-Geral da República pede ao Supremo que afaste Eduardo Cunha da presidência da Câmara; caso só será analisado em fevereiro de 2016.

• Ação Suprema: Supremo Tribunal Federal decide que Senado pode barrar processo de impeachment e dá fôlego ao governo.

Levy deixa ministério da Fazenda e Nelson Barbosa assume || Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Queda de ministro: Em um sinal de que o ano parece não querer acabar, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deixa o cargo e é substituído por Nelson Barbosa, até então o titular do Ministério do Planejamento.

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