Margareth Menezes comemora nesta sexta-feira o início de um momento novo em sua vida. No ano em que completa 30 anos como cantora, ela lança o samba reggae “Todo Mundo Alegre”, de autoria de Peu Meurray, Luizinho do Jêje, Nem Cardoso e Luiz Soares, e que faz uma homenagem ao verão. “É uma música descontraída, um convite a um passeio no fim de tarde. Tem tudo a ver com a alegria e com o espírito do Brasil, levanta o astral”, revela a cantora ao Glamurama.
No clipe de “Todo Mundo Alegre”, que apresentamos abaixo em primeira mão, baianos e turistas aparecem curtindo os principais pontos turísticos de Salvador. Para não cair nos esterótipos, Margareth reflete: “O importante é o sentimento de quem está passando aquela mensagem. Se não for mal colocada ou depreciativa, é bacana porque engrandece a cidade e ajuda a divulgá-la. A visão do artista contemporâneo é cosmopolita, hoje em dia existe a possibilidade de gravar em qualquer lugar do mundo.” E vai além: “Não podemos mais voltar para o nosso umbigo, tempos que cruzar a fronteira e dar as mãos, com amor e paz.”
Uma das grandes intérpretes do país, Margareth, ao lado de Daniela Mercury, é responsável por dois hits da história do Carnaval brasileiro: “Dandalunda” e “Maimbe Danda”, as duas com pegada afro misturada ao samba, assim como tudo o que tem o dedo de Margareth. Desta vez, ela aposta suas fichas na volta do samba reggae e do axé music, este último, segundo ela, graças à novela “Segundo Sol”.
E 2018 tem sido significativo para a cantora, ano que ela avalia como regular: “Foi um período de fortes transformações por um lado, mas também de importantes renovações. Tive muitas mudanças na minha vida, passei por situações pessoais muito fortes: perdi minha mãe e me separei (ela foi casa com o artista plástico Robson Costa por 10 anos). Na área profissional muitos momentos também não foram fáceis, mas estou inaugurando uma nova fase.”
Para enfrentar tudo isso, ela focou em sua arte: “Música é o que eu tenho para fazer, é o que me dá gás, minha mola mestra. Sempre fui eu mesma, o que tenho conquistado nesses 30 anos é retorno do investimento que faço no meu trabalho com perseverança. Além de buscar propostas que possam interagir com o conceito musical afro-pop. É o que faz oxigenar minha carreira.”
Como uma das maiores representantes da cultura afro-brasileira e a serviço da nova geração, ela se contenta com a forma como seu legado tem sido perpetuado pelos artistas jovens. “Tem muita gente boa falando o que é necessário e com muita coragem para enfrentar assuntos que fazem parte da nossa vida, dentro e fora do Brasil. Por mais que a gente lute pela questão da igualdade, ainda é muito difícil fazer com que as pessoas entendam isso. Falta boa vontade em querer enxergar como é a realidade da igualidade. A história que conta o legado do povo africano é muito rasa diante de tudo o que foi feito. É muito duro viver lutando só para provar nossa humanidade”, afirma.
Sobre a urgência em discutir questões raciais, endossa: “Vivemos em uma sociedade que tem essa pluralidade, então tem que haver uma maneira de nos relacionar com isso. Não podemos negar o direito que o outro tem como cidadão só porque ele é diferente de mim, por exemplo. A história da humanidade não começa assim, então a gente precisa abrir mais nossa cabeça e perceber porque temos esse preconceito e nos questionar. Há muito egoísmo em aceitar o diferente.” Para ela, educação é essencial: “O que precisamos mesmo é de educação, é muito difícil ensinar alguém a voar sem ela. Minha esperança para o país está muito concentrada na educação de qualidade e no combate a toda forma de corrupção.”
Já para 2019, as expectativas são altas. “Espero trabalhar com meu projeto novo, autoral e fortalecer o trabalho internacional. E tudo começa no verão, que promete ser 40º: nos dois últimos domingos de janeiro ela se apresenta ao lado de convidados especiais no Mercado Iaô – evento que engloba, além de shows, gastronomia regional, desfile de moda e uma feira de artesanato que reúne peças feitas por mais de 100 artesãos, como adianta a cantora, entusiasta do projeto cultural que chega a sua quarta edição.
Ainda no primeiro mês do próximo ano, ela estreia no Carnaval de rua de São Paulo com show pré-folia. Já a festa oficial na Bahia começa nostálgica. Margareth é a homenageada do bloco “Os Mascarados” trio que comandou há mais de 10 anos. Ela sobe no trio na quinta-feira (28 de fevereiro), no circuito Barra-Ondina, e sem corda. “Eu venho de um movimento de música independente, isso é muito forte no meu trabalho e no meu comportamento diante do Carnaval da Bahia e da música em geral. O trio elétrico foi criado para ser comum a todos. Tem o lugar do bloco, do camarote e do trio sem corda. O povo é a essência da folia.”
Em tempo: Margareth começou no teatro e depois migrou para a música, tendo estourado ainda nos anos 1980 com “Faraó – Divindade do Egito”. Sobre a formação artística rica que a dramaturgia lhe deu, reflete: “O palco é a ferramenta de trabalho do artista, então todos deveriam passar pelo teatro. Ele traz informações sobre espaço cênico preciosas. O teatro amador potencializou muito minha relação com a música.”
*Neste fim de semana a cantora se apresenta na Virada Cultural Paulista em Sorocaba, no interior de São Paulo, e no sábado. Já no domingo, ela estará em Barreiras, também no interior paulistano. (Por Julia Moura)