“Desinformação é o parasita desse século”, diz a pesquisadora de mídias digitais Pollyana Ferrari

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Pesquisadora de mídias sociais e autora de nove livros sobre comunicação digital, entre eles “Como Siar das Bolhas”, Pollyana Ferrari vê uma avalanche de fake news, desinformação e discurso de ódio nos últimos anos, principalmente a partir de 2016, com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. 

“Costumo dizer que a desinformação é o parasita desse século”, diz a também professora de jornalismo na PUC-SP durante live com Joyce Pascowitch. Segundo Pollyana, sempre houve a disseminação de informações falsas com algum interesse, mas o que mudou foi a rapidez com que é compartilhada. 

“A indústria do tabaco nos anos 60 nos Estados Unidos já tinha um lobby que distribuía mentiras. Sempre existiu. O que mudou da eleição do Trump para cá foi a rapidez do compartilhamento. A gente tem bots, algoritmos disseminando, coisa que não havia”, afirma.

Assim como nos lobbies de grandes empresas, a “indústria do fake” também visa o lucro, segundo a professora. Em 2020, afirma, essa indústria fabricou US$ 9 milhões: “Eles ganham muito dinheiro, mais do que fazer bom jornalismo. Uma indústria que manipula eleição, vacina”.

Uma máquina que, afirma a pesquisadora, se aproveita de assuntos sensíveis e da polarização do debate. A pandemia teve o maior número de informações manipuladas da história e nas eleições presidenciais, ela prevê, não deve ser diferente. 

“As pessoas foram ficando nas suas bolhas sem perceber que estão sendo manipuladas. Elas adoram ter uma Alexa em casa, mas não percebem que no caso das redes supostamente gratuitas, a moeda somos nós”, observa. “O Elon Musk não está interessado no Twitter para promover um debate. Ele sabe que é uma empresa que sabe tudo sobre nós”, completa. 

Vantagens

A despeito da avalanche de fake news, Pollyana Ferrari é otimista quanto às vantagens da maior circulação de informação com as redes. Ela aponta um maior alcance de discussões sobre gênero, direitos das mulheres e inclusão da periferia para além da mídia tradicional. 

Por outro lado, a pesquisadora que integra a Rede Nacional de Combate à Desinformação acredita que é preciso alertar a população a pensar mais sobre como consome e compartilha informação e defende medidas mais duras para enquadrar as big techs, que na sua opinião têm feito pouco para combater fake news.

“São ações pontuais. Quanto tempo o Twitter levou para bloquear o Trump? Eles ganham dinheiro com essa situação. É muito marketing e pouca ação. Acredito que [as empresas]  precisam ser multadas, como a indústria da bebida, do tabaco. Quando entrar multa no bolso eles vão começar a pensar.” Assista à integra do papo:

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