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Thais Borges
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Michael Klein || Créditos: Roberto Setton

A família Klein fez fortuna na Casas Bahia ao mirar o consumidor de baixa renda. Agora, Michael Klein, presidente do Grupo CB, incorporou outro público a seu portfólio: é dono de uma empresa de táxi aéreo e de uma concessionária de carros de luxo, além de alugar terrenos, galpões, prédios e lojas para bancos, redes varejistas e grandes corporações

Por Paulo Vieira para a revista PODER de junho

A história de Samuel Klein, o carpinteiro polonês que sobreviveu ao campo de concentração nazista para erguer um império comercial em menos de uma geração, é espetacular, daquelas que se prestam mesmo à narrativa mítica e transcendem, em muito, o mundo corporativo. A de Michael Klein, seu primogênito, nascido na Alemanha, em 1950, e que começou a trabalhar na rede varejista do pai, a Casas Bahia, aos 18 anos, é menos dramática, mas também tem proezas, viradas e emoção suficiente para compor uma boa biografia empresarial.

Caso essa história começasse hoje e regredisse, o primeiro capítulo podia tratar de um acerto de contas com o passado. Pois há “sinais” de que Michael teria interesse em adquirir o controle acionário da Via Varejo, que reúne as 650 lojas físicas da Casas Bahia e também as 250 unidades Ponto Frio. Esse controle, hoje na mão do grupo francês Casino, foi perdido quando da fusão, em 2009, da Casas Bahia com o Grupo Pão de Açúcar (GPA), na época comandado por Abilio Diniz, negócio rumoroso que não deixou saudades. Para Michael, os tais sinais são “especulação”, e ele prefere não se pronunciar. O que já é público, anunciado ao mercado no começo de maio, é um memorando que dá conta dos primeiros passos para a integração da Via Varejo com a Cnova Brasil, que controla o comércio eletrônico da Casas Bahia e do Ponto Frio no país.

Mas enquanto a Casas Bahia e os clientes que a tornaram uma potência, oriundos principalmente da outrora tão falada classe C, não caem de novo no colo de Michael, ele transita por regiões mais altas da pirâmide social. À frente do Grupo CB (acrônimo de Capital Brasileiro), ele aluga seis helicópteros e nove jatinhos, como o Citation Jet 3 e o Gulfstream G550, que custa cerca de US$ 40 milhões. A frota fica em dois hangares, um em Sorocaba e outro no Campo de Marte, em São Paulo. “Entre os clientes há pessoas que voavam de primeira classe, mas isso não é mais possível nas companhias aéreas brasileiras”, disse a PODER. A CB Air, divisão “voadora” do grupo, tem aproveitado certa dificuldade de empresas e pessoas físicas na renovação de contratos de leasing das aeronaves. Inspirado na NetJets, do investidor americano Warren Buffett, a empresa de táxi aéreo de Michael também quer compartilhar e cuidar de naves para uso de terceiros.

Há três meses, em Jundiaí (SP), Michael também debutou em outro setor, o de automóveis, ao inaugurar a primeira concessionária Mercedes-Benz de sua CB Motors. Com ela, o empresário imagina, de quebra, conquistar a classe B. “A Mercedes tem um SUV que custa R$ 145 mil”, disse. Na estreia, contudo, celebrou a venda de um AMG C63, carro três vezes mais caro. A Mercedes não tem como política concentrar concessionárias em um único representante, mas Michael pensa chegar a pelo menos quatro lojas. Segundo Roberto Gasparetti, gerente de desenvolvimento de rede da montadora, Michael Klein é um parceiro de longa data – a Casas Bahia tinha a maior frota de caminhões da marca –, com quem os alemães havia tempos namoravam. “Michael tem capacidade de sustentação do negócio, algo que sempre buscamos nos parceiros.” Gasparetti diz que há famílias tradicionais no comando de algumas das 56 concessionárias da marca no Brasil, mas Michael deve ser o sobrenome mais célebre. Apesar do momento econômico, o desempenho da CB Motors tem sido, na opinião do executivo, “absolutamente satisfatório”. A venda do C63 na estreia foi um bom presságio, mas algo “esperado pela emoção do momento”.

Aviões e carros têm seu charme – e valor –, mas representam apenas parte do patrimônio imobiliário do Grupo CB. Com mais de 400 imóveis em seu portfólio e valor estimado de R$ 5 bilhões, geram receita de R$ 400 milhões ao ano. Segundo Michael, seus imóveis são sempre bem localizados, propícios para o comércio. Diz que a ociosidade é pequena – 5%. Considere-se que cerca de 70% deles são alugados para a própria Via Varejo, mas há também bancos, redes varejistas concorrentes – C&A e Grupo Zema, por exemplo – e até Petrobras entre os inquilinos. Embora seu pai jamais tenha vendido produtos da Casas Bahia para o governo – dizia que isso era coisa para a indústria fazer –, Michael não tem pejo em ser senhorio de estatais e de repartições públicas. Tanto capital imobilizado e, portanto, de baixa liquidez, aponta para um investidor de perfil nada agressivo. Ele concorda: “Somos conservadores”.

