Deliciosamente imprópria, Monique Evans fala o que vem à cabeça sobre Carnaval, topless, reality shows, homens, estupros e também de autobiografia. sempre acompanhada de sua mais nova amiga, a DJ Cacá Werneck…
Por Paulo Sampaio para revista Joyce Pascowitch de fevereiro
O empresário Oswald Evans foi assassinado muito jovem, em circunstâncias nebulosas, mas isso não tem nada a ver com a sobrevivência de seu sobrenome. A longevidade do “Evans” se deve ao extraordinário talento da viúva, Monique Rezende Nery da Fonseca, de se expor publicamente. Na época da tragédia, ela tinha 19 anos e era modelo. Dali em diante, fez de tudo na vida, como se não houvesse amanhã. A beleza estonteante, em Monique, sempre esteve associada à imprudência. Aos 22, teve um filho com o “homem mais bonito do Brasil”, Pedrinho Aguinaga, eleito no programa de auditório de Flávio Cavalcanti. Na sequência, foi jurada do Chacrinha, fez participações em novelas, embelezou humorísticos, virou musa gay, posou três vezes para a revista “Playboy”, casou-se mais duas vezes, teve uma filha, Bárbara, 23 anos, com quem mantém uma relação conflituosa, apresentou um programa alternativo de TV – no qual recebia os convidados deitada em uma cama e falava sobre sexo – e participou de um reality show.
Porém, para o público frequentador do sambódromo carioca, Monique Evans será sempre a mais cintilante rainha de bateria de todos os tempos. A convite do carnavalesco da Mocidade Independente de Padre Miguel, Fernando Pinto, ela foi a primeira celebridade a assumir o posto, em 1984. Até então, a “musa” era escolhida entre senhoras da comunidade e se vestia no mais absoluto recato. Pois logo na estreia, Monique perdeu o adereço que cobria seus seios e teve de pintar algo por cima na última hora, para que a escola não corresse o risco de ser desclassificada. No estilão autoindulgente de sempre, ela apareceu com uma sandália inadequada (“nem sabia que tinha uma especial só para sambar”) e recebeu críticas por ter esquecido a letra do samba (“eu não fazia ideia, estava ali para brincar”). Mesmo assim, brilhou na avenida por quase 20 anos. O carnavalesco Chico Spinosa, que a levou da Mocidade para a Estácio de Sá, em 1992, quando a escola venceu, lembra: “Ela era genial, a primeira mulher a fazer esse espaço em frente a bateria ficar grande”. “Ficava nua sem jamais ficar vulgar”, completa. Em 2014, depois de um longo afastamento, ela voltou como uma espécie de convidada de honra da Mocidade. Este ano, abre de novo o desfile da escola.
SÓ SE FOR NA PRAIA
“Não”, responde Monique Evans, atualmente desempregada. “Eu não me arrependo de ter falado tudo o que penso e feito tudo o que quis na vida.” Nos anos 1980, quando era a mulher mais linda do Rio, desprezou deliberadamente muitas oportunidades que os marqueteiros de hoje considerariam imperdíveis. Ela lembra: “Às vezes, o povo das revistas ia atrás de mim na praia, porque já sabia que eu não ia sair dali por nada. Eles levavam a produção, eu trocava o biquíni no mar, saía de cabelo molhado e me fotografavam assim, sem nenhuma maquiagem. Tem umas três capas de revista dessas, pode procurar”. Ela não mantém um acervo. Faz questão de dizer, aliás, que não dava a mínima para nada daquilo. Estava ali apenas para se divertir.
Frequentado há 30 anos pelos gays, o trecho da praia em que ela posava para as capas das revistas fica entre as ruas Farme de Amoedo e Teixeira de Mello, em Ipanema. Era o único pedaço em que podia tomar sol de topless, sem ser importunada. Muito à vontade, sempre às gargalhadas, ela se esbaldava reproduzindo o modelo das “bichas pintosas”. Seu companheiro de ferveção era o bailarino e coreógrafo Zé Reinaldo. Os dois se jogavam de dia na praia, e à noite nas pistas de dança. Ele conta: “Lembro de uma vez em que eu descolori todos os pelos do corpo dela, ali mesmo, na praia. No outro dia, saiu uma foto imensa no jornal O Globo”.
No Hippopotamus, a chegada deles era sempre um acontecimento: “As pessoas diziam: ‘Ela chegou!’”, lembra Monique. Convidado a fazer shows em Ibiza, a ilha espanhola onde as baladas nunca têm fim, Zé Reinaldo recebeu a amiga algumas vezes para temporadas al mare. Em uma delas, a visitante venceu um concurso de beleza na maior boate do lugar. Ele lembra: “Mesmo não sendo mais uma garotinha, a Monique ganhou de meninas de 16, 17 anos. Até o (Roman) Polanski veio cumprimentá-la”.
