Daniela Mercury relembra primeiro show em SP: “a partir daí tudo começou a rolar”

Daniela Mercury || Créditos: Celia Santos

Daniela Mercury, a rainha do axé, se apresenta neste sábado em São Paulo, em um espetáculo no palco do Anhembi durante a Virada Cultural. Vale lembrar, que a Rainha Má fez a cidade tremer no dia 5 de março deste ano com sua pipoca que reuniu cerca de 500 mil foliões nos arredores da Consolação. Considerada a artista que mais fez shows para o grande público no mundo e porta-voz de suas lutas sociais, Daniela falou com o Glamurama sobre assuntos que permeiam sua arte, assim como seus papéis na vida pessoal e profissional.

Por Julia Moura

Glamurama: Dos grandes artistas nacionais, você é a que mais se apresenta gratuitamente. O que a leva a isso?
Daniela Mercury: “Eu sou tropicalista, canibalista, artista.. Sou muito capitalista, mas meu capital é humano, é artístico, filosófico… São as gerações humanas. Sou humanista. O ser humano vale muito mais do que grana. A minha arte é pra gerar mais arte, proporcionar experiências humanas maravilhosas, rodar o mundo – fazer espetáculos cada vez mais bonitos – fortalecer meu povo em um momento em que esta descrente de si mesmo. Arte é alimento pra mim e para os outros, então é isso o que me interessa.”

Glamurama: O que você acha do axé produzido atualmente?
Daniela Mercury: “São muitos axé e cada um é cada um. O axé é um discurso que foi construído por mim também. Seus objetivos, mensagens e discursos… O axé é um gênero de ritmos, pra dançar. Um gênero relacionado ao Carnaval. Tem artistas que fazem um axé mais romântico, outros são mais poéticos, outros menos… O axé cumpre sua função!

Glamurama: Seu axé é muito politizado. Como ele tomou este rumo?
Daniela Mercury: “Talvez eu tenha sido a artista que mais já falou sobre racismo no Brasil. Porque eu amo a relação com o samba e porque o discurso me interessava. Era a minha bandeira de baiana. Sempre foi. Tem a ver com o meu DNA. Sou uma pacifista, humanista… Faço isso porque faz parte da minha personalidade. Sou filha de italianos e portugueses, foi a arte que me deu o sentido de ser baiana. Fiquei mais negra culturalmente na minha arte pra ser a baiana que eu não conseguia ser dentro de casa. Me tornei mais baiana do que os baianos, mais negra que os negros.”

Glamurama: Você já pensou em deixar o Carnaval de Salvador?
Daniela Mercury: “Eu faço o meu Carnaval, né? Eu trouxe muito a minha personalidade, construí minha música dentro do contexto de Carnaval mesmo que não seja tão carnavalesca. Faço intervenções dramáticas e contrastantes com o Carnaval. Tenho usado o Carnaval como espaço de intervenção artística. Adoro a festa porque posso lidar com a multidão. Nada é estranho no Carnaval, vou fazer muitos mas sempre do meu jeito!”

Glamurama: Qual foi o momento mais emocionante de sua carreira?
Daniela Mercury: “Cada momento em que a vida é uma surpresa pra mim. Mais recente foi o Carnaval de São Paulo deste ano, um retorno de todos esses anos de carreira. Foi inesquecível pra mim, espetacular. Foram mais de 500 mil pessoas, a Consolação e av. Paulista estavam repletas.”

Glamurama: Por que São Paulo toca tanto você?
Daniela Mercury: “A minha carreira se fez brasileira em São Paulo, com aquele chão do MASP. Vim pra São Paulo pra participar de um festival bem menor que aconteceu lá em maio de 1992. Quando cheguei lá, reuni mais de 30 mil pessoas e estava sacudindo as obras do MASP.” (Risos) “No dia seguinte eu estava em todas as páginas dos jornais do dia seguinte e a partir daí tudo começou a rolar…”

Glamurama: Com quem e onde você ainda sonha em cantar?
Daniela Mercury:
“Adoraria tocar com João Gilberto e Rita Lee.”

Glamurama: Qual é a sua relação com a Rita Lee?
Daniela Mercury: “Já encontrei com ela umas 3 ou 4 vezes. Chamei ela alguns anos atrás pra cantar comigo em um Carnaval, ela adorou a ideia mas estava em retiro. Agora gravei “Mutante” pra homenageá-la.”

Glamurama: O que poucas pessoas sabem sobre você?
Daniela Mercury: “Sempre fui dona de tudo meu. Sempre trabalhei como empresária do meu trabalho. Decido tudo de minha carreira junto com meus empresários. Sempre tive autonomia artística. Trabalho muito, e desenvolvi um modelo de trabalho porque no início da minha carreira não havia know-how pra grandes artistas. Fiz meu próprio escritório.

Glamurama: Quantos funcionários você tem? 
Daniela Mercury: “Contando comigo e com Malu, que é minha empresária, somos em oito. Em temporadas a equipe aumenta.”

Glamurama: O que você faz em seu tempo livre?
Daniela Mercury: “Eu e Malu temos muitos interesses em comum. Assistimos muitos filmes e séries – estamos viciadas em ‘Scandal’. A gente adora tirar uns dias de folga pra passear com as crianças… fomos pra Disney e sempre que dá levamos as crianças pra viagens de trabalho conosco. Adoramos passear de barco, sair com os amigos, ir ao cinema, andar de bicicleta pelo condomínio e, quando dá, pela orla da praia. E temos feito muitos saraus em casa com os amigos.”

Glamurama: No dia a dia, como você se cuida? 
Daniela Mercury: “Faço pilates, power yoga, exercício de forma – mas esse não faço muito porque não gosto de ficar com massa porque sou bailarina. só pra manter a força. Gosto muito de me movimentar. Também faço muita dieta. Toda vez que tinha espetáculo eu fazia jejum, às vezes uma semana comendo só proteína – e pouca. Fazia muito jejum muito antes de se falar em jejum intermitente. Quando necessário faço dietas bem impactantes.”

Glamurama: Frase da vida:
Daniela Mercury: “Saudade de morar lá em casa ainda que eu more lá” e “Que o celular seja um espelho, e não um lugar pra inventar quem não somos.”

Glamurama: Como é a vida de casada com a Malu?
Daniela Mercury: “Descobri que casar com mulher melhorou muito a minha qualidade de vida, porque tudo o que ela faz eu gosto. Mulheres não são diferentes. Nunca tinha deixado alguém se meter tanto na minha vida por amor, tinha medo. É um hábito das relações entre héteros. Desde menina sou feminista. As meninas começam a vida com quilômetros de vantagem. Minha proposta é: vamos começar do mesmo ponto?”

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