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Dan Stulbach || Créditos: Juliana Rezende

Na semana em que “A Força do Querer” quebrou novo record ao se tornar a novela mais vista desde “Avenida Brasil”, Glamurama conversou com Dan Stulbach que, na trama de Gloria Perez, vive o advogado Eugênio, um cara cheio de conflitos no casamento e com a filha trans. Vale lembrar que, para se preparar para este papel o ator produziu, por conta própria, uma série de entrevistas com transgêneros que, meses depois, acabou divulgando em sua página do Facebook: “Transversais”. Com a história entrando na reta final –  o último capítulo será exibido no dia 20 de outubro -,  Glamurama conversou com o Dan que, apesar de achar que novelas em geral são mais emocionante que a vida real, deixou claro ao fim do papo que ele é muito mais interessante que a ficção.

Glamurama: Você dá muitos palpites sobre seu personagem?
Dan Stulbach:“Dou muitos palpites, mas não para a autora. Sempre falo: ‘o futuro a Gloria pertence’. Dou palpites na hora da gravação, sempre tenho ideias do que a gente pode fazer pra tirar o melhor de cada cena e bato uma bola boa com os atores e equipe.”

Glamurama: Em que você, Dan Stulbach, se parece com o Eugênio? E o que não tem nada a ver?
Dan Stulbach: “Acho que nossa maior semelhança é ter o prazer de ouvir. Eu quis compor o Eugênio em outro tempo, em que ele ouvisse mais. Que ele prestasse muita atenção e tivesse um tempo pra responder. Isso é uma coisa em que a gente é parecido. Eu gosto mais de ouvir do que de falar. E no que a gente não tem muito a ver é que o Eugênio demora muito pra realizar as coisas. Eu decidi ser ator logo e fui buscar isso muito cedo na minha vida, com 19 anos. O Eugênio é mais devagar e indeciso do que eu.”

Glamurama: Como você acha que um casal pode superar uma traição como a de Eugênio a Joyce?
Dan Stulbach: “Talvez a única coisa boa de uma traição é que ela leva ao diálogo. Não exatamente ao diálogo, mas faz com que as coisas sejam ditas. Claro que em um primeiro instante com ódio e raiva, mas depois leva o casal a uma reflexão. Dos erros cometidos, de novas possibilidades, de um eventual recomeço… E quando você decide recomeçar, você sempre recomeça diferente. As vezes penso que o relacionamento ideal deveria ter prazo de validade: ‘Olha, a gente começa agora e termina daqui um ano. Quando der um ano terminamos e decidimos se queremos continuar ou não.’ Pra que esses recomeços existam e para que os diálogos existam. A novela fala muito disso. Diálogo é o que é. O mais importante disso tudo.”

Eugênio e Joyce em “A Força do Querer” Créditos: Divulgação Rede Globo

Glamurama: Qual vida anda mais emocionante atualmente: a sua ou a de Eugênio?
Dan Stulbach: “A do Eugênio, disparado. A minha vida eu divido entre São Paulo e Rio, e no Rio eu gravo o tempo inteiro. É uma vida maravilhosa, emocionante no sentido do encontro que eu tenho com os atores e a experiência que eu tenho com a novela, a qual deve-se agradecer o tempo inteiro. Em São Paulo, faço teatro os finais de semana com uma peça que eu adoro e que acredito, ou seja, estou tendo uma vida muito próxima à aquela que eu sonhei quando decidi ser ator. Mas a do Eugênio é ainda mais movimentada. Em geral as vidas dos personagens são mais intensas do que as nossas. Ou pelo menos mais bem escritas, porque um personagem sempre sabe o que dizer.”

Glamurama: O modelo de família perfeita de Eugênio e Joyce sofreu um abalo muito grande, e de uma hora pra outra. Você acha que há alguma forma das famílias se prepararem para enfrentar situações difíceis? 
Dan Stulbach: “Sem dúvida, até porque não existe família perfeita. Isso é um ideal, ideal que todos têm quando formam uma família, a seu modo, mas tudo muda. Os filhos têm opiniões e felicidades próprias e não devem ser uma projeção da felicidade ou da infelicidade, da frustração ou do sucesso dos pais. Pessoas são diferentes. Gosto da ideia de que o conceito de perfeição seja derrubado, porque acho que isso não existe. O melhor preparo pra enfrentar situações como essas é o diálogo. O diálogo é o antídoto da traição, da estagnação, do caricato, da acomodação, o diálogo é o segredo pra tudo. E que as pessoas continuem sendo elas mesmas. Uma coisa muito comum num relacionamento é quando você se apaixona por alguém e quer fazer dela o que ela não é, e acabam se tornando pessoas que nunca foram.”

Glamurama: Sobre a série “Transversal”, como tem sido o feedback do público?
Dan Stulbach: “Maravilhoso. A participação das pessoas e os comentários dão razão e sentido às redes sociais. É muito legal poder dizer algo, me conectar com as pessoas através disso e compartilhar o aprendizado que eu tive com essas entrevistas. Foi muito bom e me ajudou naturalmente no papel, para dar o devido respeito à questão.”

Glamurama: Você pensa em torná-la algo maior?
Dan Stulbach: “Não. Fiz as entrevistas antes da novela começar, foi ideia de um amigo filmá-las. Gravei com a ideia de um dia colocá-las na rede social e acabou por aí. Ou não. Mas, não sei. Acabou, eu acho.”

Glamurama: Hoje, como você encara a transexualidade?
Dan Stulbach: “Encaro como algo real, uma questão importante que agora ganhou mais visibilidade. Naturalmente a novela não consegue ser complexa o suficiente para mostrar todos os lados da questão, mas acho que abre uma janela, coloca uma lente de aumento nessa questão. E o preconceito é filho da ignorância. Então, é bom que se fale, que se concorde, que se discuta, que se celebre, mas como um assunto que agora faz mais parte do dia a dia das pessoas em geral. Para ser moderna, a sociedade tem que abraçar todas as questões. E as questões da sexualidade são importantíssimas e têm que ser aceitas como todas as outras.”

Glamurama: Se estivesse na pele de Eugênio, como reagiria a um filho transexual?
Dan Stulbach: “A tendência é que eu te responda querendo parecer ser mais perfeito do que sou, falando que eu aceitaria tudo, que estaria tudo bem… Mas a gente nunca sabe. Deixando de lado essa bobeira de querer parecer melhor do que você é, acho que sou uma pessoa que está em constante mutação, sempre interessado no respeito à felicidade do outro… e a felicidade do outro não me incomoda em nada. Acho que posso responder com tranquilidade que faria de tudo pra aceitar, aceitaria, e se por acaso houvesse uma questão, trabalharia essa questão comigo mesmo. Acredito que ter passado por tudo isso como Eugênio, valeu como um bom estágio.”

Glamurama: Como pai, qual conselho você dá aos pais que estão na situação de Eugênio?
Dan Stulbach: “É preciso buscar entender seu filho. Entender que a felicidade do outro não é a sua e que todo mundo tem o direito de ser quem é, ter sua identidade e ser feliz à sua maneira. Olhar, ouvir, dialogar, não ficar preso a uma certeza. Certezas não são fatos, são emoções. Portanto, são passíveis de mudanças. É preciso deixar-se mudar porque a vida é curta. E tudo passa. ‘A vida é uma sombra que passa’, já dizia William Shakespeare.” (Por Julia Moura)

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