É difícil imaginar que as rotinas de empresas de real estate, de uma concessionária de automóveis ou de um hangar sejam tão agitadas quanto a inauguração de uma loja da Casas Bahia. Na época do velho Samuel, isso era um acontecimento, com espocar de fogos e farto café da manhã partilhado entre funcionários e clientes, todos loucos para que desse logo nove da manhã para poder entrar. Mas Michael diz que “o prazer é o mesmo”. Ele sabe onde ficam unidades da Casas Bahia só pelo número – o repórter fez o teste: escolheu por acaso a 84 e ele falou de bate-pronto: “Sorocaba, rua Álvaro Soares” –, mas parece estar suficientemente feliz com a placidez de seus novos ambientes elitistas. Com efeito, uma frase que o empresário disse durante esta entrevista poderia se tornar seu bordão: “Eu transito bem em todas as classes”.

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Michael Klein ||Créditos: Roberto Setton

CONFIANÇA E CANDIDEZ
Seja como for, se prosperarem as conversas com os franceses do Casino do começo da história, um lance e tanto para retocar a trajetória dos Klein pode estar a caminho. Nessa história, 2009, o ano da fusão da Casas Bahia com o GPA, é o ano aziago. O acordo, assinado a toque de caixa e celebrado com o auxílio de um único advogado a representar as duas partes, foi contestado em poucos meses pelos Klein e precisou ser refeito. Além disso, cerca de R$ 700 milhões também tiveram de ser postos na mesa por Abilio Diniz, cuja família se tornava controladora. Para o decano Samuel, que dizia que “ter sócio é ter patrão”, ficou a imagem de titubeante. Para o filho, a lição tirada é que “as palavras voam, mas o que está escrito é perpétuo”. A frase é de uma candidez inimaginável quando se pensa na estatura e no patrimônio bilionário do empresário que a profere. Quem, em um negócio dessa envergadura, iria se fiar no bigode? Mas, aos 65 anos, Michael é um homem que parece ter herdado do pai certa simplicidade e, talvez, uma inaudita confiança no interlocutor.

Confiança, afinal, sempre foi o fermento da Casas Bahia. A varejista é tida como responsável por introduzir o microcrédito no Brasil, e muito disso se deve a uma análise de risco heterodoxa. Segundo Michael, seu pai instruía seus gerentes a emitir o carnê mesmo para quem estivesse com o nome sujo, desde que o interessado trabalhasse. Era uma evolução da inspeção manual dos primórdios. Caso a mão do comprador fosse calejada, poderia comprar a perder de vista. Klein teve tempo para aprender a técnica, pois trabalhou mais de quatro décadas com o pai. Mas sua área de atuação era a financeira, e sua grande contribuição foi vender letras de câmbio pelo Brasil – origem dos recursos que alavancaram o crédito para o consumidor nas lojas.

Os tempos mudaram, e hoje não faz sentido contar calos das mãos dos clientes. Mesmo que 2016 siga o preocupante padrão de retração de consumo dos últimos anos, seriam muitas mãos a examinar. No balanço de 2015 do Casino, divulgado em março passado, as vendas de eletroeletrônicos na América Latina – responsabilidade da Casas Bahia e do Ponto Frio – despencaram 28%. Em junho de 2015, as ações ON da Via Varejo eram negociadas na Bovespa por R$ 7. No fechamento desta edição seu valor era R$ 2,60.

A queda do valor acionário da Via Varejo não é, todavia, algo para se cortar os pulsos. Dono de 27,4% das ações da empresa, bastaria a Michael conseguir mais 16% dos papéis em circulação, agora mais baratos, para superar o quinhão do Casino. E há quase o dobro disso pulverizado no mercado. Mas acordos de acionistas são complexos, e esse novo patamar, caso atingido, não significa o desejado controle. A melhor saída para a operação não depende só de vontade e de dinheiro – é preciso primeiro combinar com os franceses.

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Alguns dos objetos que decoram a sala de Michael Klein no prédio da CB, em São Caetano do Sul, no mesmo local da primeira Casas Bahia: maquete que mostra a então Casa Bahia (no singular), comprada por Samuel Klein em 1957, e a edição pesada e luxuosa de um livro sobre o Corinthians || Créditos: Roberto Setton

TRADIÇÃO E PROPRIEDADE 
Imóveis são o grande ativo do Grupo CB, constituindo patrimônio estimado em R$ 5 bilhões, mas não houve, a julgar pelo relato de Michael Klein a PODER, uma estratégia minuciosamente urdida para a consolidação disso. “Ia sobrando dinheiro no ano e meu pai comprava um terreno, um imóvel”, diz. O grande inquilino é a Casas Bahia, mas há também redes varejistas concorrentes que pagam aluguel à CB. Uma delas é a Zema, potentado das cidades muito pequenas do interior, principalmente do sudeste. Para Romeu Zema, CEO do Grupo Zema, “Michael deu grande impulso ao negócio da família (Casas Bahia), que vendeu, tudo indica, no momento certo”. Michael Klein diz que costuma negociar quando a situação fica crítica para o lado do inquilino. Ele sabe que imóvel ocioso significa dinheiro perdido, pois há valores muito significativos de IPTU e taxas condominiais incidindo sobre seu patrimônio. Mesmo assim, que não se espere uma virada do empresário para investimentos menos conservadores. “Desde 1957, ano da fundação da Casas Bahia, já houve de tudo na economia brasileira: troca de moeda, congelamento de poupança, aumento de tributação. Para mim, a única coisa segura nesses quase 60 anos foi o investimento em propriedades”, diz.

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