Um dia, no auge do atrevimento, Monique desafiou os limites da própria beleza e cortou o cabelo estilo joãozinho. O que poderia resultar num desastre só fez ressaltar ainda mais a perfeição de seus traços. Àquela altura, seu filho, Armando Aguinaga, hoje com 36 anos e uma filha de 5, já estava bem grandinho. “Na escola, todo mundo sempre me respeitou, nunca teve brincadeira de mau gosto (quando ela era capa da “Playboy” ou saía seminua no Carnaval)”, diz ele. Pedrinho Aguinaga não chegou a ser um relacionamento sério. Além de Oswald Evans, Monique foi casada durante oito anos com os empresários José Clark, pai de sua filha, Bárbara, e Guga Sander, com quem ficou quatro anos. Namorou Rômulo Arantes, o pai, e muitos outros bonitões. “Teve feios também”, diz. “Só não teve rico!”, gargalha. E por que não?
Subitamente animada, ela conta a história da “única vez” em que aceitou o convite para sair com um milionário. “Foi um horror. Ele me levou para jantar e, depois, tentou me agarrar no carro. Eu disse: ‘Gente, eu pensei que você fosse viado. Abre já essa porta’.’’ Apesar da imagem de escandalosa, inconsequente e de alguém que vivia basicamente de explorar a própria beleza, ela diz que nunca a tomaram por “burra” (uma queixa recorrente das lindas). “Burra? Não. Piranha, sim!”, dispara. Zé Reinaldo diz que “nada a irritava mais do que ser confundida com vagabunda”. Monique assume uma expressão séria ao contar que foi estuprada “algumas vezes”… Não quis contar os detalhes porque, segundo ela, vão constar de uma biografia que está escrevendo.
PERSONALIDADE BORDERLINE
No dia da entrevista para J.P, ela fala com a voz de garotinha de sempre, mas em um ritmo ligeiramente mais lento. Explica que toma uma medicação para combater o transtorno de personalidade borderline (algo entre a neurose e a psicose), distúrbio que a levou a se internar por três meses em uma clínica psiquiátrica, depois de dois anos de depressão. Teve alta em 2013. Diz que é deprimida “desde a infância”, mas que a crise desta vez foi deflagrada pelo reality show A Fazenda, do qual participou em 2011. Ficou em segundo lugar: “Você sai dali com um machucadinho que só quem esteve lá dentro sabe. Eu fiquei biruta”. Ainda assim, ela se diz “viciada” no reality da Globo, Big Brother Brasil, do tipo que paga pay-per-view para assistir ao programa 24 horas por dia.
Para aplacar suas crises de autoestima (que jura ser muitas, e desde a infância), Monique agora tem uma amiga inseparável, a DJ Cacá Werneck, 30 anos, assumidamente lésbica, que a acompanhou na sessão de fotos. Ao entrar no carro da reportagem para seguir para o ensaio, as duas formavam uma dupla ímpar. Monique, 58 anos, 1,75 metro de altura, 68 quilos, vestia uma blusa estampadona, jeans rasgados no joelho e sandálias com salto anabela. Megahair loiro amarelado, franja. Cacá, mais mignon, usava regata branca, shortão boxer de cetim preto e botas Dr. Martens. Explicou que sua especialidade é progressive house.
Durante a entrevista, Monique assumiu uma postura distante, enquanto Cacá a monitorava, com uma expressão de embevecimento. Será que está apaixonada? Ela leva alguns segundos para responder. “Sou apaixonada pela Monique como pessoa. Admiro muito essa coisa da beleza da mulher. Mas, sem sex-appeal, uma mulher não me atrai. A Monique tem isso.” Cacá contou que as duas se uniram no infortúnio. Assim como a amiga, ela também participou de A Fazenda e saiu do reality deprimida.
Aparentemente, Monique se orgulha do currículo polêmico. Ao falar da temporada em que apresentou o programa de sexo Noite Afora, na RedeTV!, época em que vivia em Alphaville – o condomínio próximo a São Paulo –, diz que o comportamento dissimulado da vizinhança a deixava “chocada”. “Eu era a louca que falava de sexo na TV, mas na prática aquele povo dava de dez em mim. Precisava ver a hipocrisia. Aquelas mulheres casadas, chiquérrimas, todas saindo com os amiguinhos das filhas; e os maridos delas, os executivos de pastinha, carro importado, cheios de amantes.” Pelo seu relato, quem diria, no fim das contas a “careta” é ela. O mundo gira, Monique.
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