Nos bastidores da Globo rola o maior burburinho a respeito de “Popstar”, o reality musical da emissora com famosos. São muitos os artistas querendo participar do programa, que deu início à sua segunda temporada nesse domingo. Entre os participantes desta edição está Mouhamed Harfouch, ou Mamed para os íntimos. O ator tem 20 anos de carreira, é global há 11, e ganha no reality destaque único. Mas, isso é só o começo. Com descendência Síria, o ator se prepara para interpretar um refugiado que promete muita comoção na próxima novela das 18h, “Órfãos da Terra”, da Globo, que começa a gravar no início de 2019.
Apoiado a soltar o gogó em canal aberto pelos amigos Lúcio Mario Filho, Thiago Fragoso e Fabiana Karla, integrantes da primeira temporada, ele confessa que, apesar de ter aceito o convite na hora, achava que não teria coragem de cantar sob pressão e para milhões de pessoas. “Os projetos em que mais evolui como artista e como pessoa foram os mais desafiadores, por isso sabia que tinha que embarcar nessa aventura”, falou ao Glamurama o pai de Bento, 1 ano e Ana Flor, 6.
DO CHUVEIRO AO PALCO
Apesar de compor a vida toda, nunca se viu cantor. Mouhamed cantava apenas pela necessidade de interpretar as músicas de sua autoria. O primeiro contato profissional com esse universo aconteceu no musical da Broadway “Tudo ou Nada”, e agora no “Popstar”. O ator ainda revela que o suporte que tem recebido da Globo é realmente digno de um… popstar. “Me sinto na Disney, como uma criança. A equipe é sensacional, temos preparadora e produtores musicais excelentes, é fantástico!” A rotina atual inclui aulas de violão, canto e sessões de fonoaudiólogo. “Faz dois meses que minha vida é só preparação. Recusei vários trabalhos no teatro para me dedicar ao projeto em tempo integral. Amo fazer parte dele.”
DESAFIADO E DESAFINADO
“Com o musical ‘Tudo ou Nada’ fui muito desafiado. Sempre me achei desafinado e até pensei em pular fora quando veio o convite, mas resolvi encarar e fui muito recompensado. Uma produção dessas exige preparo de atleta, e desde então mudei a minha vida incluindo a forma de falar. No canto é preciso conhecer sua ressonância e quando passei a jogá-la mais para o nariz, baixando a laringe, tudo melhorou. Ela não fica mais desgastada no decorrer do dia como antes. Cantar é uma ciência e o “Popstar” me coloca de novo em posição de desafio. Estou ali para ganhar de mim mesmo.”
ESTREIA
“Quando subi no palco para cantar ‘Beautiful Day’ [assista aqui] as primeiras pessoas que vi foram minha filha e minha mulher. Minha voz travou e comecei a me emocionar. ‘Não posso chorar agora’, pensei, parei de olhar para elas e comecei a cantar. O começo foi muito difícil, estava com a voz embargada e com o olho lacrimejando, até que olhei para Ana Flor, minha filha, e apontei para ela. Muita gente tem me parado na rua para comentar sobre esse momento, foi emocionante. O genial do programa é que ele toca o coração dos telespectadores e mostra que qualquer pessoa pode se aventurar na cantoria. Nesse momento estamos precisando de música, de alegria, de amor, de afeto. O país está muito polarizado e as pessoas muito radicais.” Ele, que é fã de rock’n’roll, adianta que vai trazer o estilo musical em suas próximas apresentações no programa.
O EMPURRÃO DAS ORIGENS
Mouhamed Harfouch é filho de pai sírio que veio para o Brasil fugido de uma guerra, aos 17 anos, em busca de melhores oportunidades. “Ele chegou aqui sem falar português, com pouco dinheiro e começou a tentar a vida. Vendeu frutas no começo e, com muito trabalho e ajuda de algumas pessoas, foi se virando até que conheceu minha mãe e se tornou corretor de imóveis, que era a profissão do pai dela. Ele é muito guerreiro, aprendeu a língua na marra.” Apesar do pai ser muçulmano, o ator é católico e se considera um cara totalmente ocidental – inclusive nunca visitou a Síria -, mas reconhece que sua origem árabe não só o ajudou a conquistar muitos papéis como foi a porta de entrada na Globo.
ENFIM, GLOBAL
“Confesso que sofri muito por causa do meu nome, principalmente quando era criança e as pessoas não sabiam pronunciá-lo no colégio, mas também devo muito a ele. Foi meu passaporte para a Globo. Já trabalhava há anos como ator e não conseguia entrar lá até que, um belo dia, eles precisavam de um ator que falasse árabe e, quando viram meu nome no cadastro, me ligaram. Eu não falo árabe, mas consegui o papel. Com os anos, aprendi que ele me individualizou.” Sem medo de estigma, o ator vê os papéis com ascendência árabe que interpretou como o árabe Housseim de “Pé na jaca” (2007), como forma de homenagear sua família e se reconectar com a cultura. “Os personagens árabes me aproximaram muito mais da cultura”, completou.
ÁRABES NA TV BRASILEIRA
“O árabe é muito bem retratado na dramaturgia brasileira, sempre alegre e carinhoso. É um povo que tem a cultura de trabalho e comércio muito importante. O cuidado que tem que ser tomado é fugir de estereótipos e da massificação porque estamos falando de pessoas que deixam suas raízes para trás e que querem ver seus filhos e netos crescerem de maneira honesta. Temos que valorizar a qualidade dessa cultura também.”
REFUGIADOS NO BRASIL
“O Brasil é um país caloroso, que abraça a todos e aprende com sua diversidade transformando isso em um DNA único. Essa é a nossa maior riqueza, por isso temos que tomar cuidado para que a intolerância dos dias de hoje não abalem isso. Não tenho um ‘A’ pra reclamar. Meu pai se considera um brasileiro apaixonado e é isso. Ele 17 irmãos, então imagine quantos tios e primos eu tenho na Síria. Dois primos meus vieram recentemente ao Brasil para tentar a vida e estão bem. Meus familiares vivem em Tartus e a guerra não chegou exatamente lá. Mantemos contato com eles por telefone e Whats App.”
“ÓRFÃOS DA TERRA”
Em janeiro, ele dá início às gravações de “Órfãos da Terra”, novela das 18h de Thelma Guedes e Duca Rachid que vai ao ar após “Espelho da Vida”. Na trama, que tratará a questão dos refugiados sírios no Brasil sob um aspecto positivo, de superação, o ator terá papel de destaque. Meu personagem vai viver uma história linda de amor em que será preciso respeitar as diversidades”, adianta. Sobre a relevância de trazer o tema à tona hoje em dia, completa: “É um problema mundial e a novela pode ajudar a tirar o estigma, fazer com que a gente repare nessas pessoas, olhe individualmente para essa história e dedique momentos de reflexão sobre isso. A novela vem com muita inteligência, sensibilidade e afeto, trazendo essa trama de amor universal.”
PRÓXIMOS CAPÍTULOS
Sem parar, também em janeiro, ele estreia o longa “Uma Pitada de Sorte”, em que interpreta um taxista machão que só dirigi ouvindo Mozart e faz par romântico com Fabiana Karla, além de estar escalado para mais dois espetáculos: o musical da Broadway “A Little Night Music”, de Stephen Sondheim, que chega pela primeira vez ao Brasil com montagem de Tadeu Aguiar, e para a peça “Quando eu for mãe, eu quero amar desse jeito”, de Eduardo Becker. (Por Julia Moura)