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David Schurmann é diretor de “Pequeno Segredo”, filme eleito para representar o Brasil na corrida pela categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar || Crédito: Giullia Paulinelli

Não se fala em outra coisa no cinema nacional. Após a escolha de “Pequeno Segredo” em detrimento do ovacionado “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, para representar o Brasil na corrida de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, diversas teorias têm surgido para explicar a decisão. Enquanto alguns falam em represália em torno da manifestação do elenco do filme e de Kleber Mendonça em Cannes, contra o governo de Michel Temer, David Schurmann, diretor de “Pequeno Segredo”, acredita que a escolha foi simplesmente de identificação: “O comitê apostou em um filme diferente desta vez. Nosso filme tem tudo a ver com o Oscar”.

Schurmann ainda disse que achou “Aquarius” maravilhoso, mas que tudo agora no Brasil virou política. “Adoro o Kleber e o cinema dele. Mas Cannes reverbera muito mais com ‘Aquarius’, enquanto ‘Pequeno Segredo’, com toda a humildade, conversa mais com o Oscar”, disse ele ao Glamurama. À entrevista.

Por Denise Meira do Amaral

Glamurama – O filme conta a história de sua irmãzinha, que contraiu HIV e depois foi adotada pelos seus pais… Como teve a ideia de transformar essa história em filme?

David Schurmann – Tenho a ideia desde que meus pais [Heloisa e Vilfredo Schurmann] decidiram adotar a Kat. E a história é comovente. A mãe da Kat, que era amiga de minha mãe, contraiu HIV em uma transfusão de sangue, no fim dos anos 80. Era uma doença nova, imagina. Antes de ela falecer, ela combinou com Robert, seu marido, que se ele ficasse doente iria buscar alguém para cuidar dela. Quando ela tinha três anos, Robert apareceu em um lançamento de livro do meu pai e pediu que eles adotassem a Kat, já que o sonho dele era de que ela pudesse conhecer o mundo. Meus pais decidiram adotá-la. Eles então reuniram a família e disseram que esse iria ser nosso pequeno segredo. Não queriam que a condição de saúde de Kat fosse revelada, porque as pessoas eram muito preconceituosas e queriam que ela crescesse em um ambiente normal. Kat morreu após uma pneumonia, um mês antes de completar 14, e ela teve uma sobrevida que muitas crianças que nasceram no ano dela não tiveram. Ela e minha mãe eram muito apegadas. Foi o momento mais difícil na nossa família, maior que qualquer tempestade nesses mais de 30 anos navegando pelo mundo. É como tirar o sol e os planetas ficam sem órbita.

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Família Schurmann com a pequena Kat, à direita || Crédito: Acervo Pessoal

Glamurama – Seus pais participaram do roteiro do filme?

David Schurmann – Meus pais me deram permissão, mas não quiseram a interferência deles na história.

Glamurama – O que acha sobre a polêmica que se transformou a escolha do seu filme para concorrer a uma vaga no Oscar?

David Schurmann – Sempre falo que cinema é plural. Acho que o comitê decidiu apostar em um filme diferente desta vez. E ele tem tudo a ver com o Oscar. É uma história real, emocionante, fala sobre um universo de criança, de família. Os nove que votaram no comitê votaram conscientes disso.

Glamurama – Você já assistiu “Aquarius”?

David Schurmann – Claro, assisti em Cannes, naquele dia, estava sentado ao lado de Sonia Braga. Bati palmas de pé. O filme é lindo, maravilhoso. Mas uma coisa que está acontecendo é que estão querendo colocar cada um de um lado. Adoro o Kleber, adoro o cinema dele. Mas Cannes reverbera muito mais com “Aquarius”, enquanto “Pequeno Segredo”, com toda a humildade, conversa mais com o Oscar.

Glamurama – O que acha da teoria de que “Aquarius” pode não ter sido eleito por retaliação política?

David Schurmann – Essa pergunta tem de ser feita para as pessoas que votaram. Mas, se olharmos para a comissão, há pessoas que são engajadas politicamente para todos os lados. O presidente do júri, que é o Bruno Barreto, que já fez várias coisas com a Sonia Braga, fala em depoimentos que a escolha não teve nenhum peso político. Ano passado o filme concorrente foi o “Que Horas Ela Volta” e não chegou a lugar algum. Desta vez, vamos mandar o mesmo tipo de filme ou mandar um diferente? Kleber já foi e teve o seu “Som ao Redor” selecionado entre os estrangeiros no Oscar, mas não foi selecionado. Acredito que o comitê está querendo dar espaço para diretores diferentes e filmes diferentes. Acredito que esse foi o critério. O meu filme não foi para Cannes, foi uma retaliação política? Acho que essa discussão desmerece os outros 16 filmes brasileiros que estavam concorrendo. Tudo agora virou política no Brasil. Tudo está inflamado. Mas o cinema é plural. As pessoas estão batendo no nosso filme, tendo preconceito, mas nem assistiram.

Glamurama – Qual é o preconceito que as pessoas estão tendo?

David Schurmann – Ah, de falar que é um filme de sessão da tarde, mas por isso eu digo para elas assistirem primeiro. O filme não tem nada de clichê. Não quero que o meu filme perca o mérito por uma briga política brasileira. Mesmo porque o americano não está preocupado com a nossa política. Ele só quer saber se o filme vai reverberar. A mesmo tempo que muita gente da pequena indústria criticou a escolha, tenho recebido muito apoio e carinho. Porque virou um Fla-Flu ridículo.

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“Pequeno Segredo” foi filmado em Florianópolis, Belém e na Nova Zelândia, onde Kat nasceu, e conta com Marcello Antony, Júlia Lemmertz, Maria Flor e Mariana Goulart – no papel de Kat. Ele estreia em novembro.

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